quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

19/02/2014 - Uma Crítica ao Livro "A Morte da Fé" de Sam Harris (Ou, Onde foi Parar o Meu Eu?)

Em termos subjetivos, a busca do “eu” parece implicar um paradoxo: afinal, estamos buscando exatamente a coisa que está fazendo a busca. Milhares de anos de experiência humana sugerem, contudo, que o paradoxo aqui é aparente: o problema não é apenas que o componente da nossa experiência a que chamamos de “eu” não pode ser encontrado; a verdade é que ele desaparece quando procuramos de forma rigorosa. – Sam Harris

Terminando a leitura do livro “A Morte da Fé” de Sam Harris, percebi que outra crença tinha se quebrado em mim, mesmo que ele diga que não está falando sobre o pós-morte, e que certamente não sabemos (ainda) o que acontece, temos pistas para seguir e ele lança tais pistas durante o livro. Harris não tem medo de meter o dedo na ferida, defende o combate ao terrorismo e tira a maldade da justiça para deixar apenas com o terrorismo ou ignorância, também critica o pacifismo como grande componente para deixar o mundo seguir suas linhas caóticas, e tudo com o pano de fundo da fé, principalmente a religiosa, onde mitologias são tratadas como verdades e leis ou costumes são guiados por elas, reduzindo a possibilidade de qualquer avanço civilizatório, fica a impressão de que temos uma guerra acontecendo, e Sam Harris deixa claro que a tolerância com a intolerância chega a ser maldade, porque quando um lado começa com suas atrocidades, eles nunca respeitarão a passividade daqueles que não se dobram, por isso os homens sábios que não se dobram precisam usar, talvez das mesmas armas, de atrocidades permitidas contra estes homens “atrócitos”. É gostoso defender a ideia pacífica de mundo, mas o mundo não é pacífico e não vai nos respeitar, então, a verdade estará sim de um lado, e este lado que contém a verdade, precisa lutar pela liberdade e segurança daqueles que amam.

No decorrer do livro fiz algumas considerações que colocarei aqui para não ter que reescrever as mesmas coisas que senti, com isso vemos alguns erros de interpretação e acertos que tive durante a leitura, também o choque de como nossa vida e visão de mundo pode mudar, para melhor, embora mais seco, mas não mais insensível.

Diários de Leitura:

1) Leitura iniciada hoje de manhã, o primeiro capítulo já é show de bola. Fala sobre os malefícios da fé, de tempos em tempos é bom ler esses caras para abrir os olhos. Meu primeiro Sam Harris. Já li Hitchens e Dawkins, agora quero ver Harris... Depois Dennett. Meus adoráveis e corajosos hereges.

2) Continuando com a leitura, acho que hoje li 200 páginas, sério, o livro é incrível, Sam Harris é mais feroz que Dawkins, não só faz a crítica ao "salto de fé" e ao "Não questionar" como um dos escudos da fé, como aponta e demonstra nas palavras daqueles que critica o ridículo dos mesmos, e pior, não pega leve com as pessoas de "fé moderada", ou no popular "os não praticantes", estes no mínimo precisam ignorar o que pede sua fé, pra não falar de toda informação que não querem receber ou entender para perpetuar suas mitologias. Estou na parte que fala sobre o Islamismo, e caramba, 4 páginas foram só de trechos que pedem para seus fiéis matarem hereges, como se isso fosse algum problema moral da sociedade; mas ele mostra alguns trechos pacíficos (para não falarem que ignorou), mas tão pequenos e insignificantes que a fé, no decorrer deste livro, vai começando a feder, e quanto mais ele mexe nas profundezas da fé, mais ela fede. Harris tem uma linguagem mais clara que Dawkins, e ironicamente, é mais educado, mesmo criticando, sabe ser cortês com quem critica. Livro fantástico, já entra para a lista de melhores do ano, como o ano está só começando, outros fantásticos podem aparecer.

3) Lendo Livros que seriam queimados na fogueira, porém, importantíssimos.

4) Tem a nova (já velha) classificação do ateu militante ou radical como neo ateu ou algo parecido (até simpatizo com a coragem), mas por enquanto (porque posso mudar) vou me rotular artisticamente de um Ateu Pós-Moderno.

5) Caramba. Sam Harris está fritando minha cuca com suas explicações neurológicas sobre a Consciência e o 'Eu', é maravilhoso e ainda tenta explicar sobre como funciona esse fenômeno de acharmos que há um Eu separado da parte física do corpo, capítulo final e denso. Maravilhoso, mas extremamente complicado, pede atenção redobrada, e olha que ele tenta esquecer os termos técnicos da neurociência e usar metáforas para fazer o público leigo entender.

6) PQP Sam Harris destruiu meu 'Eu'. Foi o tipo de informação que me mudou, que doideira. Não é a primeira vez que a neurociência explica nosso funcionamento de forma crua. Ele tocou em um assunto delicado sobre nossa suposta dualidade que me deixou tenso. Cacetada. Ele é mais violento que Dawkins, explica tudo perfeitamente. Estou boquiaberto, vejo eu mesmo de forma diferente. Maldito. Perfeito, mas maldito.

7) Acordei cedo pra finalizar a leitura de “A Morte da Fé” de Sam Harris, e não é uma crítica a morte da fé como me perguntaram, é mais sobre a necessidade da morte da fé ou como ela morre diante da racionalidade, o livro é bem escrito e violento, apesar de focar no combate ao Islamismo, é dividido em 3 partes, na primeira fala sobre o que é fé e quais seus malefícios, então começa o ataque ao Islamismo e passeia por outras crenças, criticando e aliviando umas, mas nunca fazendo-as válidas, então finaliza chocantemente na neurociência destruindo a sensação de 'Eu' independente do cérebro, jogando a consciência pra casa do chapéu, consciência sendo uma consequência natural da máquina e não um fenômeno isolado, mas ele cria uma versão racional do entender-se parecida com as meditações da vida, só elimina qualquer vestígio de transcendência sobrenatural ou conotação divina. Ainda estou depurando as últimas informações porque são muitas e complexas. Já posso afirmar que Sam Harris não perdoa nada e consegue destruir até a noção do 'Existir um Eu além de mim'. PQP.

8) Embora possa parecer certeza da morte absoluta, e em certos pontos é, Sam Harris deixa claro que AINDA não se pode afirmar o que tem depois da morte, independente disso, parece claro que é algo mais natural e não místico, ainda mais com os novos testes sobre inteligência 'virtual' ou simulações de consciência em máquinas que no mínimo desmistificam a sobrenaturalidade ou importância de nossas consciências, com isso a resposta que ele tenta não dar sobre a morte, parece parcialmente respondida. No geral, não somos tudo isso que achamos. Seu filho da mãe.

Acho que tudo que podia ser dito sobre a leitura foi dito, nos momentos finais tem uma pegada new age de espiritualidade, mas ele trata disso como um encontro de si mesmo, que nada tem a ver com espiritualidade. Talvez o problema da consciência continue para estudos, como ele diz que estão avançando, mas é inegável que um neurocientista pode nos falar mais do funcionamento do cérebro, do que qualquer padre ou pastor, e se nestas explicações cerebrais surgirem informações que invalidem qualquer mitologia, então devemos aceitar ou pelo menos sermos sensatos para não acreditarmos em besteiras. O certo é que não sabemos o que acontece depois da morte (ainda), mas parece que cada vez mais, essa solução se aproxima de uma resposta ou resultado lógico e material, a única questão em aberto sendo pesquisada e estudada está na consciência ou essência da consciência, mesmo que esta seja algo além de nós, ou corpo separado, embora a inexistência do “Eu” elimine boa parte da consciência como a conhecemos, parece ser resultado de outros fenômenos biológicos, e quando a máquina perecer, tais resultados não sobreviverão isoladamente. Muita pesquisa será feita, este final foi mera especulação e conclusão minha, que sim, mudou muita coisa, principalmente sobre nosso egoísmo de sermos o centro do universo, porque, ao mesmo tempo em que somos parte dele, somos tão insignificantes, isso muda tudo, o homem pode mudar absolutamente tudo, até mesmo burlar a natureza, um exemplo disso é a camisinha (que ele usa de exemplo em algum momento), então, não sei onde as tecnologias levarão nossa sabedoria ou consciência, mas parece que o mundo, ou os processos naturais que aconteceram nele são mesmo os precursores desta bagunça e complexidade que somos, nada surgiu por passe de mágica.

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