quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

27/02/2014 - Neurônio-Espelho - Reflexões Sobre a Empatia

Minha última paixão é o cérebro humano, objeto mais complexo do mundo, infinito em suas possibilidades, ou parece ser infinito, junta o melhor da carne com o mais estranho fenômeno dos pensamentos. António R. Damásio nos surpreende com suas análises e constatações, considero um homem corajoso, e foi durante a leitura de “E o Cérebro Criou o Homem” que me deparei com uma constatação violenta, a existência de Neurônios-Espelhos: Quando ergo a mão com um copo, em teu cérebro (se você for meu expectador) o mesmo acontece, existe algo dentro de ti que brilha e indica que faz o mesmo movimento que acompanha; artistas teriam isso também bem apurado, para não falar de nossa imaginação, porque ao imaginar, com base naquilo que conhece, teu cérebro ativa o espaço no cérebro mostrando que você faz tal coisa.


Isso é o sentimento de Empatia, nua e crua, esqueça qualquer bondade ou sentimento transcendente, esqueça qualquer relação anterior, a verdade é que teu corpo é replicador do sentimento de fazer o que o outro faz, então você compreende. Mas essa ideia traz repercussões filosóficas, imagine um homem que sente prazer ao presenciar cenas de estupro e pedofilia; usando do mesmo fato, quando assistimos a um filme pornô, é ativado em nosso cérebro áreas que repetem o movimento dos atores, então sentimos aquilo como real porque literalmente vivenciamos internamente, sentimos prazer e chegamos ao orgasmo. Voltando aos homens “cruéis”, estes sentiriam prazer com um crime porque a empatia é tão poderosa biologicamente, que incrivelmente não estão focados na vítima, mas no criminoso; como o criminoso sente raiva e fica excitado, eles também estão com raiva e excitados. Isso não significa que videogames fazem pessoas serem ruins, afinal, a maioria, mesmo que do lado do vilão, sentem a empatia pela vítima, ou até mesmo, entram em choque com a realidade de seus instintos pacíficos, são bons e continuam bons. Pode ser que exista escolha, a escolha de foco.

Porque simpatizantes dos preconceitos e dos criminosos ficam felizes e satisfeitos com maldades? Eles estão sentindo o ponto de vista do criminoso, cada um traz sua razão e sua verdade, constituída por outros fenômenos neurais; quando sentimos aversão, ficamos putos da vida ou revoltados porque estranhamente nos colocamos no lugar do “vilão”, tudo em nós indicava que éramos contra, logo, essa contrariedade vem porque “fizemos algo que não queríamos”.

Neurônios-Espelhos abrem possibilidades reflexivas. A possibilidade de causar dano sentimental no outro, basta fazer algo vil, por isso que torturar alguém fazendo assistir alguma tragédia, é pior que cometer a própria tragédia nela, ela não só presencia como vivencia, se ela fosse o alvo da tragédia, estaria ocupada demais sentindo a dor para poder sentir que está contrariada vivenciando por tabela. Talvez a lavagem cerebral seja isso, quando assistimos muito uma coisa, quando as imagens são jogadas, nosso corpo participa, aos poucos se tornam parte de nós.

Por isso que, para quem trabalha com grande quantidade de crianças atentadas, agitadas, é possível chegar ao fim do dia estressado e cansado sem ter se agitado, seu corpo pode estar se cansando mentalmente de tanto repetir o dia e os gestos destas crianças.

Outra pesquisa ainda relacionada, está no fato do corpo registrar estes mesmos movimentos, sem perceber você começa a pensar em uma pessoa, acha que algo está acontecendo, não entende, mas se reconstituir os próprios passos, perceberá que algo o levou a isso, no caso do doutor Damásio, ele tinha repetido anteriormente e inconscientemente os movimentos da pessoa que veio à mente, logo, para estes movimentos puxarem a lembrança, quer dizer que os movimentos estavam marcados nele a ferro e fogo, ou seja, a repetição diária dos movimentos alheios cravou a pessoa quanto memória, e pode ser despertada sempre que repetir tais movimentos.

A escolha do foco talvez seja o mais importante nisso tudo, mostra nossas maldades e bondades, porque, qual motivo faria um homem simpatizar com um criminoso e não com a vítima? Claro que estas questões não serão respondidas apenas tendo como base estes neurônios, somos mais complexos que o funcionamento de apenas uma parte do cérebro, mas é natural, e por isso mesmo incrível, e não tão vilanizador assim, que podemos sentir prazer ao verificar uma cena hedionda. Acho que o mundo acaba de se dividir em focos, quem sente aversão e quem sente prazer, quem se coloca no lugar da vítima e quem se coloca no lugar do criminoso, no final, é tudo grande empatia.

Descobrir isso tona tudo mais humano e compreensível, agora poderei compreender o porquê alguns compreendem certos tipos de coisas; o compreender deixou o ramo do impalpável e se tornou fisicamente biológico, quimicamente aceitável, não precisou de esforço intelectual algum para sentir na pele certas atitudes do outro, e de quebra, desbanca a ideia que “Só mesmo passando por isso para saber”, nem sempre, quando algo nos acontece, afeta todos que assistiram isso, claro, se não estiverem prestando atenção em quem nos cometeu o mal.

Usarei como exemplo uma pequena brincadeira entre amigos, há tempos conheci um rapaz que era extremamente paranoico e com mania de perseguição, suas ideias indicavam isso, mas não só suas ideias, isso afetava seu comportamento, evitava certas pessoas e situações por achar que estava sendo seguido ou perseguido, virou meu melhor amigo e fui exposto a doses diárias destas repetições comportamentais unidas ao fator mania de perseguição. Hoje faço a mesma coisa, tenho as mesmas atitudes de evitar algumas pessoas por um pequeno sentimento de mania de perseguição e paranoia. Quem sabe nossos distúrbios não sejam, além de sintomas pessoais, muita coisa assimilada? Não descarto a possibilidade. Se isso for verdade, podemos afirmar que evitar tais pessoas seria evitar que nos estraguem, mas ainda não é o suficiente, isso serve para pessoas fracas que não trazem o domínio de suas ações, eu teria que direcionar meu foco para outra coisa, atitudes que talvez eliminassem minha assimilação deste comportamento paranoico. O mais nobre seria continuar amigo, e ainda tentar, pelo mesmo modo, faze-lo assimilar minhas atitudes positivas... Mas não faço isso simplesmente porque sou extremamente sensível, absorvo todas as merdas do mundo, sou um receptáculo de desgraças (ou melhor, somos, e não adianta fugir, o mundo é desgraçado), acho bom e isso é minha maior qualidade, crio essa grande empatia, o mundo não precisa de fugas ou “evitações”, precisa de grandes empatias. De que lado você está, do lado da vítima ou do criminoso? Ainda temos nosso livre-arbítrio? Quem sabe!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

26/02/2014 - Sobre Neurônios, Kriptonitas e Preguiças

Podem me chamar de ranzinza, é resultado de idade e trajetória. Não tenho um tema para descarregar, embora muitos temas estejam guardados em um caderno para dias sem ideias, tudo bem que hoje é um dia sem ideia, mas não é especialmente um dia sem ideia, mas dia sem ânimo para grandes exercícios mentais. Exercícios mentais são as coisas mais complexas do mundo, entender o funcionamento do cérebro principalmente, imagine ser o resultado de uma grande progressão cerebral. Somos divididos em três etapas: Criaturas vivas que existem; que sabem que existem; que sabem que há um cérebro para sabermos que existimos. Será que algumas pessoas ainda estão no segundo estágio? Sei que tudo isso deixam as coisas mais estranhas, imagine como é difícil ter um cérebro complexo, para imaginar isso é necessário estar no terceiro grupo, agora imagine ser o resultado de uma complexidade que resulta em uma pessoa que procura pela complexidade, que não está presa aos ideais, que quebra preconceitos, que percebe um mundo cheio de “tons de cinza”, não há branco ou negro, o que há são oscilações, exatamente como funciona o processo de consciência, isso que chamamos de “Eu”, ao mesmo tempo não há um Eu metafísico, pior, a consciência não está presa em nenhum lugar especifico, é resultado de exercícios neurais espalhados por aqui e ali, isso não resulta em alguém normal, pior ainda é tentar entender tudo isso, aí é anormalidade na veia. Aceito minha condição.


Minha cabeça está cheia de ideias, mas meu corpo, e há inteligência no corpo, pois é, o corpo é inteligente sem a necessidade de uma mente para isso (complexo), meu corpo está com preguiça. Preguiça para procurar tema no caderno de temas, preguiça para falar de um assunto que incomoda e me abateu no dia de hoje, só consigo sentar e digitar sem propósito, chuva de palavras sem sentido ou com sentido, o sentido veio independente de minha vontade, paro porque não quero gastar poucas linhas falando sobre um assunto que preferiria usar um texto inteiro, este texto não é sobre algo.

Se as pessoas percebessem como a linguagem e nossa escrita contribuiu para fazer do homem aquilo que ele é, sem isso não existiria nem consciência, melhor, existiria, mas não existiria o saber que a consciência existe... Ou talvez não existisse, sei lá, existiria, não existiria, tudo é assim, ou existiria ou não, ou existe ou não, ponto. Seria o “existiria” um futuro do passado imperfeito?!?

A kriptonita nossa de cada dia nos dai hoje. Escuto alguém que estava morta (feminina) e enterrada em meu inconsciente alerta, tudo volta, uma merda, fico abatido, não tenho ânimo para escrever as grandes teorias que planejei, uma única pessoa desestabiliza, ninguém compreende, acham que é frescura, talvez seja, é minha cabeça dura, apesar de toda inteligência sou cabeça dura, burro, talvez nem tenha passado em um concurso público, para espanto de muitos que teimam em me chamar de inteligente, talvez seja, talvez não, não importa. O que importa é minha kriptonita passar nesta mesma prova para mudar de lugar, sumir, ir embora, para outro planeta, então o espaço volta a não estar poluído, terei liberdade de ir e vir, perdi minha sala, meu armário, meu espaço, não piso mais em certas áreas, evito momentos e lugares, sei que isso vai acabar e que logo ela ou eu passaremos em um concurso público e não nos veremos. Sempre cortei contato com desafetos, sou o tipo de cara tranquilo que é tranquilo exatamente porque elimina pessoas de sua vida; emprego público é prisão, ninguém é demitido, ninguém sai, tamanha devoção que temos por estabilidade. Fico na espera, enquanto na espera, estou em stand-by. Ninguém compreende, acham graça, frescura de minha parte, talvez seja, talvez seja frescura.

Sou ranzinza, um cara pornográfico, não vejo sentido para tanto puritanismo. A vida acaba e a gente morre. Apenas isso, ondas cerebrais param, nosso eu que está inteiramente ligado aos processos cerebrais logicamente desaparece quando os mesmos processos param. No final é tudo perda de tempo, até evitar minha kriptonita, fazer o que? É a vida, não está fácil para ninguém. Lá vem o carnaval.

Não estou lendo poesia, literatura, filosofia, metafisica ou religião, leio um livro sobre como funciona o cérebro, neste momento meus neurônios estão me pregando pegadinhas, fazendo-me achar que existe dor, ódio, rancor e tristeza, fazendo-me crer nisso, outros processos transformam imagens em sentimentos, sentimentos que são exercícios sobrecarregados de alguns neurônios, então sinto tudo isso, e além de achar que estou triste e consequentemente ficar, também fico com ódio porque sou fraco por não transformar meu conhecimento sobre isso em uma imunidade contra isso. Cérebro filho da puta.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

25/02/2014 - Uma Crítica ao Livro "Últimas Palavras" de Christopher Hitchens (Uma Homenagem aos Exercícios Cerebrais)

Eu tentei por grande parte da minha vida escrever como se estivesse compondo minhas frases para serem lidas postumamente. – Christopher Hitchens

Quando li “Deus não é Grande” de Christopher Hitchens fiquei com a sensação de aquele ser era um palestrante difícil, homem sábio, crítico e irônico, talvez mais cruel que Dawkins. Criaram este quarteto, “Os Quatro Cavaleiros do Ateísmo”, quase impossível ler um e não procurar pelas obras dos outros, apenas porque suas informações se completam, mas diante desta explosão de neo-ateus, ou melhor, da coragem de alguns intelectuais falarem que estão fartos do mundo Cristão dominante, surgem questões profundas e sensíveis, quando a sensibilidade bate à porta do representante da sanidade.

Imagine que um homem conseguiu senso crítico o suficiente para não precisar de fantasmas, ele é mais livre? Pode ser que sim, mas surgem nossos impulsos primitivos, diante da morte tudo muda, ou não, ou tudo muda porque o cérebro vai pregar peças e exigirá respostas que podem não existir. Muitos olham para os neo-ateus e lançam perguntas sobre a hora de suas mortes, algo que acho completamente sem sentido, mas é interessante, um novo jogo mental aproxima-se do intelectual, ele está sozinho, o mundo o abandona porque ele vê o mundo de outra forma, isso não significa que o cético está errado, apenas que sua solidão é diferente e não pior que outras solidões que podem fazer parte de qualquer espiritualidade. Eis que Hitchens é empurrado para uma cilada, descobre que tem câncer, um novo jogo de interpretação de mundo começa, ele sabe tudo, desmistificou a vida e a morte, não há mistérios físicos ou práticos, os únicos mistérios estão relacionados aos modos de agir; como se comportar diante de uma sociedade que olhará para a infelicidade como forte indício ou conotação espiritual?

Acredito que Hitchens chegou ao máximo da coragem, morreu com honra, embora não exista honra em morrer como morreu, desmistifica até o heroísmo do combate ao câncer, pois é o câncer que luta contra ele e não o contrário popular; Hitchens não tem dó de si mesmo, até a capa de seu livro é irônica, como se pensasse “Lá vem o povo acha que há significado nisso tudo”. É consenso ridículo mundial de todo crédulo achar que todo ateu se “regenera”, “Aceita Deus” ou “Aceita a Aposta de Pascal”, primeiro que para aceitar Deus é necessário existir Deus, por isso não faz sentido; Hitchens continua analisando, até em seu último suspiro, o porquê desses pensamentos cristãos, o homem deseja morrer lúcido e sensato, mas se alguém acha que ele chega ao estágio da insensibilidade teimosa, não chega, é extremamente humano, técnico e direto consigo mesmo, sensivelmente educado com as pessoas e reações ao seu redor, analisa quem ora por ele, deseja escrever e conversar, sabe que os momentos de conversa com os amigos são aqueles que o faz ter uma sensação agradável, provavelmente escrever foi sua razão de viver, é tocante como fala com paixão da escrita e da necessidade da conversa, em um mundo cada vez mais separado, inclusive pelas crenças e diferenças, ele não se importa, tem amigos cristãos, amigos céticos, e estes parecem respeitar sua militância ateísta, enquanto falam de outras coisas para descontrair e todos se respeitam, aprendem uns com os outros, ele tem muito para ensinar sobre dignidade no leito de morte, simplesmente porque não há dignidade, o que há é uma coisa dentro de si que acelera seu momento final, o único sentimento pesaroso é o de desperdício, o mundo perderá alguém que poderia contribuir muito para a racionalidade e até para análises de mundos e comportamentos, ele sabe disso, admite isso. Talvez sua paixão pela conversa e pela escrita seja o que o faz inteligente, a linguagem está extremamente relacionada ao hábito de pensar, os raciocínios, principalmente lógicos e inteligentes, que moldaram a sociedade, não se separam da história da criação ou surgimento da escrita.

Li o livro em uma tacada só, creio que estava em meu inconsciente saber qual minha reação diante da morte, simplesmente porque todos indicam e nos fazem acreditar que iremos nos entregar às insanidades ou ilusões, pegadinhas da mente, mas não, é possível, como ele conseguiu, manter seu cérebro ativo, morrer com nossa intensa experiência cerebral de entender o mundo, nosso inconsciente trapaceiro não nos enganará, ele esteve em contato com a morte mais pura e crua, viveu absolutamente tudo que tinha para viver, vida e morte, nada passou batido.

Pequenos comentários que fiz durante a leitura:

1. Maratona de leitura da madrugada. Últimas Palavras, de Christopher Hitchens, um dos intelectuais mais controversos das últimas décadas, herdeiro intelectual de George Orwell e Thomas Paine, entre suas polêmicas estão suas críticas contra Madre Tereza. De forma lúcida analisa o próprio Câncer enquanto luta contra ele, é incrível e sensato até em suas últimas palavras. Morreu em 2011pela doença e é exemplo de sanidade do começo ao fim, homem sábio, bem resolvido quanto a morte. É chocante o relato que faz usando a si mesmo como objeto de estudo.

2. Leitura do livro Últimas Palavras de Christopher Hitchens finalizada. Ele não deixou de ser irônico e crítico nem em suas últimas palavras escritas e faladas, foi homem extraordinário, valorizava os amigos pelas conversas que tinham e quis literalmente morrer escrevendo, uma das melhores homenagens à escrita e aos afetos pela relação argumentativa que já vi. Livro tocante. A ironia fica para suas análises sobre as orações que recebeu, tanto de opositores querendo seu bem, como de fiéis fanáticos de todos os credos que pediam para seus deuses punirem Hitchens por ter vivido e morrido como herege, ele não se ofende, ri e ainda cria tese
em seu 'leito de morte' sobre a ineficácia das orações. E a capa do livro com ele olhando com uma cara de crédulo 'E Agora, José?' é para rir e pra chorar. Leitura impactante sobre um homem que analisou a própria morte para morrer ainda em pleno e intenso exercitar cerebral.

3. Essas Últimas Palavras de Christopher Hitchens mexeram comigo, faz pensar em como morrer com honra e como morrer com honra não significa nada. Caramba.

4. Quero a coragem de Christopher Hitchens diante da morte, e acho que depois da leitura de seu livro, consegui um pouco desta coragem, que homem incrível. Samba na cara da sociedade até nos últimos momentos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

24/02/2014 - ^ + ! + . = ?

"As Ligações de Amizade são mais fortes que as do sangue da Família" - Giovani Boccaccio

(Texto Escrito Dia 03/03/2012)

Depois de anos de adoração, Jesus Cristo e toda sua família foram deserdados por um partido brasileiro. Muitos sabem que para ser bom político é necessário, além de grande desvio de caráter, quer dizer, de verba, ser perito em matemáticas filosóficas, matemáticas anedóticas e outras matemáticas divinas. Foi assim que o Partido da Santa Copulação (PSC) perceberam que sem copulação não há família, pois é, o sexo e a sacanagem falam mais altos que alianças afetivas, contrastando com a grande fama cristã que o partido tem. Então transformam o amor em apenas mais uma das matemáticas, que adicionado às boas doses de açúcar, rezas e sexo sem camisinha, abrem passagem para uma verdadeira formação familiar brasileira.


De acordo com professores altamente capacitados, formados por universidades cristãs, opa, falei altamente capacitados? Voltemos ao assunto... De acordo com tais professores, a matemática mais adequada para seguirmos com nossas vidas sem o perigo de gostarmos ou aceitarmos elementos duvidosos em nossas famílias, porque somos incompetentes para escolhermos nossos laços e certamente já está na hora de uma cartilha, é a seguinte continha:

Homem + Mulher + Amor = Família.

Na verdade, até hoje apenas letras isoladas tinham a capacidade de participar de fórmulas matemáticas, vide X e Y, entre outras que variam, mas o dicionário, sentindo-se excluído em uma sociedade que lê cada vez menos, percebeu que em contrapartida da falta de cultura, se gastava muito mais com preocupações capitalistas e os números e contas eram aqueles que faziam parte do dia do cidadão brasileiro, desta forma, algumas palavras resolveram saltar e foram parar em tais fórmulas, afinal, se as letras não podem vencer a matemática, pelo menos se juntaram a elas.

Mas tal continha simpática, no início, traz um pequeno problema, seu resultado não é resultado matemático, mas resultado em forma de palavra, o que deixa espaço para especulações sobre a veracidade do acerto, ou até mesmo, se a fórmula está bem construída... Logicamente, tendo em base tudo que já sabemos sobre os avanços sexuais, poderíamos afirmar que o resultado da estranha fórmula não é Família, mas Hermafrodita, afinal, Homem + Mulher, se misturarmos em um tubo de ensaio, como podemos comprovar em outras misturas de fórmulas, dá realmente um ser com estes dois aspectos, neste caso a palavra Amor está lá como um mimo, algo para cativar, é uma receita de bolo, você mistura uma coisa, mais outra, acrescenta amor, e sai uma comida deliciosa, assim, ao misturar o sexo masculino com o feminino sairá um hermafrodita igualmente amoroso.

Este texto tem apenas o intuito de ajudar alunos despreparados que possam encontrar tal fórmula, que vem camuflada como pegadinha, nas diversas provas: ENEM, Vestibulares e Concursos Públicos.

Como sabemos, tal fórmula não foi construída para obter um resultado tão matemático quanto o que propus, foi construída para obter resultado filosófico, sabemos que uma filosofia deve divagar sobre aquilo que não se sabe, mas quando sabemos, a filosofia precisa se adequar a ela ou mostrar resultado que mostre que sempre estivemos errados, o que não é o caso. Tal fórmula é realmente antiga no inconsciente do ser humano, sabemos que o Amor não quer dizer nada na constituição familiar, podemos tanto amar quanto odiar nossos mais queridos chegados, seria mais coerente dizer que “Homem + Mulher + Amor & ódio = Família”, sim, seria quase certo afirmar isso... O problema é que as famílias são mais que uma fórmula matemática, há quem seja adotado e não conheça seus pais biológicos, e como um dos artifícios em defesa da família é a bandeira desenfreada pelo sexo sem camisinha (algo que não considero nada cristão) chamado procriação, filhos adotivos estariam abandonados. Pais solteiros, mães solteiras, viúvos, crianças que são criadas pelos avôs, casais do mesmo sexo, gente independente rodeada de amigos, sejam reais ou virtuais, até mesmo um ermitão no topo da montanha mais alta que se contenta com gelo ou árvore, dependendo do clima, que certamente considera o meio ambiente sua família. Marujos que vivem no mar com seus companheiros de trabalho. Solitários com seus animais de estimação e plantas... Vizinhos que ainda confraternizam, até de forma exagerada, mas que não deixam de ser algum tipo doido de família. Acho que limitar a família apenas ao fator “Homem + Mulher”, além de demonstrar certa burrice matemática, algo que nem uma calculadora saberia fazer, acaba por desbancar uma das figuras históricas mais seguidas de todos os tempos: Jesus Cristo.

Pois é, todos sabem que aquela santa mulher tinha engravidado do espírito-santo, também que espírito-santo nem sexo tem, que uma eterna virgindade de Maria só pode significar ou que José não dava no couro ou que o amor (mais categoricamente o sexo) não tinha aparecido na fórmula, logo, não são família. Vejam o exemplo:

Espirito-Santo + Maria + José = Jesus.

Primeiro que nesta equação temos uma mulher que não perde sua virgindade, o que é estranho, mas tudo bem, finjamos que alguém fez uma cesariana... Maria não fez um doce amor nem com o Espirito-Santo, nem com José e muito menos com Deus (seria heresia)... José no máximo assiste ao Ménage à Trois entre Maria + Espirito + Santo porque já sabemos que não botou um milímetro de seu membro naquela confusão. Por último e menos importante a sexualidade do Espírito-Santo não pode ser tida nem como Homem e nem como Mulher. Todos estão eliminados da equação, temos então a seguinte fórmula numérica:

0 + 0 + 0 = Jesus.

Caso ainda insistam em usar palavras para tais matemáticas, uma ideia boa seria:

Coisa + Algo + Isso ou Não = Família ou Não

Foi neste grande impasse que, se alguém ainda deseja uma fórmula para dizer o que é ou não família, acho que o melhor seria tirarmos as palavras, que se mostraram inúteis como números, e cotarmos a possibilidade de pontuações que ainda não foram testadas:

^ + ! + . = ?

Espero que tenham gostado da aula e lembrem-se: Se tal fórmula cair em qualquer prova, prefiram NDA ou TDA.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

23/02/2014 - Uma Crítica ao Livro "A Cultura-Mundo" de Gilles Lipovetsky (+ Diário de Leitura)

O mundo Hipermoderno é o mundo do egoísmo globalizado, tudo que Bauman previu resultou nessa grande encruzilhada ambígua, de um lado temos os benefícios tecnológicos, a possibilidade de conhecermos absolutamente qualquer coisa, mas também a infelicidade de nos perdermos em um mar de informações e frivolidades. O mundo está modificado, pode não haver empobrecimento da arte, mas existe o aumento de artes medíocres, e a “verdadeira” é defendida com mágoa por poucos que ainda se importam com isso, fica cada vez mais difícil saber o que é bom, principalmente porque até as boas artes estão sufocadas por um fenômeno hipermoderno, a existência do Homem Consumidor, porque agora o ser humano é só isso, o mundo é uma vitrine imensa de produtos, o homem quer mais e mais, mesmo que se depare com algo de qualidade não conseguirá entender absolutamente nada; arte como turismo, arte no fator zapeamento, onde se pula de uma para a outra, onde se acumula absolutamente tudo, e neste acumular, artes de qualidade ou não são colocadas no mesmo patamar.

Gilles Lipovetsky é extremista na ambiguidade, não deixa de defender as qualidades, mas critica e aponta todas as novas mazelas. Parece que o mundo está perdido, Gilles acredita em algumas soluções, mesmo que inviáveis. O problema é que o mundo se colocou em encruzilhada, o capitalismo/consumismo domina até ideologias opostas, até suas resistências estão dentro das garras, ideologias são colocadas como produtos para grupos, existem resistências faladas, debates, choques, guerras internas, mas incrivelmente tudo é mais um produto, falta coragem de destruição e oposição na prática que mostre como se viver sem o capitalismo/consumismo, pode ser impossível, mas apenas porque estamos dentro deste sistema; não existe vanguarda, o que existe é o produto vanguarda.

Problemas na educação onde o professor perdeu parte de seu poder ditatorial, o que em partes mantinha cada um em seu lugar, agora o professor não só perdeu o poder como também não é valorizado, nada disso é novo, mas as soluções para uma educação passam longe das ideias antigas de boa educação e formação, é necessário que as novas tecnologias e produtos sejam mesclados ao ensino, para que se tornem ferramentas que o aluno queira usar, assim cairá de cabeça na informação. Não é negando o novo mundo, mas incorporando ele, porque a única coisa incorporada no ensino desta nova sociedade foi o individualismo dos alunos consumidores.

O mundo não tem fronteiras, parece que esta é a lei da Globalização, mas é somente neste avanço tentacular que pequenos grupos, cidades e países entram e choque e resolvem colonizar outros lugares; se a globalização abre portas, também reafirma peculiaridades, cada lugar é ao mesmo tempo turismo em potencial onde as pessoas precisam gastar, mas também abrem filiais em outros, e o fator local se afirma à força de seu egoísmo. Essa ambiguidade foi a coisa mais interessante do livro, embora tudo seja bom, a ambiguidade está ao mesmo tempo em unir os povos, fazer conhecer o próximo, mas reafirmar sua individualidade, porque o próximo não é mais aquele com quem se quer estar ou se relacionar, é consumidor em potencial.

Os valores estão invertidos, não podemos também criticar o problema do mundo como produto ou da propaganda como grande vilã, a “Cultura-Mundo” trouxe qualidade para as mensagens de seus produtos, existem produtos que carregam valores, e não são as funcionalidades do produto que compramos, compramos ideias, compramos a mensagem e o que ela representa, pode ser algo ruim, e definitivamente é, mas é inegável que grandes artistas trabalham para certos produtos, mesmo que a intenção seja vender, as vezes também é fidelizar e marcar o mundo, o homem criou o produto, que criou a marca, que criou a sociedade, isso é irônico, podemos ver propagandas realmente lindas com mensagens de paz e de vida, algo que independe do produto, então a marca se tornou rival dos artistas, alguns artistas deixam a desejar para muitos publicitários. Certos prédios de produtos são lindos, fazem parte da arquitetura local, ou seja, a arte está impregnada nisso até a alma. O mundo não tem jeito, e deixo aqui pequenos comentários que fiz durante a leitura do livro.

1. A Cultura-Mundo de Gilles Lipovetsky é incrível, estou gostando da coragem dele em definir a qualidade na arte contrastando com a futilidade de uma arte feita apenas para abraçar demandas no mercado; no mundo de hiperconsumidores a arte é produto de fácil acesso intelectual sem qualquer compromisso engrandecedor ou de formação de indivíduo. Ele não pega leve e foge daquela papagaiada que diz que a qualidade da arte é relativa. Muito bom.

2. O mais interessante na análise da hipermodernidade por Gilles Lipovetsky é a transformação da marca em uma cultura de marcas, onde os produtos surgem trazendo não mais funções, mas conceitos e estilos de vida para afetar culturalmente a sociedade e formá-la, como era o papel da arte; agora comerciais não almejam apenas avisar sobre o produto, mas serem criativos e belos tanto em conceito quanto em estética. Marca virou cultura com o surgimento do hiperconsumidor, não é mais a sociedade fazendo a marca, mas o consumo (capitalismo) moldando a sociedade pela cultura-marca. Espantoso.

3. O trágico em Gilles Lipovetsky é ficar a certeza de que o mundo já é mundo do consumo exagerado em todos os aspectos, não tendo nenhum sistema para fazer oposição, velhas ideias são meras utopias não práticas, quando surge uma é só oposição em crítica, não fala como mudar e nem melhora, todas as oposições são vendidas como produtos numa prateleira de lutas para comprarmos, estão, mesmo combatendo, sendo vendidas pelo monstro que combatem. Tudo é show e produto. Ou seja, beco sem saída, o capitalismo samba na cara dos opositores porque usa dos mesmos como um produto a ser vendido. Não vejo saída para a hipermodernidade que traz o efeito colateral da liquidez unida ao imediatismo e grande pressão nos ombros do cidadão reduzido à insatisfação do não ter e não ser.

4. Diferente do que parece, Lipovetsky não é pessimista como Bauman, é extremista na ambiguidade, admite todas as vantagens do mundo atual, que Bauman não admite, mas também joga o mundo em um abismo quando mostra suas mazelas, Bauman ficou apenas no abismo, mas apresentava soluções, ambos maravilhosos, representam o pensamento Pós Moderno e Hipermoderno, um completa o outro, nenhum passa a mão na cabeça da sociedade.

5. O mais interessante entre Bauman e Lipovetsky é que o primeiro é extremamente pessimista, o segundo só não é porque contrasta pessimismo com os resultados bons que conseguimos, mas parece que só o pessimista Bauman apresenta desejo de melhorar as coisas. Amo os dois.

6. “Te contar, heim!”. Quando gostamos de filosofia, sociologia e outras coisas relacionadas, incluindo livros mais sérios, os melhores autores são sempre os mais caros. Promoção de baciada disso não existe? Temos que fazer manifestação para baixar os preços. Ironia é gastar quase 100 reais para ler um autor que vai criticar o capitalismo e o consumismo desenfreado, paradoxo. Mas "vambora", sabedoria não tem preço, é necessário fazer esforço para ficar por dentro das coisas. Pena que não consigo ler virtualmente ou digitalmente, sou apegado aos livros de papel, acho que são mais confortáveis. Bora ler que a madrugada está só começando, hoje é ficar puto da vida com o fator cultural com minha nova descoberta, Gilles Lipovetsky. Por sorte comprei o livro dele barato, Cultura-Mundo. GANHEI o livro “Sociedade Pós-Moralista” de uma amigona, Sheila Candido, comprou por 5 reais na faculdade, e o livro custa 83 reais. Isso que é amiga... Sou azarado, não sou estudante para comprar livro mais barato em faculdade, não sou professor, sou apenas um "rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e etc..."... Um dia toda essa informação resultará em algo, mesmo que em loucura. E eu leio por prazer e curiosidade, apenas isso.

7. Fato: As indicações de leitura do Kaio Costa (Livros sobre Fenomenologia) são maravilhosas, complexas, surtantes, mudam visões de mundo, mas são extremamente caras. PQP. Nunca pensei que fosse ficar feliz por ser trabalhador e ter meu salário, mas que dói na "alma" contabilizar os gastos de meu hiperconsumismo, certamente analisado perfeitamente por Gilles, ah, isso dói.

8. No mundo atual a grande quantidade de pessoas em museus, teatros e outros lugares onde se propaga arte não significa que a arte venceu ou está cumprindo sua missão, mas que tais lugares agora são meras paisagens, objetos para turismo, é a ode ao artista e ao show, é o status de ter ido, raros são os que leem a plaquinha na estátua ou que encaram a obra para compreendê-la e absorver algo culturalmente, o foco é ter visto, como um passeio ou mero entretenimento, não é a desimportância da arte nosso perigo, embora muita arte seja feita unicamente para entreter, mas mudou a relação do indivíduo com a arte, mesmo a melhor arte virou mais um patrimônio de evento do que aquele engrandecimento interior. Por isso o aumento de museus espetáculos e interativos, a mensagem não importa, apenas a questão de como segurar um público de sociedade do espetáculo incapaz de absorver a arte e que não está ali por ela, porque independente da qualidade, é o lugar ou a arte quanto lugar turístico que importa. Triste essa real reflexão de Lipovetsky.

9. Mundo hipermoderno afetando nossa relação com os grandes pensamentos, ideias e envolvimento intelectual, não é mais o meio dos pensadores ou os grandes debates que dão credibilidade aos pensadores, mas a mídia e consequentemente a fama criada por ela, ideia ou o avanço dela no mundo ficou para segundo plano, pior, aumenta-se a importância do pensador sem que em nenhum momento o público queira ler e conferir suas ideias para avançar com ele, no popular é a velha mania de se contentar com uma frase e nunca ler a obra para compreender a ideia. O show do debate é venerado, o debate não é compreendido.

10. Ok. Gilles Lipovetsky mostrando que o consumismo reduz o consumidor a um idiota, uma lixeira de informações que mesmo importantes e grandiosas nunca serão compreendidas; o consumidor descredibiliza a arte e sabedoria, nivelando tudo com porcarias e dando a entender e entendendo que qualidade é relativa apenas por preguiça de depurar, enquanto até a melhor ou mais genuína ideia está esmagada para compreensão de poucos interessados que serão chamados injustamente de chatos e vistos como perdendo tempo, porque é claro, para a lei do imediatismo e frivolidade, perder tempo com depuração é pecado, com isso o mercado fortalece a imagem da falsa relatividade de qualidade cultural. PQP. O Homem Consumidor destrói tudo e ainda se acha por isso.

11. Leitura finalizada, sentimento de missão cumprida. Algo aprendido nunca é em vão. Agora é relaxar e refletir sobre as ideias de Gilles Lipovetsky, o cara não é tão trágico quanto pensei, embora, acho que não exista força de vontade da humanidade para melhorar as coisas do jeito que ele diz. Mas está valendo e foi esclarecedor.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

21/02/2014 - A Ilusão da Necessidade de Permanecer Efetivado Para Pais de Família

A escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado. - George Bernard Shaw

Após escrever um texto sobre “Trabalhar tem que ter graça”, eis que me deparo com a resistência por parte de quem “Necessita Trabalhar” para sustentar filhos, família e estas coisas mais emergenciais que tiram a liberdade de escolha do indivíduo, ou a liberdade e possibilidade do indivíduo ser feliz e pensar em si mesmo. Concordo que aquela regra pode não funcionar para todos, porém, isso abre uma questão interessante de aprisionamento pela obrigação, e mesmo assim, o que é obrigação? É ser responsável? É pensar nos outros antes de pensar na própria jornada? A única solução para este problema complexo encontro na vida de um dos grandes homens que existiu, Sidarta Gautama, o Buda, creio ter lido em “Uma Breve História do Mundo” que o mesmo já era pai quando desistiu de absolutamente tudo para encontrar sua liberdade, e acredito que, o desprendimento de Buda, se pode nos ensinar nosso verdadeiro lugar ou necessidade de autoconhecimento, é indício de que hoje os seres humanos estão mais responsáveis com seus queridos, porém, isso resulta no aprisionamento que relatei. Buda é exemplo de vida? Não posso dizer. Cada um tem para si os líderes e exemplos que deseja, e gostaria que isso acontecesse como maneira do homem saber viver e buscar seus sonhos, nunca como conformismo pelo sucesso alheio; o homem moderno carece de individualismo, carece de peculiaridade, falta-lhe personalidade ou força de saber que no mundo só há ele, porque é impossível que qualquer pessoa viva sua vida por você. O homem atual, pelo menos aquele que está embrenhado no jogo capitalista dos laços obrigatórios e não afetivos, está preso e não tem como voltar. Aquele discurso anterior sobre Trabalhar Ter que ter Graça ainda é válido, pelo simples fato de que a liberdade é nosso bem maior, independente daqueles que estão conosco, serei frio ao extremo e não existe necessidade de ser responsável por alguém se isso lhe tirar do jogo do mundo, tirar-lhe do jogo da própria vida.

O mundo atual é o mundo das demandas, pessoas são empregadas e demitidas todos os dias, há rotatividade e oportunidade por todos os lados, as pessoas não se ligam em quesito de afeto, mas o mercado é igual, as pessoas dificilmente criam vínculos com seus empregos, transformando tanto laços afetivos quanto de fidelidade empregatícia em um detalhe de épocas passadas, isso é bom, mas é trágico, ao mesmo tempo em que demonstra liberdade, cria insegurança de não saber o que virá amanhã, mesmo sabendo que amanhã virá outro emprego, e outro, mais outro, nenhum vínculo e, portanto, certeza para que este medo de ficar desempregado não passe de uma ilusão. Claro, o mundo do trabalho é cruel, algumas pessoas ficarão à margem, são as consequências dos azarados ou excluídos, e é nessa verdade terrível de ficar à margem que faz com que pessoas capacitadas sintam-se no perigo de estar à margem no desemprego, mas a pessoa empregada que têm seus filhos, sua família e seu emprego não está tão à margem assim, mesmo que estivesse, vivemos em um país que facilita tudo (e não critico este facilitador), temos bolsas de todos os tipos e instituições para amparar desamparados, a bondade humana virou show e o bom-samaritanismo faz parte do currículo humano, onde muitos, empresas ou associações gabam-se da qualidade por seu nível de “ajuda ao próximo”, tudo bem que muitas das ajudas podem ser meros placebos ou prisões onde o homem se mantem vivo enquanto não progride ou não tem tempo para pensar em seus sonhos, é sempre a ajuda almejando tirar-lhe a necessidade de ajuda. O homem, olhando por este momento, que tem sua família e necessidade de criação, esquece que seria amparado, pelo medo da possibilidade de ser excluído (existente) e não tem mais coragem para se desligar e encarar outro serviço onde, finalmente, os laços que defendi seriam melhores e contribuiriam para um engrandecimento humano.

É triste, mas o homem moderno com filho, família e necessidade está fora do jogo opinativo, não tem a possibilidade nem de pensar na felicidade pessoal, logo, não pode opinar sobre a necessidade de manter-se no emprego independente de existirem ou não laços afetivos no mesmo, o homem que se enquadrada nesta maldição é eliminado em matéria de voz ativa, não tem moral para julgar as coisas com a mente fresca, o medo é seu combustível, a insegurança principalmente, e onde existir conforto existirá a ilusão de que seus filhos ou famílias estarão bem, o que não é verdade, porque, a não ser que você mame nas tetas do governo como um parasita “empregado público”, a rotatividade e exclusão ainda será maior que sua necessidade de estar empregado, até mesmo de sua competência para estar empregado, os elos empregatícios modernos independem da competência e da vontade do empregado.

Podemos pensar até nos empegados públicos, estes não estão tão seguros quanto os outros, embora pareça em um nível diferente, estes vivem à margem do conformismo e da infelicidade, assistem todos “progredirem” enquanto eles continuam os mesmos, e são até mais escravos que os anteriores, estes trazem a verdade de sua efetivação, com isso, perpetuam laços frívolos que dificilmente serão rompidos se não for pela própria vontade, o descontentamento e falta de perspectivas cria a rotatividade, onde inconscientemente pulam de galho em galho, pedindo remoções para outros ambientes, tentando outros concursos para sair daqueles empregos que conseguiram, a vontade de mudar gera rotatividade. Se no primeiro caso era uma imposição cruel do mercado de trabalho, onde não existe algo que se faça para manter o emprego, no público é o inconsciente que age criando a vontade de rotatividade na vontade do funcionário, de qualquer jeito não ficarão ali muito tempo, a diferença é que um roda por fora, o outro salta por dentro. Até para o funcionário público seria difícil usar do argumento de precisar de tal emprego, ele precisa, mas inconscientemente tenta mudar de ares em um lugar que parece estático. Os dois estão no mesmo patamar, também são instrumentos de uma força maior que ora expulsa-os de seus lugares, ora suas mentes negam isso, por medo de que o fator primeiro aconteça, e tentam agarrar-se cruelmente ao posto que ocupam. É uma sociedade ambígua, talvez hipermoderna, onde os dois opostos se digladiam.

Diante desta complexidade, caberia ao homem admitir a rotatividade em qualquer posto que ocupe, para, então, ter coragem de sair por conta própria e invadir o ambiente de trabalho que mais lhe agrada, afinal, qual a diferença entre a rotatividade imposta pelo mercado de trabalho, a rotatividade criada pelo inconsciente que leva o funcionário público a fazer aquilo que o mercado do desempregado faz, ou a decisão consciente, mesmo tendo filhos e família, de também se largar nesta rotatividade e ir para “um lugar melhor”? Não há diferença em matéria de resultados, há uma diferença importante, a diferença está em, no último caso foi uma decisão escolhida, foi sua liberdade exercida, algo parecido com o que Buda fez, tentativa (mesmo que ínfima dentro de nossas diversas prisões) de honrarmos nossa peculiaridade, nossa decisão de mudar as coisas e de agarrarmos as rédeas da vida e não sermos apenas marionetes dos fatores externos ou angustiantes de nossa nova era. Com isso explicado, creio que até mesmo um pai de família poderia se desligar de suas obrigações e pensar em sua jornada, a obrigação é uma ilusão criada pelo mundo da necessidade, do mundo dos extremos e das ambiguidades.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

20/02/2014 - O Fim da Existência do Sentimento do Eu

Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então. - Lewis Carroll



Descobrir muda tudo, imagine uma descoberta fundamental, que os raios solares podem causar câncer de pele se exagerarmos em nossa exposição sem proteção, isso é real, mas antes de qualquer descoberta ou proliferação do que foi descoberto, não havia tanta proteção neste quesito, então, obviamente, muitos adoeciam sem saber, esse foi apenas um exemplo para uma nova questão, mais profunda, complexa e que exige um esforço de nossa capacidade de pensar ou de ser.

Foi lendo Sam Harris que vi meu próprio absurdo e desconhecimento do que sou, antes disso, mesmo sendo cético, tinha inconscientemente uma ideia como todos têm, que há diferença entre o eu e a máquina, isso acontece porque confundimos coisas com pessoas, ou coisas com essências (não sei descrever), um exemplo: Você olha para um carro e fala “Meu carro”, olha para um livro e fala “Meu livro”, ou “O livro”, mas isso abre espaço para uma confusão mental, quando o homem olha para seu braço e diz “Meu braço”, olha para seu corpo e diz “Meu corpo”, olha para seu cérebro e diz “Meu cérebro”, e essa expressão causa no primeiro caso uma separação entre eu e coisa, consequentemente, quando se confronta com a questão do eu ou do que sou, também cria inevitavelmente e erroneamente essa separação entre eu e coisa, neste último caso a coisa construída pela mente seria o corpo, dando uma impressão de que você é separado deste. Não falo da consciência porque esta está sendo analisada e estudada, tão pouco falo de personalidade, porque ainda há dois tipos de entender a si mesmo, o primeiro são nossos diversos comportamentos dependendo de onde estamos e em qual grupo, podendo variar, fazendo-nos vários em um mesmo dia e “corpo”; o eu que trago na questão é o que realmente somos, não nosso comportamento diferenciado, porque não há essa diferença, somos isso e pronto, não podemos falar “Meu corpo”, “Meu cérebro” e nem “Meu eu interno que independente do todo corporal que sou”, porque incrivelmente meu corpo sou eu, meu cérebro sou eu, tudo isso é parte de mim, são pedaços e não um bem que eu possuo quanto algo que pode ser separado, não existe este alheio de mim, apenas o “mim”.

Isso foi um choque e é complexo para compreender. Dando um exemplo vulgar e que pode gerar polêmica, usarei um exemplo esdrúxulo que dias antes de finalizar a leitura aconteceu em minha vida. Debatia com um amigo sobre o que acontecia depois da morte, quando ele perguntou, mais especificamente para onde iria nossa consciência, ou melhor, “O que acontece quando o corpo morre”, como se estivéssemos apenas vestindo uma roupa, mas essa ideia levantada por Sam Harris responde, pelo menos parcialmente a questão do eu desligado do corpo, porque é uma construção de nossa mente que sempre separa coisa do eu, mas neste caso está tão fundido que não poderíamos conceber essa ideia. O eu desaparece quando procurado porque é ele quem procura, é a ideia explicada por Harris, pode existir a consciência em todos os seus níveis, e isso estudaremos, mas este eu é praticamente inexistente, nunca poderemos nos tocar ou tocar em nosso eu, porque somos o eu que quer se tocar. Isso acaba com a sensação de “Meu verdadeiro eu”, porque não existe um falso eu, tudo que existe e inexiste é o eu, existe porque somos isso e pronto, inexiste porque é inalcançável. A ideia parece paradoxal, mas não é, é apenas uma explicação de que somos unos em nossa máquina e em todo funcionamento corporal, mesmo que o eu seja composto por partes e cada parte comande algum aspecto de nossa vida. Não consigo criar um exemplo prático e acessível, vamos imaginar um quebra cabeça, este é nosso eu, dividido em muitos funcionamentos e importâncias, porém, não existe uma separação da imagem que ele criará e dele, não há uma essência em si, a imagem é o quebra cabeça, o quebra cabeça é a imagem, a imagem nunca poderia dizer “Meu quebra cabeça”, e nem o quebra cabeça falar “Minha imagem”, porque não existe a relação do eu com algo que lhe seja externo, eles estão fundidos.

Quando parei diante daquela explicação da neurociência para essa confusão que nossa mente cria ao separar pessoa de objeto até para “coisas” que sejam a coisa e o objeto ao mesmo tempo, percebi que meu eu tinha desaparecido, pode parecer que perdemos nossa peculiaridade, mas talvez não seja isso, estamos apenas mais fundidos ao nosso eu, porque somos o nosso eu, somos aquilo que separamos, não há separação. Pode ser que essa coisa do “pensar” possa ser simulada em uma máquina, isso só fortaleceria a ideia de que algo construído também foi construído por nosso corpo ou nossa biologia, talvez sobreviva ou não, ninguém pode saber, mas incrivelmente não existe uma separação do eu com a coisa, sempre precisaremos dessa união material, logo perecível, pode ser a construção do funcionamento do pensamento. Por isso que ao passar por uma operação, muitas vezes a pessoa apaga e pronto, o corpo apagou por conta de uma reação química no organismo, alguma droga ou remédio, e tudo aquilo que é afetado por uma afetação química em nosso corpo, o cérebro, é inevitavelmente uma construção do próprio corpo, não sendo separado dele.

O meu eu foi desfragmentado após a leitura, posso me compreender como uma única coisa, aquilo que chamamos de alma é só uma ideia, essa ideia é do próprio eu, é o eu, não podendo existir longe dele. Definitivamente a ideia é mais complexa que isso, recomendaria que lessem as pesquisas sobre o eu, sobre o pensamento e principalmente as ideias de Sam Harris sobre o eu, que podem não ser explicadas com linguagens leigas ou filosóficas, mas que, quando conhecidas, mudam por completo nossa visão do que somos e de como o mundo funciona.

Sou uma coisa que está progredindo, mas uma coisa única, sem separação entre o eu e a essência, não posso me tornar o que sou, porque sou e pronto, no máximo serei de acordo com minha transformação gradativa, e se me perguntarem novamente para onde vou depois que o corpo morrer, infelizmente toda questão será pensada e não poderei separar o eu do pensar, pelo menos quanto algo separado de mim; isso significa que não conseguiremos separar ou fazer nosso pensamento sobreviver? Não significa, mas não é um agente místico, é apenas uma tentativa humana de salvar esse fenômeno do pensar ou simular isso em algum lugar, não sendo a mesma coisa, mas é para isso que nosso progresso existe, para sobrevivermos e burlarmos as leis da natureza. Sou meu eu e ele acaba de desaparecer, ou melhor, não sou meu eu, porque não existe o meu, apenas o eu. Definitivamente não posso mais falar “meu eu”, porque eu não tenho um eu, eu sou um eu. Sabe o que é mais assustador? Talvez eu não seja nem eu, mas o eu seja uma construção do que sou, então sou apenas o sou.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

19/02/2014 - Uma Crítica ao Livro "A Morte da Fé" de Sam Harris (Ou, Onde foi Parar o Meu Eu?)

Em termos subjetivos, a busca do “eu” parece implicar um paradoxo: afinal, estamos buscando exatamente a coisa que está fazendo a busca. Milhares de anos de experiência humana sugerem, contudo, que o paradoxo aqui é aparente: o problema não é apenas que o componente da nossa experiência a que chamamos de “eu” não pode ser encontrado; a verdade é que ele desaparece quando procuramos de forma rigorosa. – Sam Harris

Terminando a leitura do livro “A Morte da Fé” de Sam Harris, percebi que outra crença tinha se quebrado em mim, mesmo que ele diga que não está falando sobre o pós-morte, e que certamente não sabemos (ainda) o que acontece, temos pistas para seguir e ele lança tais pistas durante o livro. Harris não tem medo de meter o dedo na ferida, defende o combate ao terrorismo e tira a maldade da justiça para deixar apenas com o terrorismo ou ignorância, também critica o pacifismo como grande componente para deixar o mundo seguir suas linhas caóticas, e tudo com o pano de fundo da fé, principalmente a religiosa, onde mitologias são tratadas como verdades e leis ou costumes são guiados por elas, reduzindo a possibilidade de qualquer avanço civilizatório, fica a impressão de que temos uma guerra acontecendo, e Sam Harris deixa claro que a tolerância com a intolerância chega a ser maldade, porque quando um lado começa com suas atrocidades, eles nunca respeitarão a passividade daqueles que não se dobram, por isso os homens sábios que não se dobram precisam usar, talvez das mesmas armas, de atrocidades permitidas contra estes homens “atrócitos”. É gostoso defender a ideia pacífica de mundo, mas o mundo não é pacífico e não vai nos respeitar, então, a verdade estará sim de um lado, e este lado que contém a verdade, precisa lutar pela liberdade e segurança daqueles que amam.

No decorrer do livro fiz algumas considerações que colocarei aqui para não ter que reescrever as mesmas coisas que senti, com isso vemos alguns erros de interpretação e acertos que tive durante a leitura, também o choque de como nossa vida e visão de mundo pode mudar, para melhor, embora mais seco, mas não mais insensível.

Diários de Leitura:

1) Leitura iniciada hoje de manhã, o primeiro capítulo já é show de bola. Fala sobre os malefícios da fé, de tempos em tempos é bom ler esses caras para abrir os olhos. Meu primeiro Sam Harris. Já li Hitchens e Dawkins, agora quero ver Harris... Depois Dennett. Meus adoráveis e corajosos hereges.

2) Continuando com a leitura, acho que hoje li 200 páginas, sério, o livro é incrível, Sam Harris é mais feroz que Dawkins, não só faz a crítica ao "salto de fé" e ao "Não questionar" como um dos escudos da fé, como aponta e demonstra nas palavras daqueles que critica o ridículo dos mesmos, e pior, não pega leve com as pessoas de "fé moderada", ou no popular "os não praticantes", estes no mínimo precisam ignorar o que pede sua fé, pra não falar de toda informação que não querem receber ou entender para perpetuar suas mitologias. Estou na parte que fala sobre o Islamismo, e caramba, 4 páginas foram só de trechos que pedem para seus fiéis matarem hereges, como se isso fosse algum problema moral da sociedade; mas ele mostra alguns trechos pacíficos (para não falarem que ignorou), mas tão pequenos e insignificantes que a fé, no decorrer deste livro, vai começando a feder, e quanto mais ele mexe nas profundezas da fé, mais ela fede. Harris tem uma linguagem mais clara que Dawkins, e ironicamente, é mais educado, mesmo criticando, sabe ser cortês com quem critica. Livro fantástico, já entra para a lista de melhores do ano, como o ano está só começando, outros fantásticos podem aparecer.

3) Lendo Livros que seriam queimados na fogueira, porém, importantíssimos.

4) Tem a nova (já velha) classificação do ateu militante ou radical como neo ateu ou algo parecido (até simpatizo com a coragem), mas por enquanto (porque posso mudar) vou me rotular artisticamente de um Ateu Pós-Moderno.

5) Caramba. Sam Harris está fritando minha cuca com suas explicações neurológicas sobre a Consciência e o 'Eu', é maravilhoso e ainda tenta explicar sobre como funciona esse fenômeno de acharmos que há um Eu separado da parte física do corpo, capítulo final e denso. Maravilhoso, mas extremamente complicado, pede atenção redobrada, e olha que ele tenta esquecer os termos técnicos da neurociência e usar metáforas para fazer o público leigo entender.

6) PQP Sam Harris destruiu meu 'Eu'. Foi o tipo de informação que me mudou, que doideira. Não é a primeira vez que a neurociência explica nosso funcionamento de forma crua. Ele tocou em um assunto delicado sobre nossa suposta dualidade que me deixou tenso. Cacetada. Ele é mais violento que Dawkins, explica tudo perfeitamente. Estou boquiaberto, vejo eu mesmo de forma diferente. Maldito. Perfeito, mas maldito.

7) Acordei cedo pra finalizar a leitura de “A Morte da Fé” de Sam Harris, e não é uma crítica a morte da fé como me perguntaram, é mais sobre a necessidade da morte da fé ou como ela morre diante da racionalidade, o livro é bem escrito e violento, apesar de focar no combate ao Islamismo, é dividido em 3 partes, na primeira fala sobre o que é fé e quais seus malefícios, então começa o ataque ao Islamismo e passeia por outras crenças, criticando e aliviando umas, mas nunca fazendo-as válidas, então finaliza chocantemente na neurociência destruindo a sensação de 'Eu' independente do cérebro, jogando a consciência pra casa do chapéu, consciência sendo uma consequência natural da máquina e não um fenômeno isolado, mas ele cria uma versão racional do entender-se parecida com as meditações da vida, só elimina qualquer vestígio de transcendência sobrenatural ou conotação divina. Ainda estou depurando as últimas informações porque são muitas e complexas. Já posso afirmar que Sam Harris não perdoa nada e consegue destruir até a noção do 'Existir um Eu além de mim'. PQP.

8) Embora possa parecer certeza da morte absoluta, e em certos pontos é, Sam Harris deixa claro que AINDA não se pode afirmar o que tem depois da morte, independente disso, parece claro que é algo mais natural e não místico, ainda mais com os novos testes sobre inteligência 'virtual' ou simulações de consciência em máquinas que no mínimo desmistificam a sobrenaturalidade ou importância de nossas consciências, com isso a resposta que ele tenta não dar sobre a morte, parece parcialmente respondida. No geral, não somos tudo isso que achamos. Seu filho da mãe.

Acho que tudo que podia ser dito sobre a leitura foi dito, nos momentos finais tem uma pegada new age de espiritualidade, mas ele trata disso como um encontro de si mesmo, que nada tem a ver com espiritualidade. Talvez o problema da consciência continue para estudos, como ele diz que estão avançando, mas é inegável que um neurocientista pode nos falar mais do funcionamento do cérebro, do que qualquer padre ou pastor, e se nestas explicações cerebrais surgirem informações que invalidem qualquer mitologia, então devemos aceitar ou pelo menos sermos sensatos para não acreditarmos em besteiras. O certo é que não sabemos o que acontece depois da morte (ainda), mas parece que cada vez mais, essa solução se aproxima de uma resposta ou resultado lógico e material, a única questão em aberto sendo pesquisada e estudada está na consciência ou essência da consciência, mesmo que esta seja algo além de nós, ou corpo separado, embora a inexistência do “Eu” elimine boa parte da consciência como a conhecemos, parece ser resultado de outros fenômenos biológicos, e quando a máquina perecer, tais resultados não sobreviverão isoladamente. Muita pesquisa será feita, este final foi mera especulação e conclusão minha, que sim, mudou muita coisa, principalmente sobre nosso egoísmo de sermos o centro do universo, porque, ao mesmo tempo em que somos parte dele, somos tão insignificantes, isso muda tudo, o homem pode mudar absolutamente tudo, até mesmo burlar a natureza, um exemplo disso é a camisinha (que ele usa de exemplo em algum momento), então, não sei onde as tecnologias levarão nossa sabedoria ou consciência, mas parece que o mundo, ou os processos naturais que aconteceram nele são mesmo os precursores desta bagunça e complexidade que somos, nada surgiu por passe de mágica.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

16/02/2014 - As Limitações de Nosso Mundo Idiotizado

"Why have a civilization anymore if we no longer are interested in being civilized?" - Filme "God Bless America".


(Escrito em 2013)
O mundo, desde sempre, e não quero generalizar, somente dizer que é assim com a maioria, cabendo aqui pequenas exceções, vem ao longo dos anos mostrando incapacidade para dialogar construtivamente ou sobre algo que realmente importa. Não consigo mais fingir, mas assuntos idiotas me deixam raivoso e desiludido quanto ao futuro deste país que deixa claro o que será pelo que já é de acordo com o que pensam. Em qualquer lugar que apareço, não conheço uma criatura que saiba levar um diálogo inteligente conhecendo dados, fatos e exemplos, ou até mesmo num raciocínio próprio, os assuntos giram em volta da mesma questão: Mulheres e como são gostosas e quem pegaria quem, quais pegaram e quais vão pegar; quem vai jogar no fim de semana, quais os times que jogaram e como jogaram; não falo contra os esportes porque esporte é bom exercício físico, mas para quem pratica e não para quem assiste e faz disso pensamento diário ou razão de viver. Outros assuntos variam, mas quase sempre sobre coisas idiotas que não nos levam para lugar nenhum, ou lugares comuns enfeitados com novas palavras; quando surge um assunto mais inteligente é quase sempre cópia de frase lida na internet ou dita em algum programa pseudo-inteligente que na verdade só serviu para o telespectador comprar algum produto ou ter certa publicidade jogada em seu inconsciente. Não há mais o assunto debatido pelo intuito de construção interna para melhoria do ser humano ou para compreensão de sua existência e de um progresso em relação ao convívio uns com os outros, pelo contrário, a idiotização cria guerra de diferenças enquanto todos se padronizam, são diferenças catalogadas que acabam por tirar a independência escassa da pessoa e fazê-la mais um entre seus iguais diferentes.

Não fico contente, sinto-me incomodado; mas lá vêm eles dizendo que nem só de seriedade se vive, que temos que nos dar ao desfrute de sermos bobos e divertidos ou qualquer coisa parecida às vezes, mas pergunto quando é que levam alguma coisa a sério se fingem que isso não é constante? Nunca. É constante. E quando levam a sério, esquecem no segundo seguinte para se tornarem novamente idiotas. Alguns ainda dizem que é um momento de descontração, que estão tirando onda, mas eu pelo menos sei quando a pessoa está em um momento tirando onda, e quando aquilo é o máximo que ela consegue ser.

Há quem coloque a culpa em sua classe social desprovida, sei por experiência que isso não procede; não sou rico, nunca fui, sempre penei, combati desempregos cruéis, ou empregos que me exploravam, e sempre ultrapassei essas dificuldades indo às bibliotecas, comprando livros em promoções, assistindo documentários na Internet, conversando com pessoas (infelizmente só conheço gente que mora longe e que passa pelo mesmo) que por vezes têm o que acrescentar e me ensinar, e vejo em um balanço geral aos 30 anos, que aprendi tanto de diversas maneiras que o fator ter dinheiro, pelo menos quando o assunto é adquirir conhecimento e cultura, é apenas um detalhe.

Neste exato momento escuto a bela ópera “João e Maria” de Humperdinck, comprada em uma banca de jornal nestas coleções baratas, com um encarte que se lido dignamente ainda serve de aula completa sobre todo processo da ópera, o quê significa, qual sua história e tudo mais. Não é difícil e não é proibido tentar, sinto prazer quando este surge de algo que posso aprender e principalmente compreender, não sendo uma agressão ao bom senso; quando olho para o lado e todos defendem o direito de descerem até o chão, rebolarem e insultarem uns aos outros com melodias que agridem anos e anos de lutas pelo respeito, insultando até mesmo a liberdade que se conseguiu neste exercício extremo de liberdade impensada. É proibido ser vulgar? Não. Eu gostaria que fosse proibido? Não. Eu gostaria que diante de tanta liberdade, escolher não ser vulgar podendo ser, não fosse opção, mas tentação que mostrasse que seu desejo é maior que o levar-se pelo instinto. A vida é complexa, há este instinto animal que mostra que bicho pensa em sexo, bicho pensa em diversão, bicho não quer raciocinar, quer ser instintivo como todos os outros bichos, e dentro disso, mesmo sendo bichos, criamos algo chamado civilização inteligente e cerebral, que tem qualidades que não podemos negar e só tais qualidades nos permitem viver cada vez mais e criarmos máquinas e condições para podermos melhorar nosso ambiente; tornamo-nos civilizados em um nível nunca visto se comparado com todas as criaturas que vivem, por este motivo não podemos agir como as demais, temos que controlar o instinto para sermos cerebrais, o homem que não controla o próprio instinto, infelizmente permanece como mais um entre tantos bichos “irracionais” da natureza, abrindo também exceção para que eu o trate como bicho; isso não quer dizer que vou humilhá-lo ou violar seu direito a vida e dignidade, mas que ele não pode, em hipótese alguma, participar de decisões do mundo civilizado, como política, educação e progressos sociais. A vida é assim, só pode participar ativamente da civilização humana aquele que for humanamente civilizado. 

Há os pequenos humildes que se defendem dizendo, “Eu não penso nisso porque não entendo”, “Não consigo aprender”, “Estes assuntos não se discutem”, “Cada um tem seu ponto de vista”. Mentira, todo mundo pode aprender se tiver o mínimo de esforço, chega a ser um insulto ao bom senso e invés de ver tal pessoa com passe livre para ser idiota, vejo com infelicidade por ser, além de burra, preguiçosa e acomodada. E sobre o péssimo gosto artístico que ultimamente tem me incomodado, tendo que escutar o sempre vulgar “Gosto é igual cu, cada um tem o seu”, tenho para mim que esta frase não poderia estar mais certa, “Gosto é igual cu, cada um tem o seu, há quem limpe e quem deixe sujo”.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

14/02/2014 - Sobre Nossa Doce e Natural Incivilidade

A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo. - Herman Hesse


Acho engraçada toda tentativa de civilizar o homem ou o mundo, somos todos bichos e ridículos, homem civilizado é quase um paradoxo. Termos um cérebro capaz de parecer e almejar civilidade é igualmente paradoxal, entra em choque com nossos instintos mais puros ou com qualquer paixonite insana. É muito fácil gritar de horrores quando uma atrocidade acontece, quando um ato incivilizado bate em sua porta, mas nestes momentos você não está imune de sentir o mesmo horror, de tornar-se bicho para recriminar ou querer dar o troco na mesma moeda, ou então, transformar em um discurso de ódio e civilidade o seu medo, instinto e pavor da insegurança.

Alguns animais funcionam bem em sociedade, abelhas, formigas e é isso que consigo pensar, mas não somos formigas e nem abelhas, cada criatura precisa ser analisada de acordo com seus movimentos e o que sabemos dela, temos dados suficientes para saber que a história do homem é repleta de guerras, crueldade e insanidades em geral, colocando o homem na prateleira dos incivilizados, o que não é ruim, é só nossa triste (ou não) condição; querer que o homem seja mais do que é parece utopia que só vai nos perturbar. Homens querem matar e querem criar leis para seguir, porque sem elas não saberia como agir, e mesmo assim teríamos que debater quais as qualidades que uma criatura incivilizada tem para poder construir regras de como agir.

Quando esbarramos em um ato de crueldade ou incivilidade, são também os nossos instintos que estão em cheque, ficamos horrorizados, e o horror também é instinto, o medo também é parte insana do cérebro mostrando que, mesmo sem agirmos, está desconfortável e se entregando aos instintos. Quando nos deparamos com este ato cruel, não temos moral para nos rebelar, fazer justiça ou criar proteção, simplesmente porque o homem afetado é fruto de seus anseios, não é mais imparcial para julgar, se é que existe algum julgamento imparcial. Muitos dizem “Você defende o criminoso porque o crime não foi cometido contigo”, e isso é verdade, simples e pura verdade, mas se o crime não lhe afetou, não causou desregulamento em seus parafusos cranianos, talvez você seja o mais capacitado para pensar friamente, isso porque não exploramos o fator “pensar friamente” como afetação insensível da sociedade, a sociedade é isso, um misto de gente insensível com gente ultrassensível, ou você está afetado e não tem moral para julgar, ou não está afetado e nunca saberá como aquela dor é, porém, saber como a dor é não significa que a pena precisa ser proporcional, ou que estamos imunes a não sentir dor, ou que não merecemos sentir dor, o merecimento da dor é bastante complexo, já que muitas coisas que afetam e magoam uns, não afetam outros. Talvez a melhor forma de julgar seja perder alguém, passar pela dor, e depois, quando já superada, conseguir julgar tendo como base que a dor sempre passará, mas sabemos que é impossível viver sem perder alguém ou sem sentir dor. Tudo ganha outra visão quando é você que comete o crime ou causa a dor, outras questões surgem, como os motivos que o levaram, as afetações que passaram por tua cabeça, mesmo que insanas, e futuramente você se questiona como pôde se deixar afetar sendo que não é tão malvado quanto no dia que agiu, necessidades de causar dor, azares, ocasiões ou simplesmente a vida que o leva para aquela sinuca, então, sua vida bate de frente com outra jornada, e num ataque de fúria o outro é eliminado, você precisa conviver com isso, e mesmo sabendo que “já foi”, “Já passou”, não pode seguir sua vida, a sociedade não permitirá, foi enlaçado por seus instintos em uma sociedade instintiva que nega até as últimas consequências o fator instintivo da mesma. Ter cometido um crime não significa que você é uma pessoa ruim, mesmo que naquele momento tenha tido as piores intenções, do mesmo jeito que sofrer as consequências de um crime não significa que você seja pessoa boa, e quando deseja “fazer justiça”, apenas se torna criminoso com apoio da justiça, pra não falar do ridículo que é “existirem pessoas capacitadas para fazerem justiça por você”. Até entendo o fator “pessoas qualificadas” fazendo justiça, mas a vida é um grande “deixar pra lá”, ser tombado por uma onda e depois levantar como se nada tivesse acontecido e seguir adiante.

Nossos instintos são perigosos, mas são naturais; não consigo considerar o ser humano como membro de sociedade organizada, como podemos considerar formigas e abelhas, não somos aquelas criaturas, somos essas, e essas que somos são perecíveis, autodestrutíveis, e é na destruição que tudo se balanceia, seria ridículo defender que na natureza tudo se renova, coisas morrem e vivem, mas eliminar o homem deste círculo; os homens estão no mesmo barco e são partes da natureza, existem crimes para balancear, enquanto gente vive e nasce, é triste, mas é só o curso natural das coisas.

Não sei se existe fortaleza ou moral para julgarmos qualquer coisa, sei que existe vontade, a vontade de julgar, de fazer justiça, de eliminar aquilo que faça a sociedade perecer, mas isso de laranja podre que tem que ser eliminada é utopia, mesmo que eliminássemos todas as laranjas podres, e quando nos tornássemos essa laranja? E acredito até, que mesmo eliminadas, outras surgiriam, porque inevitavelmente a discórdia é parte fundamental, a podridão está em nós como salvação e renovação do mundo.

Não quero fazer ode aos assassinos, mas existe um assassino mesmo que metafórico dentro de todos nós, seja quando você assassina a liberdade alheia, quando ostenta uma inteligência e capacidade de fazer ligações e ter raciocínios, para animais que somos onde na natureza qualquer inteligência é fútil e perecível. Então, não posso entregar solução, apenas fortalecer a não solução que precisaríamos abraçar, nossa aceitação do caos, na impossibilidade de civilizar os seres humanos, ao mesmo tempo em que podemos, mesmo sem sermos civilizados, conhecer cada vez mais o mundo, os sentimentos e o universo que nos rodeia.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

12/02/2014 - Sobre o Tedioso Mar da Superficialidade e da Preguiça Mental

Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir. – René Descartes


Adoro debater apenas porque gosto da busca pela verdade ou da aproximação da verdade, mesmo que não exista verdade ou exista uma relativa, mesmo que isso de ser relativo também seja relativo e algumas coisas não sejam. Essa introdução foi grande porque existe gente que não presta atenção no texto, simplesmente procura brechas para desviar de assunto ou interromper o raciocínio, sempre, é claro, querendo mostrar sabedoria sem argumento algum. Mas compro briga, ou pior, suscito discussão, quase sempre por conta de algo que estou descobrindo ou lendo, então, vou falar com alguém... Esquecendo que nem todos estão informados, e não quero criticar os desinformados, eles podem apenas estar em outra “vibe”, preocupados com as coisas de sempre, seus cotidianos, trabalhos ou diversões, mas minhas inquietações são específicas e muitas vezes peculiares, aí fica difícil, é claro que a Internet ajuda, podemos conhecer pessoas que estão interessadas no assunto, o problema é que sou antissocial até em redes sociais, e Internet é aquela coisa, é mais uma arena para gladiadores do que um palco civilizado para debates... Procuro alguém e sempre me decepciono com o grau de informação zero que carrega contrastando com a força gigantesca para retrucar sem conhecimento. Acho até que a arena de guerra pode se estender para nossa vida, certos assuntos são vistos como tabus, ou pior, quando é questão desta contra aquela ideia, os desinformados para não ter que se informar, simplesmente reduzem o debate à “é bobeira debater isso” ou “isso no final é a mesma porcaria que aquilo”, é brochante, vou munido de informações, lembro de vários livros que li, documentários que assisti, filmes sobre o assunto, matérias, jornais, todo tipo de fonte, e lá estou, pronto com os argumentos e esperando contra-argumentos para rebater ou/e aprender, mas nunca surgem contra-argumentos, o que surge é uma desvalorização do debate ou apenas degradação dos pontos, o que cansa, realmente cansa. Isso não quer dizer que não debato mais, mas não escolherei mais qualquer um a esmo, são poucos que na era da informação querem estar informados, e são muitos os que, mesmo desinformados, tomam para si a credibilidade de um debatedor. E se eu “bater a real”, falar sobre isso com quem julgo ser péssimo debatedor, serei acusado de metido, vão até generalizar falando que “todo anarquista” é metido e arrogante, “Todo ateu” se acha superior... Só porque de uma forma ou outra eu me encaixo em certo grupo ou tenho pequena afinidade com algum. Hoje todo mundo acaba esbarrando sua personalidade em um grupo, isso é normal, mas não, para insultar quando percebem que não estamos dando atenção para suas asneiras, resolvem atacar outros só porque somos parecidos, quando na verdade deveria ser específico e corajoso para dizer que “Eu sou arrogante e metido”, deixando implícito que ele “foi descartado por não trazer credibilidade ao debate”.

Quero fazer ode ao se informar. Tem gente que diz que é bobeira, que o assunto não interessa, e aí já era, vai bagunçar o tabuleiro, arrulhar vitória e sair batendo asas. Sou da turma que não acha nenhum debate inútil, nada improdutivo, apenas porque tento me informar sobre isso, e não podemos ignorar as informações que trazemos, muitas vezes ao defender uma coisa, percebo que conheço argumentos bem melhor do que aqueles usados pelo oponente para me desafiar, ou seja, eu seria meu melhor desafiador diante da desinformação do outro.

Faz parte da informação não buscar um lado, mas buscar todos os lados, quando vamos debater é interessante colocar a questão já com todas as cartas na mesa, temos essa e essa informação, em qual resultado podemos chegar? É disso que falo.

Estou ficando cansado dessa palhaçada, sou demasiado inquieto com todas as questões que rodeiam o mundo. Pode ser tudo em vão? Ótimo, então isso também é um debate, precisamos de informações filosóficas para debater isso, mas não, os preguiçosos da existência tão pouco estariam dispostos a ler uma página que fosse sobre metafísica. Quero saber sobre como tudo funciona, como o ser humano funciona e acho que aprender é nosso bem mais precioso e mais precioso até que bens materiais, simplesmente porque o que você aprende fica contigo, todo resto pode ser roubado ou perdido, ou esquecido e apodrecido, não veremos um ladrão apontando uma arma para tua cabeça e exigindo que você passe sua informação, e mesmo que seja um agente, um espião, mesmo ao passar a informação, você continua com ela.

Não sei se me fiz entender, só debato com quem estiver informado, e não estou falando de muita informação, não estou falando de apenas ler o título do texto, filme, documentário ou ler uma resenha, falo de ter conferido a informação na íntegra, de ter feito comparações se possível, isso é se informar, não navegar no mar da superficialidade. Isso não significa que sou o cara mais informado do mundo, sou um verdadeiro estúpido para certas coisas, mas tenho força de vontade e quero poder conversar com todo mundo, tenho para mim, como obrigação, que, quando um assunto surgir, vou simplesmente pesquisar sobre isso, mesmo que perca o sono e fique entediado, mas o saber não me entendia, a humanidade sim, ou melhor, a particularidade da humanidade.

Vi em algum lugar que a informação tem um aspecto geral e um particular, quando você pode olhar o todo e se guiar em uma direção, mas o importante seria ver o particular, ou melhor, os vários particulares e ir subindo até ter a visão do todo já que compreende suas particularidades que podem conter exceções, a maioria das pessoas olha de cima para o todo e dá um veredito superficial. Quero adentrar nas particularidades, singularidades, detalhes e realmente saber... Então, depois de ter sido desinformado, que é sim uma vergonha, tento saber usando este método do aprendizado e finalmente voltar ao debate para dar o meu parecer, mesmo que seja tarde, pelo menos eu saberei, o que já é algo. Nunca me arrependi de nenhuma informação aprendida, mesmo que eu não use, está comigo, eu sei, e isso quer dizer muito, mesmo que me chamem de arrogante. Estou adaptando esta parte do singular para o geral de acordo com ideias bacanas de “Reorganizar a Sociedade” de Comte, mas indicaria também “Discurso do Método” de Descartes (que ensina a como saber), e seria bem interessante “Leviatã” de Thomas Hobbes (que fala coisas sobre a natureza humana e passeia rapidamente por uma metodologia do saber, ou uma explicação).

Estou neste nível de já ter pesquisado até sobre como pesquisar, de saber até como saber, mas é porque dou grande valor ao conhecimento, não estamos falando de inteligência, já falei em outro momento que é complicadíssimo, mas apenas de poder debater, ter credibilidade para falar, da vontade de aprender, e não do rebaixar os momentos de tensão craniana para continuar vivendo no conforto da preguiça mental. Não debato mais com preguiçosos e desinformados.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

11/02/2014 - Sobre o Pânico do "Não me Toques" ou "Não Toques em Minha Fé" (Respeito: Um Escudo pra Covardes)

“O importante é não parar de questionar.” Albert Einstein

Tremo de medo quando alguém diz que a fé de qualquer pessoa não pode ser contestada, pior ainda quando defendem esta afirmação dizendo que as pessoas que saem da linha não foram movidas pela fé, mas por algo de ruim de sua personalidade ou provocados por uma força maior maligna, na verdade tentam livrar a fé de qualquer culpa, quando se faz algo bom foi movido pela fé, quando se faz algo ruim voltam-se aos instintos humanos, tudo muito conveniente. Mas esquecem que para alguns homens de fé certas coisas que para outros homens de fé são boas, para eles são ruins, e vice-versa, então por lógica alguém está errado, e o certo e errado varia, sim, o certo e errado varia, mas o sentimento de que alguém está errado cria o monopólio da fé, quando alguns homens julgam que somente a sua fé é a correta, toda conveniência fica para julgamentos alheios. A arte de ter fé é principalmente arte de julgar aqueles que não têm ou que acreditam em algo oposto (mesmo dentro de uma fé diferente) como não parte da fé, é a arte da contradição, porque abraça a hipocrisia e sai de mãos dadas com o fator umbiguístico de como ver as coisas, falam em tolerância, mas não toleram uma visão diferenciada ou cética do assunto.

A fé não pode ser separada das coisas ruins, principalmente porque, se para a fé alheia isso que você faz é errado, logo, tua fé tem um fator negativo, dizer o contrário significa dizer que a fé oposta é errada, e logo, engrandeceria a própria e seria um hipócrita ao defender qualquer tolerância. Então a fé é boa e má, tudo isso ao mesmo tempo, não está livre de ser culpada por coisas ruins que acontecem por ela, levando-nos à ironia de não poder mais falar ou afirmar que um homem de fé que agiu de má fé fez unicamente por instintos humanos ou poderes sobrenaturais malignos, mas unicamente pela fé, porque acreditava que era o certo, e nada pior do que ter uma convicção de que um ato maldoso e desumano faz parte de seus deveres morais.

Muitos envolvem a fé numa redoma, como se esta fosse intocável e não pudéssemos questionar seus homens, mas só existe um motivo para colocarmos coisas em redomas, colocar coisas na estante dos intocáveis, e este motivo é que, tudo que necessita de grande proteção é facilmente quebrável, facilmente questionável e cheio de buracos e irregularidades, ou seja, só precisa de proteção aquilo que não se garante, uma ideia fraca, uma ideia que tem o teto de vidro, e falo de ideias, não de pessoas, embora nossa civilidade, ou suposta civilidade, evoluiu para defendermos seres humanos porque como as ideias, somos fisicamente quebráveis. Ninguém é de chumbo, e junto com as pessoas, as ideias, que também não são de chumbo. Uma ideia forte é aquela que está posta na mesa para questionamento, quando tudo que pensamos sobre ela pode ser debatido, refutado ou corroborado, ideia fraca é cheia de “não me toques” ou abraçada pela ideia (também fraca) da necessidade de respeito. O respeito que conhecemos (mesmo complexo) é um escudo que impede que qualquer um seja tocado, como diriam comediantes/críticos estrangeiros, tudo é ofensivo, e mais vale criarmos casca grossa para colocarmos nossos conceitos em cheque ou sobrevivermos aos ataques do mundo, porque só assim nos fortalecemos, do que nos proteger fechando os olhos para todo tipo de questionamento. Aquele que não se questiona e não questiona as próprias ideias, não chegará nunca a uma evolução, pelo menos mental e de consciência do mundo, ficarão eternamente obscurecidos pelas trancas dos dogmas e tabus.

Sim, o respeito é a armadura para defender tabus, tabus estes que sempre foram quebrados por uma quebra da armadura. Penso na escravidão ou em outros tantos escudos, era insano querer questionar e defender os direitos de pessoas e suas dignidades falhas, mas no momento que ousaram evoluir, o respeito às ideias retrógradas precisou ser quebrado, só assim vislumbramos possibilidades de um povo mais livre. O respeito para com as ideias de todos os tipos, sejam religiosas, de fé, espirituais, futebolísticas, políticas, metafisicas e conceituais é apenas um esparadrapo que criaram para impedir que o teto de vidro quebre, mas esquecem que é necessário quebrar este teto, e só assim uma verdadeira luz solar poderá invadir o recinto e esquentar os corações humanos.

Questione, fale de tudo, aborde todos os temas, não há tabus que não mereçam ser debatidos e até destruídos. Quem sabe um dia o homem seja livre, verdadeiramente livre, sem as raias do “não me toques”, porque mais ridículo que um “não me toques” é um “não toques em minhas ideias”. Você quer se sentir confortável, quer sentir que tem um chão firme para pisar, quer que tudo fique como está? Que suas ideias não mudem, ou pior, que se fortaleçam? Antes caminhar no incerto e na dúvida do que adentrar nas cavernas do estático e imutável, porque tudo que é imutável não evolui, seja em essência, que você pode chamar de espírito, ou palpavelmente em nossa caminhada rumo ao progresso.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

10/02/2014 - Uma Crítica ao Livro "Ainda Resta uma Esperança" de J.M. Simmel

1- O homem tem o direito de viver pela sua própria lei/ de viver da maneira que ele quiser;/ de trabalhar como ele quiser;/ de brincar como ele quiser;/ de descansar como ele quiser;/ de morrer quando e como ele quiser. – Aleister Crowley


Ao saberem que sou fanático por leitura, esquecem que criei senso crítico e acham que aceito qualquer porcaria. Não quero insultar quem curte tais livros, acho que toda leitura é válida, mas fazer ode a um livro estúpido é demais para minha cabeça. Por isso me dou o direito de não gostar, de discordar e achar certas leituras um insulto. Depois de ver uma amiga entusiasmada com uma leitura, falando que eu “tinha porque tinha que ler”, pedi que trouxesse o livro, aos poucos fui lendo e desconfiando da leitura; muitas vezes as pessoas não indicam livros porque são bons, mas porque existe uma cultura de salvação pela leitura, esse é outro problema complexo que abordarei em outro momento, não indicam porque acham que é bom entretenimento ou vai nos fazer mais inteligentes, engrandecedores e críticos, ou que o livro significa ousadia e provocação aos sistemas estabelecidos, pessoas são simples, indicam porque percebem que você está em um momento ruim, e querem que você encontre a paz, infelizmente as pessoas usam livros como usam suas religiões, infelizmente as religiões usam a arte literária para se passar por arte e simplesmente regurgitar seus ensinamentos em nossos ouvidos e bom senso, com foco em eliminar, doutrinar e nos fazer mais adeptos dos santos e seus demônios. Aconteceu comigo infelizmente, não preciso ser salvo, ninguém precisa ser salvo, a não ser literalmente se você estiver se afogando, sendo assaltado ou pronto para morrer e necessite de uma ajuda direta, de outra forma nenhum espírito precisa ser salvo, absolutamente nenhum, não existe salvação e nem essa porcaria de espírito, talvez uma essência perturbada, mas antes de salvá-la, é preciso aprender que esta perturbação faz parte do mundo e temos que conviver com isso.

Aconteceu com a leitura de “Ainda Resta uma Esperança”, e nem sei por que aceitei lê-lo, mas a pessoa que indicou estava tão feliz, tão confiante que era uma leitura obrigatória e principalmente que eu precisava lê-la, que li. Tudo bem, só podemos criticar depois de ler, foi o que fiz, agora tenho “moral” para sentir-me afrontado.

J. M. Simmel é um caso complicado de autor, poderia ser colocado nas estantes de autoajuda, espíritas ou religiosos, e não é o espiritualizado inteligente de Hermann Hesse, sua espiritualidade é realmente doutrinária, ele é explícito e moralista, julga a negatividade como se o mundo não precisasse dela, inverte todos os conceitos para humilhar seres perturbados e de visão peculiar da vida; é necessário que eu defenda a perturbação apenas porque esta é tão importante quanto a paz, ambas são irmãs gêmeas e devem ser respeitadas, ele usa de sua religiosidade para julgar qualquer desconforto como “pecaminoso”, afinal, como ele mesmo diz, “O único pecado é não ter esperanças”, ora, como isso? Pecado? E fora que a esperança, mesmo que boa para alguns, traz o lado perigoso do contentamento ou do conformar-se com pouco. Não, “não existe pecado do lado de baixo do Equador, vamos fazer um pecado rasgado, suado a todo vapor”, ou “Eu quero ter tentação no caminho porque o homem é o exercício que faz”. J.M. Simmel equivoca-se em seu discurso esperançoso, seu livro vira uma literatura espírita na versão católica ou doutrina dominante. O livro começa bem, o personagem que achamos ser o principal quer se matar, até aí achei ousado, embora o tema não seja novo, mas suicídio é tabu e isso sempre rende boas histórias, até que o cara é zombado de todos os lados, invés de serem compadecidos a ele, acham que o homem está “de frescura”, e isso não é crítica à sociedade que desvaloriza a dor, é simples e pura visão do autor e de seus personagens, até que o personagem é jogado para segundo plano e o protagonista vira um senhor esperançoso, bom e moralista ao extremo, todos o adoram, ele é responsável por boa parte de trechos inteiros da bíblia colocados neste romance mosaico.

Não sei se é por ter sido criado ao lado dos grandes romancistas, lembro-me de ler Victor Hugo em Trabalhadores do Mar, leitura densa e pesada, para depois de mais de 500 páginas ver tudo ir por água abaixo, ou então Conde de Montecristo passando parte de sua vida remoendo uma vingança para depois arquitetar tudo, ou até mesmo Ratos e Homens de Steinbeck que é a coisa mais desoladora e real do mundo, Os Ratos da literatura nacional que conta terrivelmente a agonia de um cara comum, ainda lembro de Kafka, Camus, entre outros mestres da verdadeira crítica social... Mas “Ainda Resta uma Esperança” é um livro fraco, sem atrativos, sem ousadia, a própria critica social não é destinada aos sistemas e verdadeira guerra, mas aos homens que com fé no coração poderiam resolver seus problemas, com deus, fé e amor, ora, isso é chamar a vítima de culpada, é desvalorizar a dor humana. Antes ver a trajetória de um homem que perdeu tudo e vai enlouquecendo para sentirmos a verdadeira crítica social, do que ver todas as dores rebaixadas ao posto de frescura, ver essa ode à esperança exagerada por trechos de um livro santo que representa o desrespeito do autor com os diversos credos que o leriam, mas ele é um autor específico, e para seu público ele pode ser eficaz, não podemos chamar isso de literatura engajada (porque é nítido que ele tenta ser engajado), se eu quisesse ler a bíblia eu leria a bíblia, mas como já li a bíblia, sei que existem livros de fantasia bem melhores e mais emocionantes que ela. Poderia lidar com este romance como um livro de fantasia onde tudo é superado, tudo acaba bem e toda lição de moral é passada, mas o livro falha até nisso pelo ridículo das soluções mágicas que surgem, é o problema de “Deus-Ex-Maquina”, porque, por pior que esteja, o homem ainda será culpado por sua dor, como se o escravo fosse culpado por sentir-se triste por ser escravo, e não o senhor de escravos ou a sociedade por escravizá-lo, da cartola surge uma solução e aí tudo acaba bem, até dinheiro cai do céu no romance, todo mundo é bom, nobre, todo mundo se reúne para ajudar todo mundo, a união faz açúcar ou rouba açúcar, quem ler entenderá; para uma mente fraca em arquitetar soluções criativas, mesmo para uma trama específica para cristãos que abraçam ursinhos carinhosos, o livro deixa a desejar.