sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

07/02/2014 - A Frouxidão dos Alheios aos Exercícios "Debatetivos" dos Certos e Errados


A meta de uma discussão ou debate não deveria ser a vitória, mas o progresso. – Joseph Joubert 


Sou contraditório nestes exercícios opinativos, ora defendo nossa animalidade, depois defendo direitos humanos, mas não é difícil de conceber, defendo a animalidade no sentido de uma volta aos tempos das cavernas e naquelas condições para que possamos aflorar nosso verdadeiro eu, como isso é impossível, defendo a boa educação. Nos últimos anos todos os tipos de debates surgiram, diversos por semanas, onde valores são confrontados, o que é certo e errado, bom ou cruel, absolutamente tudo está em xeque. Não posso negar que o debate e a discussão com argumentos inteligentes são indispensáveis para nosso amadurecimento civilizatório, porém, existem os resistentes, são aqueles que não querem tomar um partido, e muitas vezes é possível tomar partido concordando com alguns pontos opostos, mas não tomam, fogem e se anulam, e muitas vezes, para piorar a situação, tentam desmoralizar os debates e fingir que suas piadas e “tiradas inteligentes” são mais importantes que a tentativa humana de chegar ao consenso, ou o simples estímulo cerebral, porque, não importando os lados, todo mundo fica mentalmente estressado e acaba aprendendo pelo menos alguma coisa, talvez até se tornem mais humanos ou, mesmo que cruéis, mais inteligentes. Já falei que inteligência não significa bondade, então, defendo o direito de qualquer lado debater e defender seu ponto de vista se isso o ajudar a recolher dados e manipular suas informações de forma criativa e inteligente para tentarem defender aquilo que acham que deve ser defendido, e neste exercício de defender um ponto, mesmo que equivocado, surge algo que fará a pessoa desconfiar dela mesma, e se for mesmo inteligente, poderá até abrir mão do que pensa, mas é só neste debate, neste confronto que conseguirá se colocar em xeque, para fortalecer suas ideias ou deixá-las. Infelizmente os “piadistas” do meio termo ou do “não tomar partido” estão pouco se importando. 

Estes piadistas trazem um argumento, mesmo que não entendam, válido, o argumento de “Tanta gente boa, tanta gente arrotando bondade e o mundo está uma merda, porque o mundo não está bem se todos se dizem tão superiores?”. O mundo é mais complexo que uma luta, mais sutil que uma ação, e as palavras muitas vezes mudam mundos e são relevantes, podemos pegar como exemplo algum grande autor que fale alguma sabedoria, guarde-a para a posteridade, e tempos depois, alguém acha e realmente muda de vida por conta disso, isso é possível, eu sou o resultado de todas as minhas leituras e principalmente de todas as leituras que mexeram comigo. E é isso, os argumentos e debates têm o poder de mexer com as pessoas, e elas criam textos para explicar, pesquisam e tentam entender, assim o cérebro é estimulado e todos saem ganhando, mas ainda no quesito comportamento, isso é fundamental, o mundo não precisa apenas de alguém indo lutar pelos necessitados ou indo para a guerra com eles, o mundo precisa também de palavras, de pessoas e seus discursos, porque discursos mudam o mundo, e nem só de grandes atos vive o cotidiano, cotidiano que é aquilo que mais nos afeta, mesmo que implicitamente, são nossos pequenos atos, e não falo da versão poética dos pequenos atos, falo de nossa personalidade, de nosso comportamento, em mil debatedores existirão logicamente 100 (chutando por baixo) que uma hora ou outra ficarão com peso na consciência e vão querer colocar em prática aquilo que são nos debates, isso é bom para o mundo, ou pelo menos o transforma, mesmo que seja em um comportamento arrogante, porque a transformação é importante em qualquer sentido, se espalharmos arrogância servirá de exemplo póstumo (exemplo de um Nazismo que não mais retornará da maneira que foi, talvez de outra forma), ou coisas boas como já falei. 

Comigo funciona assim, de tanto escrever e debater pelos direitos humanos e outras filosofias diversas, isso se incorporou a minha personalidade de forma cruel, posso encontrar uma pessoa pelada andando pelas ruas que não a espancarei, tão pouco chamarei a polícia por atentado ao pudor, simplesmente vou ignorar, no máximo ficarei surpreendido, mas aprendi a respeitar a liberdade excêntrica das pessoas. Consigo conversar com qualquer um de classe social, de cargos diferentes, posições de superioridade, porque sou bem resolvido neste sentido, não acho que sou inferior e se percebo que a pessoa se acha superior, tento baixar a bola dela, é minha ideologia de justiça agindo, não estou no campo de batalha, mas estou sendo aquilo que acredito e aprendi com tantos textos escritos, debates e ideologias pensadas. Nenhum exercício mental é em vão quando exercitado singularmente, excluo lavagens cerebrais e tento pensar em alguém que consiga analisar bem uma ideia. 

Tem gente que critica os debatedores não porque compreende o que é debatido, mas apenas pra botar banca de "o sensato" ou pior, para conseguir uma "tirada inteligente". Gosto de debates, eles são importantes e até podemos perceber que um lado tem a razão, nem tudo é "estão debatendo inutilmente", "Vão fazer algo de importante", "Esperto sou eu que tenho meu lado, mas prefiro ficar olhando e me fazendo de superior". É como falei, o “meiotermismo” ou o "não tenho lados" muitas vezes é posição frouxa e medrosa, enquanto os lados se digladiam e com isso aprendem alguma coisa, os “meiotermistas” ou sem-lados apenas abrem a boca e deixam a baba escorrer. 

Recentemente passei a noite em claro pesquisando sobre Bonés, algo irrelevante se eu pensar bem, não afeta minha vida, se alguém reclamar do meu posso tirá-lo, é algo irrelevante, porém, era tanta coisa que não pude parar, para encontrar uma colega que disse que fico perdendo tempo com bobeiras, não é bobeira, o boné e o assunto podem até ser, mas faz parte de nossa personalidade, da construção de nosso eu e de nosso saber, tudo que temos é nosso cérebro, estimulá-lo é honrar nossa existência. 

Debater e discutir faz parte da construção da personalidade, agora, se vai para um caminho bacana não posso dizer, mas pelo menos vai para algum lugar, o que é melhor que petrificar. Este texto não é sobre um debate específico, é sobre a necessidade do debate e sobre como alguns tentam desvalorizar isso apenas porque estão cansados de tantos debates ou não compreendem nenhum lado. Seja de que lado estiver, tente ser humano, tocar outra alma humana, reconhecer o outro lado, e principalmente, saber que o uso de teu cérebro, mesmo saindo estressado, é o melhor caminho para se tornar qualquer coisa e tocar um instante de lucidez dessa coisa complexa que somos, é quando o homem se percebe vivo, percebe o mundo e as questões ao redor, e então participa. Você viveu e poderá morrer em paz, você viveu, isso quer dizer muito. Perceber-se com um cérebro é perceber-se vivo. Pode acontecer de não sabermos se estamos certos ou errados, navegaremos no escuro, mas estaremos navegando, e isso já é alguma coisa.

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