domingo, 2 de março de 2014

02/03/2014 - Somos Todos Influentes - Não Tomar Partido é Compactuar

(Escrito em 24/03/2013)

É unânime que uma das maiores tragédias que aconteceu no Planeta Terra foi o Holocausto, mas nossa indignação histórica surge com o passar dos anos, quando refletimos e percebemos o que deu errado no comportamento de alguns que seguiam pensamentos de superioridade e exploravam, aprisionavam e matavam quem fosse diferente, claro, existem aqueles que negam o Holocausto, mas não acho que alguns muitos túmulos negariam; de qualquer forma outras são as vergonhas históricas, quase todas dizem respeito da incapacidade do ser humano (principalmente quando sobe ao poder) de lidar com o diferente; outra catástrofe foi a escravidão, até hoje afrodescendentes sofrem certo preconceito camuflado, porque, se há nossa conquista pelo direito humano, muitos aceitam tais direitos, mas não concordam e continuam se achando superiores e agindo como se fossem superiores aos negros, de qualquer forma é uma luta que continua e com alegria chegaremos ao dia onde homens nem sequer fingirão respeito porque respeitar será instintivo; então surgem as mulheres, sempre exploradas, culturalmente esquecidas, submissas, lutando por espaço e respeito, ou melhor, igualdade, nada mais justo, quebramos barreiras e com ou sem palavras sagradas é hora de usarmos o bom senso e tratarmos do ser humano mulher como ser humano que é, diria Lennon que “A Mulher é o negro do mundo” e ele não estava errado em fazer esta analogia, infelizmente; aos poucos, lentamente, outra briga por justiça surge, dos homossexuais ou qualquer variedade ligada ao “sexo”, o que é mais complexo já que não temos uma cor estampada ou um sexo em si para discriminar, embora transexuais sofram preconceito, aqui a ideia é complexa porque lidamos com ideias, filosofias, amor, metafísica, tudo que é impalpável, a questão do preconceituoso que julga não é mais “Vejo que ele é diferente fisicamente, logo, discrimino” e sim “Ele ama uma pessoa igual a ele, ou, ele não age da maneira que todos do gênero agem”; não falo dos deficientes físicos, de preconceitos estéticos, sociais, entre tantos outros, mas a humanidade inevitavelmente ruma à tolerância, ruma à necessidade de sermos melhores, aceitarmos os outros e seus modos de vida.

Junto com o avanço da humanidade percebemos o homem que esteve pronto para viver seu tempo e contribuir com o avanço, estes são aqueles que serão lembrados. A questão veio à mente quando li um discurso de Caetano Veloso, recriminando o Pastor Marcos Feliciano por todo racismo, homofobia e sexismo (sexismo é por minha conta, já que Feliciano também se pronunciou contra o direito das mulheres) destilados ou “pregados”, detalhe, Feliciano ironicamente se tornou “Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados”, é inviável, ilógico e não estamos falando do que diz ou não a Bíblia do Pastor, a própria nomenclatura do cargo pede que ele defenda minorias e direitos humanos, isso independe de fé, algo que já sabemos que ele não fará, ou no mínimo, se fizesse, seria nossa vitória, mas seria a constatação dele ser hipócrita, e sinceramente, nem racista, nem sexista, nem homofóbico e nem hipócritas podemos ter como defensores. Alguém que prega contra negros, mulheres e homossexuais automaticamente não defende estas minorias, sinceramente, não defende nem ao menos seus fiéis que podem até esconder a homossexualidade (caso sejam), mas não podem esconder serem negros e mulheres.

Tudo isso causou furor na Internet, onde atualmente as causas mais importantes, causas que em tempos passados seriam acuadas por polícias e ditaduras, podem ser lutadas e até motivos de piadas, de qualquer forma piadas existentes não eliminam seriedades de causa. Muitas pessoas surgem na necessidade de não serem “representadas” pelo Pastor Feliciano, não só destas minorias, mas outras minorias que um dia lutarão por seus direitos, e pessoas que convivem com minorias e sabem que não devemos repetir os erros do passado, todos sentindo necessidade de mostrar a cara e gritar “Feliciano não me representa”.

Assim que Caetano Veloso surgiu com seu discurso, foi que percebi o lugar do ser humano na história, somente olhando a trajetória de vida de alguém percebemos quanto ele vale pelo conjunto da obra, claro que as pessoas que um dia estiveram ao lado dos discriminadores podem abrir suas mentes e ajudar neste avanço humano, nós admiramos toda mudança para melhor, mas é fato que aquele que sempre defendeu o homem e a justiça, ou que pelo menos tentou sempre que esta oportunidade se apresentou, ganha mais pontos. No passado, assim que a ditadura proibiu a exibição do filme “Je Vous Salue Marie” de Jean-Luc Godard no Brasil, Roberto Carlos surgiu para parabenizar a ditadura, naquele mesmo momento Caetano Veloso surgiu com um depoimento criticando ferozmente a atitude tanto da proibição quanto do cantor que a parabenizou. Pode parecer pouco, um simples discurso, simples carta, mas o posicionamento do homem diante da injustiça, ainda mais quando estes são pessoas públicas, é o que contará no “Conjunto da Obra”, antigamente era difícil, somente grandes homens como Caetano e figuras famosas conseguiam influenciar opiniões, mas chegamos na era da revolução virtual, nesta era cada ser humano é influente com seus pensamentos e ideias, como diria Tio Bem de O Homem Aranha “Com Grandes Poderes vem Grandes Responsabilidades”, temos o poder, agora temos a responsabilidade, não gastemos nosso tempo para fazer do passatempo virtual uma regra, mas entendamos que existem lutas sendo lutadas e pessoas estão sofrendo, homens como Feliciano estão no poder e nosso silêncio numa era de fácil diálogo é consentimento. É fácil olhar pra trás e criticar a sociedade que apoiou Hitler, mas o mundo mudou, hoje podemos parar os diversos algozes que surgem. Se todos os acontecimentos do passado tivessem acontecido hoje, não seria horrível perceber que não utilizamos nossas armas para libertar os escravos ou ajudar as mulheres? Hoje outras minorias e por vezes até as de sempre injustiçadas precisam de ajuda, ganhamos liberdade de expressão que era temida pelos ditadores de outrora, não usar a possibilidade de mostrar nossa cara e nossa voz sem sermos punidos é compactuar com o preconceito.

Lá na frente, quando fizermos um balanço histórico, analisaremos o caráter das pessoas através daquilo que construíram e foram na sociedade, se lutaram pelo respeito ou atravancaram o avanço, não tomar partido é não ser confiável, quase um Papa que em 2013 defende o fato de não ter lutado contra a ditadura, de ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou até ter conhecimento de adoções ilegais e sequestros de crianças, meu querido leitor, tendo ainda como meta de “mandato espiritual” destruir a laicidade de alguns países para que a “palavra” seja seguida como lei; esta última analogia serve para provar uma coisa: Você pode não ser punido ou recriminado por recriminar, viverá bem e até será aclamado por seus iguais, mas toda história quando já acontecida é pensada como grande tragédia superada por uma grande justiça e avanço, de qual lado você estará? Independente de dogmas, metaforicamente falando, quem tem o currículo mais digno? Aquele cantor que sempre lutou e se pronunciou pela justiça, ou aquele líder que trás sangue em suas mãos? O único sangue válido é aquele que derramamos quando pulamos pra defender um discriminado e não um “ditador discriminado”. Qual será o teu currículo? Já indagaria o poeta Juvenal “Quis custodiet ipsos custodes?”, atualmente popularizado por Alan Moore e Dave Gibbons no quadrinho “Watchmen”: “Quem Vigia os Vigilantes?”. A resposta é simples: Nós, o povo; não toleraremos mais novos ditadores, se temos o poder de evitar novas catástrofes, porque não evitarmos?

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