sábado, 1 de março de 2014

01/03/2014 - Manifestações e o Fênomeno da Bundamolice do Homo Urbanus

Conversando com uma pessoa sobre as manifestações com “quebra-quebra”, concluí que tudo é nublado, por um lado todos têm o direito de destruir qualquer coisa, mas é triste ver um comerciante que não tem nada a ver com isso tendo sua loja saqueada; porque o nosso conforto e segurança devem vir primeiro que a liberdade maior? A revolução é mais importante que um bem pessoal. Uma pessoa viva e sortuda não é melhor que uma humanidade futura melhor. Não consigo ver de outra forma, vejo pequenos problemas em revoluções Brasileiras. Comparando com países em guerra, vejo que há um grupo, outro grupo, eles se digladiam, há problemas políticos, a guerra rola solta e nada se resolve ou se resolve em morte e pronto, independente de qualquer vencedor, o inferno acaba e a guerra para, mesmo demorando. No Brasil é palhaçada, não dá pra levar a sério, por isso criticam os manifestantes, uns defendem policiais armados e inumanos com suas mídias tendenciosas, outros defendem vândalos que talvez nem estejam ali por revolução alguma. 


No Brasil há um grupo e outro grupo; dentro de um grupo há pessoas que não sabem o que estão fazendo, no outro também; por trás de um há tentativas de pagar alguns para deslegitimar a causa, do outro também; encontramos a mídia pedindo passagem com suas câmeras e pedindo que esperem até o horário nobre para ir ao vivo, alguns combatentes nem esperam a ordem, esperam tais horários estratégicos para poder lutar na telinha; há vendedores ambulantes, tristemente pobres que precisam estar no meio do fogo cruzado porque não ganham o suficiente e precisam vender água ou comida aos manifestantes para ganhar o dia e alimentar seus filhos, também existem ambulantes oportunistas; há guerras virtuais, onde acomodados defendem a polícia, porque é mais fácil preservar o conforto de sua alienação, acham que não há um mundo e nem causa ou grupos para se beneficiarem, tudo é frescura, seu micromundo fala mais alto, mas há outros também acomodados, com discursos de anarquismo de sofá, mais fácil incitar manifestantes do que estar ao lado e aguentarem as consequências; então algum político de saco cheio oferece um acordo idiota, muitos militantes desistem da luta e voltam para a casa; pra não dizer que sábados, domingos e feriados as manifestações são sempre mais brandas ou não existem, é dia de descansar, o congestionamento é uma merda e a necessidade de ir ao trabalho impede que muitos apareçam para lutar por seus direitos, onde você estava no dia da revolução? Estava trabalhando ou na fila do desemprego rezando para que qualquer lado de qualquer luta lhe dê uma chance e um pouco de dignidade; a polícia treme, entra em contato com seus instintos, parte para a porrada, usam manifestações como yoga para liberarem suas animalidades, o mesmo pode servir para alguns manifestantes; surgem apoiadores políticos e midiáticos de todos os cantos, midiáticos palpitando visando fortalecer algum partido que mande implicitamente neles, políticos analisam as necessidades do povo e dizem apenas que estão do seu lado, querem estes revoltados como possíveis votantes, mesmo que fosse melhor ajudá-los logo a resolver essas pendencias sociais imediatamente; no Brasil não há lados, há um complexo tabuleiro de xadrez, não conseguimos falar se é certo, errado, e quem afirma com raiva e fúria que a polícia ou os manifestantes estão certos, sempre deixa tendenciosamente uma informação por baixo dos tapetes porque é mais fácil ignorar o incômodo do que encarar que “cabeças precisam rolar para algo melhorar”. 

Deixo claro minha posição de simpatizante dos revolucionários, estando certos ou errados. Também compreendo que é difícil para o homem comum despolitizado passivamente achar que barulho e baderna atrapalha, que é terrível ter seu comércio (conquistado suadamente) roubado... Nosso conforto, e nem o meu, espero ter coragem de compreender se for vítima, não acho que esse conforto seja mais importante que uma mudança radical de nossos sistemas políticos ou direitos legais. Estamos demasiadamente acomodados em nossas vidas urbanas, revoluções são estranhas, nossa possessividade, capitalismo desenfreado, consumismo doentio, não podem ficar no caminho da revolução. Falo pelo homem do povo que precisa ir trabalhar e não pode comparecer ou tomar partido de lados revolucionários, temos que parar de achar que tudo está bem, não está, tempos que compreender que qualquer monumento cultural ou bem material não são nada diante de um avanço social, onde as pessoas parem de ser manipuladas ou feitas de idiotas. 

Infelizmente tudo é imensamente desorganizado, cheio de gente infiltrada aqui e ali, mas independente dos corpos externos em qualquer grupo, o grupo precisa fazer o que o grupo precisa fazer, se há peixe de outro mar em nosso mar, mesmo que ele tente estragar tudo, não temos que parar de ser mar, mas identificar este peixe para arrastá-lo com nossa onda ou expulsa-lo para seu lugar de origem. 

O Homo Urbanus é uma criatura demasiadamente melindrosa, está transformando a bundamolice em algo embrenhado em seu DNA, fica perplexo com tudo, mas tudo bem, antigamente também existia perplexidade, mas agora a perplexidade vem junta com o medo e a covardia de preferir se esconder na caverna (e que parem de fazer barulho do lado de fora). O Homo Urbanus é parasita do próprio meio que criou. É necessário recuperar aquela incivilidade do Homo Antigus para que a tempestade resulte em um futuro melhor, parece que fomos da incivilidade para a civilidade extrema, mas a civilidade extrema trouxe pânico quanto o estágio primitivo de onde viemos, e aí, eliminando por completo nossa natureza, não deixamos a natureza seguir adiante, foi uma escalada que parou, tornamo-nos Homo Urbanus sem para onde subir, acabaremos todos afundados em nossos preciosos bens, nossas cidades intocáveis e de cristal, que talvez nem contemplemos, mas queremos saber que está tudo bem lá fora. O Homo Urbanus precisa perecer para que o Homo volte a ser Sapiens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário