Egoísmo
não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos.
- Oscar Wilde
Gosto muito daquela frase que diz “Os
incomodados que se mudem”, mas vivemos em uma época onde estar incomodado perde
vez diante da acomodação no desconforto. Tenho muitos defeitos e um deles é
acreditar que devemos preservar nossa liberdade acima de tudo, absolutamente
tudo, isso significa evitar muitas coisas que podem até ser bacanas. Voltando ao
assunto da acomodação, quantas pessoas se sentem presas aos seus empregos? Estão
infelizes, querem mudar ou simplesmente vagabundear por um período, mas a
sociedade moderna é sociedade de bois, de seguidores, de discípulos, e não de
homens que escrevem o próprio destino, e todos os argumentos são usados “Pense
direito; você tem que pagar as contas; precisa de dinheiro para manter sua vida
consumista; não é bom ter os privilégios de seu salário?”, tudo isso soa lindo
e fazem acreditar que o desligamento é burrice ou irresponsabilidade, começam a
enumerar todos os aspectos que contam contra o desligamento, e esquecem-se do
único aspecto que importa: Tua paz.
As pessoas estão demasiadamente ocupadas
em não sentir desconforto, ou pior, superar o desconforto e transformá-lo em
acomodação, não pensam em nenhum momento na paz ou no simples fato de estarem
em um lugar que não os levarão a qualquer canto. O problema é que ninguém tem
tempo para se incomodar com intensidade, a dor foi transformada em apatia, e
como é apenas a outra face da moeda da alegria, levou a verdadeira alegria com
ela para os rumos da indiferença, não existe dor e nem alegria, e só existe
alegria naquilo que você ama, simples assim.
Já escrevi em algum lugar que as pessoas
preferem ver um ente querido infeliz a desempregado, isso parece uma visão
realmente hedionda do problema; não é o descontente que se mostra vil, preguiçoso
e vagabundo, mas o inconformado por alguém estar descontente que se mostra insensível
com a dor alheia. Quando isso acontece a máscara de muitos ao redor caem, eles
se importam mais com uma convenção social do que com a felicidade daquele que
gostaria de parar um pouco e tirar o mundo das costas; não é porque você está
preso e carrega responsabilidades que não precisa, sendo medroso para se desligar,
que todos os outros precisam fazer o mesmo. Ninguém, absolutamente ninguém
conseguirá sentir a dor alheia, e no mundo atual, cheio de cobranças morais e
financeiras, querer se desligar e mudar de ares é um ato de transgressão e amor
à felicidade, é respeito à vida, quando o ser humano percebe que só se vive uma
vez, que não pode desperdiçar nenhum segundo naquilo que não lhe satisfaz. “Mas
todo mundo larga seus sonhos para ser mais um e sobreviver, porque você também
não faz isso?” Perguntariam os insensíveis. Mas a resposta é que valorizo minha
vida, meu amor próprio finalmente despertou.
Ao eliminar a importância do
descontentamento de alguém que já não suporta a vida que leva, estamos
destruindo tanto ele como seus sonhos e individualidade, para que ele se torne
mais um, para que ele suma e deixe de viver, ele apenas existirá.
Existem pessoas que vieram ao mundo para
grandes coisas e estas pessoas precisam estar atentas aos seus
descontentamentos, para que possam voltar ao caminho, se desligarem dos
afazeres “responsáveis” e trilharem buscando suas particularidades.
Quando jogam na cara do descontente tudo
que ele perderia ao se desligar de um emprego, estão querendo moldá-lo e trazê-lo
de volta ao jogo da normalidade ou da apática vida social; falam que precisam
trabalhar para pagar a conta da Internet, pode ser uma verdade, mas antes
cancelar seu plano virtual e lutar bravamente atrás do que deseja do que continuar
no mesmo lugar sofrendo apenas pra manter um gasto fútil e nunca buscar seus
sonhos. Então temos as contas bancárias, todas as facilidades que um banco pode
lhe proporcionar, você pensa em desistir de pedir demissão, mas pense bem, teu
sonho e tua paz é mais importante, mais nobre seria cancelar tua conta, simples
assim. E todos os bens materiais? É muito bom chorar e sofrer em Paris como
dizem os mantras capitalistas, mas é melhor sofrer de bolso vazio ou até morrer
pela miséria se isso aliviar tua consciência.
Simplesmente não suporto os argumentos
preguiçosos e acomodativos da maioria dos “anti-pedir-as-contas”.
O assunto fica mais complexo quando o
infeliz tem família e filhos, aqui não quero julgar, certamente eu não julgaria
se o homem pedisse demissão e com isso adquirisse paz, nenhum pai descontente
com o emprego, por melhores condições que dê aos filhos consegue ser um bom
pai. Aos solteiros, pensem bem, quanto menos ligações e obrigações com
terceiros você tiver, melhor será sua jornada em busca de teus sonhos e mais
fácil será se desligar quando precisar de um pouco de paz, com isso acredito
que a felicidade só pode estar no desligamento das obrigações com terceiros e
no total desrespeito às opiniões dos conformados em não terem sonhos para
buscar e que por isso sentam “no trono de um apartamento com a boca escancarada
cheia de dentes esperando a morte chegar”.
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