terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

11/02/2014 - Sobre o Pânico do "Não me Toques" ou "Não Toques em Minha Fé" (Respeito: Um Escudo pra Covardes)

“O importante é não parar de questionar.” Albert Einstein

Tremo de medo quando alguém diz que a fé de qualquer pessoa não pode ser contestada, pior ainda quando defendem esta afirmação dizendo que as pessoas que saem da linha não foram movidas pela fé, mas por algo de ruim de sua personalidade ou provocados por uma força maior maligna, na verdade tentam livrar a fé de qualquer culpa, quando se faz algo bom foi movido pela fé, quando se faz algo ruim voltam-se aos instintos humanos, tudo muito conveniente. Mas esquecem que para alguns homens de fé certas coisas que para outros homens de fé são boas, para eles são ruins, e vice-versa, então por lógica alguém está errado, e o certo e errado varia, sim, o certo e errado varia, mas o sentimento de que alguém está errado cria o monopólio da fé, quando alguns homens julgam que somente a sua fé é a correta, toda conveniência fica para julgamentos alheios. A arte de ter fé é principalmente arte de julgar aqueles que não têm ou que acreditam em algo oposto (mesmo dentro de uma fé diferente) como não parte da fé, é a arte da contradição, porque abraça a hipocrisia e sai de mãos dadas com o fator umbiguístico de como ver as coisas, falam em tolerância, mas não toleram uma visão diferenciada ou cética do assunto.

A fé não pode ser separada das coisas ruins, principalmente porque, se para a fé alheia isso que você faz é errado, logo, tua fé tem um fator negativo, dizer o contrário significa dizer que a fé oposta é errada, e logo, engrandeceria a própria e seria um hipócrita ao defender qualquer tolerância. Então a fé é boa e má, tudo isso ao mesmo tempo, não está livre de ser culpada por coisas ruins que acontecem por ela, levando-nos à ironia de não poder mais falar ou afirmar que um homem de fé que agiu de má fé fez unicamente por instintos humanos ou poderes sobrenaturais malignos, mas unicamente pela fé, porque acreditava que era o certo, e nada pior do que ter uma convicção de que um ato maldoso e desumano faz parte de seus deveres morais.

Muitos envolvem a fé numa redoma, como se esta fosse intocável e não pudéssemos questionar seus homens, mas só existe um motivo para colocarmos coisas em redomas, colocar coisas na estante dos intocáveis, e este motivo é que, tudo que necessita de grande proteção é facilmente quebrável, facilmente questionável e cheio de buracos e irregularidades, ou seja, só precisa de proteção aquilo que não se garante, uma ideia fraca, uma ideia que tem o teto de vidro, e falo de ideias, não de pessoas, embora nossa civilidade, ou suposta civilidade, evoluiu para defendermos seres humanos porque como as ideias, somos fisicamente quebráveis. Ninguém é de chumbo, e junto com as pessoas, as ideias, que também não são de chumbo. Uma ideia forte é aquela que está posta na mesa para questionamento, quando tudo que pensamos sobre ela pode ser debatido, refutado ou corroborado, ideia fraca é cheia de “não me toques” ou abraçada pela ideia (também fraca) da necessidade de respeito. O respeito que conhecemos (mesmo complexo) é um escudo que impede que qualquer um seja tocado, como diriam comediantes/críticos estrangeiros, tudo é ofensivo, e mais vale criarmos casca grossa para colocarmos nossos conceitos em cheque ou sobrevivermos aos ataques do mundo, porque só assim nos fortalecemos, do que nos proteger fechando os olhos para todo tipo de questionamento. Aquele que não se questiona e não questiona as próprias ideias, não chegará nunca a uma evolução, pelo menos mental e de consciência do mundo, ficarão eternamente obscurecidos pelas trancas dos dogmas e tabus.

Sim, o respeito é a armadura para defender tabus, tabus estes que sempre foram quebrados por uma quebra da armadura. Penso na escravidão ou em outros tantos escudos, era insano querer questionar e defender os direitos de pessoas e suas dignidades falhas, mas no momento que ousaram evoluir, o respeito às ideias retrógradas precisou ser quebrado, só assim vislumbramos possibilidades de um povo mais livre. O respeito para com as ideias de todos os tipos, sejam religiosas, de fé, espirituais, futebolísticas, políticas, metafisicas e conceituais é apenas um esparadrapo que criaram para impedir que o teto de vidro quebre, mas esquecem que é necessário quebrar este teto, e só assim uma verdadeira luz solar poderá invadir o recinto e esquentar os corações humanos.

Questione, fale de tudo, aborde todos os temas, não há tabus que não mereçam ser debatidos e até destruídos. Quem sabe um dia o homem seja livre, verdadeiramente livre, sem as raias do “não me toques”, porque mais ridículo que um “não me toques” é um “não toques em minhas ideias”. Você quer se sentir confortável, quer sentir que tem um chão firme para pisar, quer que tudo fique como está? Que suas ideias não mudem, ou pior, que se fortaleçam? Antes caminhar no incerto e na dúvida do que adentrar nas cavernas do estático e imutável, porque tudo que é imutável não evolui, seja em essência, que você pode chamar de espírito, ou palpavelmente em nossa caminhada rumo ao progresso.

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