sexta-feira, 23 de maio de 2014

23/05/2014 - Ser Ateu - Dramas Diários e Banais

(Meus Dramas Diários e Banais)

Aquele momento quando chego no meio de uma roda de conversa e escuto a conclusão:
- Pois é, por isso falo que é importante ter qualquer religião, tem que ter pelo menos uma, Deus é o mesmo, só muda de nome, mas é extremamente importante seguir algum.

Todo mundo concorda e fico lá me coçando...

Coisas que passam por minha cabeça:
A - Entro na conversa e viro o chato da roda.
B - Fico quieto e automaticamente todos me incluem como tendo concordado, afinal, quem cala consente.

Então penso mais ainda antes de tomar a decisão:

A - Gosto das pessoas que estão na roda?
1 - Se sim e sei que tenho liberdade com elas: Deixo claro que isso é uma mentira, sou ateu e não preciso seguir nenhum Deus para ser feliz, e isso não causa transtorno algum, logo, o que falam é mentira, asneira de marca maior, o mais certo seria dizer que algumas pessoas precisam, nem todas, e muitos, inclusive eu, vivem muito bem sem acreditar, vivem até mesmo iguais, o que coloca crença e descrença como irrelevantes.
2 - Se sim e não tenho liberdade com elas: Fico quieto, saio de perto e vou ficar indignado por ter sido colocado numa generalização idiota.

B - Não gosto das pessoas que estão na roda?
1 - Não compro briga por besteiras, deixo o povo se iludir e generalizar, saio de perto, pra começar eu nem deveria estar ali, mas se sou obrigado a estar, faço o que fui fazer o mais rápido e saio logo.

Conclusão: A maioria sempre será de crentes (não importa qual crença), e eles sempre acharão que maioria significa TODOS, ou pior, que maioria significa Verdade... Mesmo Sabendo que sou ateu vão esquecer que levo uma vida igual a eles, e que minha descrença não me faz pior ou mais triste, ou mais desolado, não sou, sou da mesma laia... E outra, eles não são especiais por isso, podem ser por outra coisa, mas não por acreditarem em algo, podem até se sentirem especiais, mas se sentirem especiais não significa serem especiais... Hitler se achava superior e puro, e ele não era... na verdade ninguém é... nem eu que sou Ateu. Mas porque esquecem a lógica? Porque esquecem rapidamente que existe um ateu na roda que NÃO precisa de Deus para ser feliz, e mesmo assim afirmam que todos precisam?

Conclusão 2: Sabem de nada, inocentes.

Conclusão 3: Isso acontece com frequência absurda. Minha cara de tédio neste momento é automática. Já até escutei "Você não acredita em Deus, mas acredita em uma força né? Dá no mesmo"... Não, não coloquem palavras na minha boca, não creio em força divina alguma, nem mística, nenhuma, nada... Ok... Combinado? E por favor, isso não me faz ruim ou malvado, na verdade sou muito sentimental, gosto de abraços, conversar e trocar ideias, gosto de rir, ir ao cinema, comer Doritos, e gosto muito de meus amigos, gosto muito de meus amigos cristãos, eu não os julgo inferiores ou burros por acreditarem, apenas diferentes, e evito generalizações do tipo "Todos precisam descrer", não, cada um acredita ou desacredita no que quiser, ninguém PRECISA nada.

sexta-feira, 21 de março de 2014

21/03/2014 - Um Desiludido no Amor - Sobre Paz, Chagas e Desejos

Realmente espero que as pessoas entendam minha grande desilusão, é uma desilusão generalizada, englobando todos os setores da vida. Tudo tem um contexto e uma história de como acabamos chegando ali. Primeiro pensemos sobre a palavra desilusão, não é tão ruim quanto dizem; pensemos na palavra ilusão, a ilusão é o irreal, é o acreditar (e não falo de fé), viver de ilusão é não sentir a vida acontecendo, pode até ser ter esperança e até boa esperança, mas está longe do real, a palavra ilusão significa tecnicamente algo que não está acontecendo, viver de olhos vendados, a desilusão é perder a ilusão, ou seja, quando se perde as vendas, quando você perde o irreal você se restringe ao real, ao pé no chão, assim, ser alguém desiludido é simplesmente ser alguém que percebeu a realidade, alguém que não está iludido.


Agora que esclarecemos o significado das palavras, falo de minha grande desilusão, sou sinceramente um homem desiludido. Quando somos uma pessoa desiludida caímos no real, temos por hábito tentar entender este real, vamos destruindo cada um dos conceitos que achávamos que conhecíamos quando iludidos. Após mais de 30 anos acreditando no amor, que isso era algo viável, que era preciso quebrar minha grande timidez para conseguir vivenciá-lo, eis que venci os grandes muros de minha personalidade, fui até o limite de minhas possibilidades, venci aquilo que era intransponível em minha timidez, para depois perceber que isso não bastava, que não era necessariamente minha timidez que me impedia de viver qualquer coisa, era um problema mais complexo, em uma primeira vez foram pessoas bem queridas que me impediram de viver um amor, aquela coisa bem Romeu e Julieta modernizado, em segundo estágio foi a própria pessoa que percebeu, depois de termos conseguido ficar, que eu era bom para amizade, não para algo mais, problema bem comum para pessoas desprovidas de um padrão de beleza imposto pela sociedade, e para piorar, futuramente, sendo um ser desiludido, percebeu que este ser desiludido era a personificação de um pessimismo que só poderia atrair mais pessimismo, logo, não podia mais ser nem ao menos amiga. Falei de dois casos específicos para ilustrar, na verdade é um leque vasto, sempre fui apaixonado, essa é minha essência animalesca, meu instinto é de me apaixonar, aquela coisa de bando, de biologia e o escambau, mas então, após mais de 30 anos, todo ano uma pessoa parecia ser atraente, muitas vezes mais de uma pessoa, e muitas vezes uma pessoa se mostrou atraente por mais de um ano, e sempre, anotando em um caderno imaginário, fui tentando todas as possibilidades, absolutamente todas, afinal, “O Não eu já tinha”, e realmente eu tinha o não, porque não tentar o sim? Esta foi minha próxima desilusão, o sim era uma das tantas ilusões do homem esperançoso, tentei declarações cinematográficas, conselhos de mil pessoas, ser educado, atirado, engraçado, rude, carinhoso, atencioso, pretencioso, egoísta, absolutamente todos os tipos de artimanhas para descobrir, pela amostragem de um catálogo realmente gigantesco de “Comportamentos X Resultados” que a vida amorosa não era para mim, não sei se isso existe, mas realmente não era, nasci inevitavelmente e miseravelmente para ser amigo; aqui acontece outra desilusão, a primeira é de querer entender o significado do amor, a segunda é que a amizade começou a perder um pouco seu valor, porque, se todos que eu amava com olhos pecaminosos só me viam como amigo, então, quem tem muito amigo não tem ninguém, e tive que conviver constantemente com aquele fracasso amoroso por não poder cortar a pessoa de minha vida, porque afinal, ela era minha amiga, e os amigos que tive sem interesse amoroso, amigos em geral, algo comum, faziam parte deste negócio chamado amizade que eu já estava destinado a ter verdadeira ojeriza. A experiência destruiu o conceito de amor, o amor destruiu o conceito de amizade.

Assim começam os estudos, vamos destruindo um por um, entendendo que o amor é algo biológico, é aquela velha mania de querer propagar genes, que a amizade é o simples sentimento de bando e parceria, mero egoísmo para não sucumbirmos numa natureza selvagem... E quando menos imaginamos a vida nos fez desiludidos, agora não vivemos na ilusão, conhecemos tudo, e não queremos mais ser feitos de bobos, uma vida dura de pedra, infelizmente quem não está neste barco nunca conseguirá compreender quem tirou as deliciosas vendas da paixão.

Amar é bom? Sim, libera algumas coisas químicas no corpo e dão uma sensação de sentimento agradável... Mas a dor de cabeça não vale a pena. Podem dizer que vale sofrer e ter amado do que não sofrer e não ter amado, mas só em um primeiro momento, quando se viveu eternamente sofrendo por amar, o que mais queremos é descansar, o merecido descanso que só pode ser conquistado não mais amando, isolando-se no silêncio, na paz eterna e no mar calmo do não querer; porque quando não se quer não se sofre por não ter.

Criei um tipo de escudo contra amores, agora só vejo sujeira e dor de cabeça, vejo que é algo que não vale o esforço, ao olhar para alguma pessoa que toque meu coração, penso sim em como seria, como eu seria alguém bacana, como faria realmente a pessoa feliz, mas estes pensamentos que podem durar um bom período, acabam dando lugar aos efeitos colaterais, a todo esforço que sempre fiz por nada, as ilusões que viraram desilusões, e para não ter que passar pelo momento de mudança de ilusão para desilusão, vou logo para a desilusão, porque assim evito a transição que é sempre dolorosa, quando vejo alguém que amo, invés de pensar “Nossa, seria muito bom se estivéssemos juntos, não há ninguém como ela...”, eu penso “Já conheci tantas que fizeram meu coração pulsar, já conheci tantas que despertaram o mesmo sentimento, então isso que acontece não é nada mágico, é normal, não vale o esforço, não vale ter mais uma desilusão em meu catálogo” e a pessoa deixa aos poucos de ser desejada, o que evita muita coisa desnecessária; invés de chegar à ilusão e depois me desiludir, nem ao menos me iludo, afinal, a melhor maneira de não ser mais desiludido é não se iludindo.

Isso é triste? Depende de como analisamos. Pra que tanto esforço se no final morremos sozinhos, nascemos e morremos sozinhos, evitar tais esforços são o aumento de tempo livre que podemos gastar com coisas mais agradáveis, como dormir, olhar pro teto e esperar a morte chegar. Particularmente o amor perdeu seu significado positivo para mim, não consigo ligá-lo a qualquer bom exemplo de vida, o amor neste estágio em que me encontro é verdadeiro causador de angústias, apenas escrevendo sobre ele já tenho vontade de morrer, de não experimentá-lo nunca mais, o amor se tornou mais uma doença que precisa ser erradicada rapidamente se eu quiser sobreviver nesta terra, o amor é minha chaga, ele me destrói e me torna depressivo, o amor é minha ruína, é aquilo que me deixa insano, que me faz chorar; e os conceitos estão todos invertidos, sou uma pessoa estragada, ele me estragou, ironicamente, só consigo sobreviver e voltar a ser feliz quando me torno frio, quando analiso metodicamente, quando posso até me agarrar ao ódio, a raiva, então, não é fácil ser este baixinho que tanto sentiu, amou e agora deseja paz, é um mundo onde a raiva é a sobrevivência, onde o tédio é a paz almejada, onde o amor é a terrível doença contraída, que tanto tira nosso sono, causando suores, febres e debilidade que faz o suicídio parecer melhor que passar por tudo isso, o amor é o câncer em seu estado terminal, morrer se torna desejo tão profundo que seria desumano deixar o paciente vivo.

Posso dizer que nunca fui o objeto desejado, sempre fui o infeliz que desejou, e quando não somos o objeto, mas o agente “desejador”, é como Schopenhauer diz, o desejo e a vontade são fontes de toda infelicidade.

sexta-feira, 14 de março de 2014

14/03/2014 - Você Não Precisa Torcer Pelo Brasil na Copa

E se as pessoas descobrissem que podem torcer por qualquer time, ou nem torcer por time algum na copa? Vamos pensar em exemplos que indicam nosso desprendimento dessa baboseira de patriotismo, temos nosso tão amado e odiado cinema nacional, mesmo existindo competições estrangeiras, muita gente não torce por filme nacional só porque é nacional, as pessoas torcem pelos filmes que gostam, mas tudo bem, ainda existem pessoas que quando a categoria filme estrangeiro surge, fazem figa e torcem para nosso cinema, mesmo que não tenham assistido o filme (o que acho estranho), mas pensemos então em premiações musicais, é mais comum que as pessoas torçam para seus músicos preferidos, para a música que gostam, e não liguem muito para esse negócio de “Está representando meu país”, porque precisa ser assim com o futebol sendo que podemos considerá-lo arte como as outras? Simplesmente é estranho querer que algo que “representa” um país ganhe, não pode ser assim, quem deve ganhar é o melhor, independente de onde vem.


Em primeiro lugar: Não é você quem está ganhando, são os jogadores, no máximo você é um torcedor. Em segundo lugar: Competições sempre serão um meio de identificar quem é o melhor para que os outros se tornem excluídos. Tudo bem, o esporte é brincadeira bacana, concordo, não necessita de competição, os caras estão jogando, fazendo o que gostam, e isso já conta como exercício e diversão, mas onde está a diversão de quem apenas assiste? Desde criança sempre achei um saco visitar primos com videogames e esperá-los passar de fase para que eu jogasse um pouco, assistir o jogo do outro era chato e sempre procurávamos jogos que possibilitassem dois ao mesmo tempo. O futebol é o grande videogame onde todos jogam no campo, mas nós apenas assistimos. Qual a graça disso? Acho que todos que gostam de futebol deveriam pensar em jogar, assim faria algum sentido.

Falo apenas sobre a liberdade de poder escolher o time que quiser, se podemos torcer por nosso cantor, por nosso filme, porque não torcermos para um time, independente de que país ele vem? Pensei nisso quando vi uma notícia sobre o Japão trazer os Pokémons para serem mascotes da seleção, logo percebi que aquilo me agradava, e se eu quisesse torcer pelo Japão? Vão me chamar de antipatriota, mas o desvalor do patriotismo está em achar que as pessoas que estão dentro da mesma demarcação de terra são melhores que as pessoas do lado de fora da demarcação.

Acredito muito no escritor H.G.Wells quando defende em sua obra “Uma Breve História do Mundo” que o mundo não deveria possuir fronteiras, como era em seus primeiros anos antes das descobertas, as fronteiras não existiam, cada um vinha e ia para onde quiser; como funcionariam copas do mundo naquela época? Não existiam copas, mas se existissem, acho que seria como os filmes, times de todos os tipos, com suas características, cada um torceria por aquele que mais simpatiza, não existiria esse negócio de “Meu Time imposto”, penso até nos times característicos de cada cidade, sem as fronteiras torcer por Palmeiras ou Flamengo teria o mesmo peso, você não teria que ter um time de São Paulo para torcer, simplesmente torceria por um time que gostasse; poderíamos entrar nos méritos de não torcer por nenhum, ora, porque essa obrigação? Muitos podem falar que há certa irmandade entre os Brasileiros, que é um só coração, e todas essas coisas bacanas, mas mesmo assim, se não existissem as obrigações de pátrias, em um mundo de 7 bilhões de pessoas, você certamente seria este um só coração do time que resolvesse escolher, do mesmo jeito que no dia do Oscar milhões de pessoas, independente do país, torceram pelo Mexicano Alfonso Cuarón e seu Gravidade, é a qualidade ou nosso gosto, é a simpatia que temos, e não a obrigação, porque ser torcedor é emoção quando se dirige os olhos para algo que você ame por ter escolhido amar, e não por ter dado a sorte ou azar de ter nascido neste ou naquele país.

Patriotismo nunca cheira bem, podemos defender um grupo de pessoas que estão ao nosso lado e provavelmente fazem parte de nosso bando e nos proporcionam segurança, mas nunca todos dentro de determinada área significarão nosso bando, a afinidade vem do afeto e do convívio, não do espaço físico, do mesmo jeito que em um ambiente de trabalho ou escola simpatizamos com estas e aquelas pessoas, não somos amigos de todos; se em algo tão importante e direto, como o espaço físico de uma empresa ou escola, que realmente afetam nossa vida, não precisamos ser “um só coração” com todos ao redor, porque seríamos com os estranhos invisíveis da mesma pátria?

quinta-feira, 13 de março de 2014

13/03/2014 - Minha Pequena Ode ao Cinema

Não sou pessimista com o cinema, sou entusiasta de todas as artes, mesmo sabendo que precisamos aprimorar nossos gostos, sei também que dentro de um gênero existem formas e formas de analisar, pode ser que uma comédia vazia seja a maior estupidez do mundo, não agregue nada, porém, dentro do gênero “comédia vazia” temos que saber o que é bom ou ruim com as regras daquela área, ainda existem os atores, mesmo um ator ruim, e pegarei como exemplo o mais bombardeado pelos cults, Adam Sandler, sei que Adam Sandler só se analisa tendo como base os filmes de Adam Sandler, e aí podemos falar se o filme é bom ou não. Tenho orgulho de estar inteirado sobre o lixo e o luxo, e me deleitar com o lixo e o luxo no cinema. Gosto de pensar no cinema com o mesmo carinho que penso na literatura, mesmo sabendo que a literatura é minha esposa e o cinema um de meus amantes, minha esposa não é ciumenta e dialoga bem com outras artes.


Gosto de lidar com a arte com a alegria da descoberta, ainda espero pelos lançamentos, mantenho-me informado sobre diretores, atores, produtores, estúdios e tudo que está acontecendo, posso muito bem ver um filme premiado (que ninguém conhece) e chorar emocionado, como posso ver um filme de super-herói e vibrar junto com seus fãs. Estou na fila do ingresso com aqueles fanáticos doidos, ainda não tive coragem de ir caracterizado, mas um dia irei, quero vivenciar a sétima arte com tudo que está relacionado a ela, isso significa também muita coisa do mundo capitalista, mas são os anexos que esta arte ganhou, suas sequências, seus spoilers planejados, suas propagandas; a espera pela escolha de atores, e finalmente, em um lugar confortável, aproveitando também de toda nova tecnologia, 3D, IMAX, 2D, inovações, disposições, ver como é diferente vivenciar uma tela grande e se deixar emocionar com isso. Lembro que quando era desempregado, o pouco dinheiro que caía em minhas mãos eram para duas coisas: Livros e Filmes. A música ficava por conta de meu pai que sempre foi eclético e trazia muita musica de tudo para casa. Fui criado em um ambiente musical, com tio roqueiro, pais que curtiam Raul Seixas e escutávamos música não como trilha sonora imperceptível, mas com atenção, cantando, discutindo as letras e sentindo tudo que vinha dela... Voltemos ao cinema...

Passei pelas locadoras, era batata, fim de semana e feriado era ida à locadora e escolhia 3 filmes com direito a um de brinde, fazia minhas maratonas, acompanhava lançamentos, eu era o cara da fila reservada, o cara que lia nos jornais comprados por meu pai (antes da internet) sobre os filmes que eram feitos, que saíam e iam para as locadoras, gastava metade de minha mesada de criança no cinema, comprando até guias catálogos de locadoras para ter a ficha de cada ator e estudar sobre os filmes, fazia festa com as sessões na TV aberta de lançamentos, em épocas que era caro demais ter uma TV paga; não só isso, quando criança, passava horas escrevendo histórias tendo como base livros que lia, mas bem antes disso, tendo como base os filmes que assistia, acho até que meu amor pelos filmes veio antes da literatura, mas amo mais a literatura, embora cinema seja bom para casos amorosos ilícitos; quando criança desenhava pôsteres de filmes, colocava meus parentes e eu no lugar dos personagens, criava premiações imaginárias para simular um Oscar entre os filmes que achava que mereciam. Sou tão apaixonado que sempre me espanto quando descubro que saiu um filme ou vai sair, procuro alguém para dar a notícia, a pessoa lida com isso como se fosse questão irrelevante, penso “Caramba, finalmente vão transformar o Super Batata em um filme e a pessoa acha que isso não é nada demais?!? Como nada demais? Seus hereges”.

Isso é uma declaração de amor ao cinema, vivemos em um mundo onde existe algo chamado “filme” e podemos ser felizes com eles, imagine nossos sonhos não realizáveis, agora eles podem acontecer... e, embora eu ame o clássico de paixão, não ignoro o novo, olho com entusiasmo para as novas tecnologias, tudo bem que existem filmes fúteis que prezam mais pela tecnologia do que história, mas oras, filme ruim sempre existiu, podem falar que hoje a quantidade de filmes ruins aumentou, mas ora, a quantidade de filmes feitos também, todo fim de semana saem muitos filmes, logo, pelas contas, a quantidade de filme ruim é proporcional, nada mudou, o que existe talvez seja dificuldade de acompanhar tudo, de fazer a triagem, mas nada indica que não saem belíssimos filmes todos os anos e meses... então alguns saudosistas simplesmente falam que nada presta por falta de tempo de fazer a triagem.

Quando era criança tudo vinha mais demorado, filmes na TV não era novidade para quem foi ao cinema, o VHS era novidade para mim, assim que virei adolescente o cinema se tornou constante, mesmo assim reduzido, mas eu estava lá, sentindo todo sabor de como é ver algo pela primeira vez na estreia... Hoje ainda fico abismado, o filme nem ao menos saiu no cinema e já podemos encontrá-los na Internet (não sou contra isso, ainda vou demasiadamente ao cinema), e melhor ainda, se os cinemas forem filhos da puta para não quererem passar o filme, podemos encontrá-los na Internet, simples, não há nada que não podemos assistir ou conhecer.

O cinema é milagre, é maravilha, fico deslumbrado pela tela grande, pelo som, pelo 3D ou qualquer tecnologia que apareça. Se antes era dependente de um atraso para conferir o filme, hoje, por conta de revistas especializadas e pelos sites competentes, posso saber o que meu ator preferido está fazendo, acompanho meus diretores, isso é para um admirador da sétima arte o próprio céu. Sou daqueles que vibra quando descobre uma notícia sobre a gravação de um filme, quero estar ali no cinema, quero ver a história acontecendo. O cinema traduz a vida, a vida traduz o cinema e vira círculo vicioso. Tenho na vida momentos importantes e marcantes relacionados ao cinema, que estão ligados fortemente à memória, como no último dia de faculdade que dei uma banana para todos, nunca olhei para trás, e invés de estar na confraternização, fugi para o cinema onde assisti American Pie – O Casamento, ou quando me desliguei de um emprego e fugi pra assistir no cinema “Missão Impossível 4”, tantas outras histórias de salas de cinema e pessoas que me acompanharam... Meu único pesar é que nem todos ao redor são fascinados pelo cinema, de verdade, raramente um ou outro me acompanham, vou sozinho, entro em sintonia com outros cinéfilos sozinhos e deixo que a experiência faça parte de mim, é maravilhoso. A pessoa pode vir dizer que fulano de tal casou ou teve um filho, não sentirei nada, mas se falar que estão fazendo um filme sobre um tema interessante, então fico realmente entusiasmado.

O interesse e entusiasmo só podem me fazer sentir a vida mais pulsante, acho que enquanto existir interesse existirá vida.

terça-feira, 11 de março de 2014

11/03/2014 - Manifestações Brasileiras, Meritocracias e Victor Hugo

Victor Hugo foi um visionário e conseguiu captar em suas obras os grandes problemas sociais, ainda podemos usá-lo como análise para acontecimentos atuais. Quando a “Revolução dos 30 Centavos” começou no Brasil, manifestantes se apropriaram de máscaras baseadas no quadrinho “V de Vingança” de Alan Moore, precisamente na máscara do cinema, acho que não leram o quadrinho para captar a essência, podemos deduzir que tinham assistido ao filme, se não assistiram deveriam assistir. De qualquer forma a máscara do quadrinho e do filme foi baseada no rosto de Guy Fawkes, homem que foi condenado à morte por tentar matar o rei. A essência está na luta contra o poder, é isso que interessa. Ainda no mesmo quadrinho temos inspirações por todos os cantos referindo-se a obra de Victor Hugo “Os Miseráveis”, para quem assistiu ou leu o livro sabe que ali reside a verdadeira essência de nossas “revoluções”.

Victor Hugo sabia bem como funciona uma manifestação, tentativa de revolução. De um lado temos pessoas sofrendo por conta do sistema, fica latente o mito da eficiência da meritocracia, como meritocracia podemos pensar nos empregos por concursos públicos, no sistema de notas através de provas nas escolas, mas na prática a meritocracia é baboseira, em um mundo extremamente capitalista e cheio de interesses, sem imparcialidades, a meritocracia é bandeira competitiva, não funciona, em concursos públicos mesmo, não importa a nota que você tirou, se você tiver “tempo de casa” ou um diploma, ganha alguns pontos para acrescentar ao seu resultado e passará na frente de algumas pessoas que podem muito bem ter tirado nota maior. Na vida a meritocracia vira discurso de palestra motivacional, onde é a manipulação e não a necessidade do funcionário se superar que está em foco. Para piorar, a condição humana é tão miserável que muitas pessoas não vão vencer na vida por conta de suas faltas de oportunidades, não precisamos de meritocracia, precisamos de chances para todos, independente de suas capacidades, a capacidade pode muito bem surgir da oportunidade, mas é complexo. Quando li “Ratos e Homens” de Steinbeck ficou claro que a meritocracia não serve para todos, é oásis no meio do deserto, trabalhadores juntando dinheiro enquanto tanta desgraça acontece, nunca deixarão suas vidas miseráveis. Vejo ode à meritocracia por todos os cantos, quando pessoas que não têm onde morar ocupam alguma terra, aí vem o trabalhador mediano e desumano reclamar que “Porque não trabalham como eu para conseguir sua terra?”, mas esquecem que trabalhar nem sempre é certeza de conseguir seu lugar para morar, nossos problemas sociais vão além disso, precisamos esquecer nossas lutas e méritos para sermos mais humanos e aprendermos que dignidade não pode vir do mérito, mas de um direito natural das pessoas. A velha frase “Dê-se ao respeito para ser respeitado” é ilusão, pressupõem que você só respeitará se a pessoa merecer, ora, quem é você para julgar quem merece ou não? Trate todos com respeito, independente de merecimento.

Voltemos ao Victor Hugo, sua obra mostra perfeitamente como o problema social afeta as pessoas, existem os revolucionários que estão se manifestando, mas são alvos de todo sistema construído, são alvos dos poderes que desejam aniquilá-los para que a população não seja livre, são alvos da população medrosa que, mesmo representada por eles, não vão à luta e lhes negam abrigo. Podemos comparar este segundo vilão como o pior, pior que o sistema são os simpatizantes da preguiça ou do sistema, os conformados fazem tanto estrago quanto ditadores, eles zombam das manifestações, desejam que patrimônios públicos fiquem inteiros, na verdade acham que uma estátua, um prédio histórico e toda estética de uma cidade de fachada valem mais que suas próprias liberdades, é triste, Victor Hugo percebe o sistema e a desigualdade destruindo o povo, para que o povo, no ápice de sua destruição, ache que não precisa ser salvo. Que tipo de distopia é essa que vivemos e sabemos muito bem como modernas, onde o homem aprisionado é extremamente egoísta e conformado, preferindo sossego à liberdade, preferindo estética urbana à liberdade? Tem algo de muito errado no coração humano, é mais difícil fazer o homem querer ser salvo do que aprisionar este homem.

segunda-feira, 10 de março de 2014

10/03/2014 - Maturidade Transviada - De James Dean à Clint Eastwood

Definitivamente não sei o que aconteceu comigo, ando muito fechado, caladão, até no trabalho não brinco mais como antes, quem trabalha comigo sabe bem, ando retraído, não aguentando brincadeiras e infelizmente não suportando o mundo alheio. Não é bem não suportar o mundo alheio, mas passo por uma crise de “Deus da Carnificina” contra “God Bless America”, de um lado o passe livre para relaxar e aceitar minha animalidade, que não sou mais que um bicho e devo seguir os instintos e é natural que sejamos baixos, sendo até irônico tentar ser aquela coisa ultra-racional que os homens tentam; do outro lado tem aquela baita crise da futilidade do dia-a-dia, de não suportar gente fútil e vazia, ou que corre atrás do rabo indo para lugar nenhum, afinal, pra que temos cérebros e podemos ser civilizados se não somos? Estes dois filmes tão opostos acabam se chocando dentro de meu ser ambíguo, confesso que pendo mais para a anti-futilidade do “God Bless America”. Lembro-me do personagem de Clint Eastwood em “Gran Torino” e penso, “Putzgrila, estou certo em minha rabugice”, e olha que sempre fui contra machões intolerantes, creio estar me tornando um, mas minha defesa não é sequer da ultra-razão, é pela arte, e não só pela arte, mas pela gama variada de assuntos que não vejo nos demais.


Não falo nomes, confesso que tenho sorte de ter muita gente inteligente ao meu redor, mas o contraste com a quantidade de gente burra ou com falta de vontade para ser algo mais é incrível. Temos quase cem idiotas para cada um inteligente, mesmo assim aprendo às duras penas que esses poucos inteligentes tem opiniões diversas das minhas. É conflituoso, tanto de um lado quanto do outro.

Não sei sequer saber quem é inteligente, mas sei quem é burro.

Outra coisa que pode soar preconceituosa é minha raiva contra a limitação que vejo ao redor, com isso pretendo defender a arte ou o “modo culto de ser”, como me chamaram; a arte não nos limita, ela expande horizontes, uma pessoa que curte arte (Curtir do verbo gostar e acompanhar e não do verbo caí no Facebook e dei jóinha), poderia falar de amor, de ódio, de paixão, de sonhos, ou até de filosofias complexas, e mesmo que falasse de filmes, músicas ou filosofias, ela estaria falando de temas variados discutidos ou trazidos pela arte; agora, uma pessoa que não consegue ter isso em mente, prendendo-se apenas ao assunto repetitivo sobre banalidades, ou que só fala de tristeza, ou só de amor (Porque ambos são um saco), ou só disso ou só daquilo, torna-se maçante, lá vai eu exercendo ou aprendendo a exercer minha ultra tolerância (Estou quase pulando para a Ultra Violência de Laranja Mecânica). Não encontro ninguém para conversar, isso está causando um terrível choque, outro dia fui flagrado por umas conhecidas na rua enquanto EU falava sozinho, na verdade eu estava debatendo comigo mesmo sobre a ligação de um filme que vi com uns trechos de Metafísica do Amor/Metafísica da Morte que li do Schopenhauer, se fiz foi porque andava pela rua e não podia despejar tudo escrevendo, então tinha que ter com quem conversar, e só tinha eu mesmo para entender tal assunto.

Não sei, simplesmente não sei. Talvez eu esteja com TPM (Tensão para Macho), talvez apenas me tornei um louco estúpido com o ego lá em cima que diz que ninguém é bom o bastante para falar comigo, talvez seja uma fase, não sei bem. Talvez eu esteja me tornando, e com justa causa, arrogantemente admitindo ser aquele culto admitido por outro, um estranho no ninho, ou rebelde com causa em minha Maturidade Transviada, só não sou tão bonito quanto James Dean, mas sempre posso ser Clint Eastwood.

domingo, 9 de março de 2014

09/03/2014 - Momento Heroico: Minha História com o Flash

Era um sábado tranquilo, a única meta era descansar e ir à Comix comprar três revistas do Flash que eu tinha perdido na banca; na verdade tinha desistido de acompanhar o Flash, comprava, mas não lia, percebi que não precisava mais comprar, então parei de comprar, três meses depois resolvi ler todas que tinha, achei incrível e o Flash virou um de meus heróis prediletos da DC; por isso minha decisão de comprar as revistas perdidas.


Aquele sábado não era sábado qualquer, eu não fazia ideia, recém-chegado ao emprego público, descobri que existem dois sábados por ano que precisamos ir trabalhar, tudo bem, não chega a ser um cúmulo, comparo com meus antigos empregos, trabalhando de sábados e feriados, ir apenas dois sábados por ano não é nada. Mas imagine minha cara de surpresa quando descobri que teria que ir ao trabalho justo no dia especial de comprar minha tão querida revista, pois é, desanimador, mas não desistiria, quis provar a mim que existia algo mais importante que o trabalho, esta coisa era uma revista do Flash, e se formos pensar, o Flash é mais importante que o trabalho no dia de sábado, qualquer dia crio argumento para defender essa tese. Para entrar no clima, vesti uma camiseta vermelha do Chapolin Colorado, infelizmente não tinha do flash (que ainda quero), estava na vibe heroica, entrei no clima. Assim que deu o horário para sair, senti-me Homer Simpsons abandonando tudo e correndo à liberdade, podia ouvir os pássaros cantando e aquela trilha sonora de fundo, saí em disparada, queria comprar logo a revista e voltar a tempo de aproveitar meu sábado na melhor companhia possível, trabalhar de sábado (quando não se trabalha de sábado) traz vontade gigantesca de chegar logo pra fingir que não perdemos nosso dia de forma inútil; corri me sentindo o próprio flash, era um super-herói, o dia estava destruído, estava cansado, acordar cedo é era a pior coisa do mundo (ainda é, mas trabalhando de tarde não preciso acordar cedo, naquele dia foi diferente, a obrigação era ir cedo, um saco), cheguei até o farol e não pensei duas vezes...

O tempo parou, vi o sinal verde para os carros, olhei o carro vindo em minha direção, contei rapidamente o tempo, podia continuar correndo. É engraçado como o tempo breca nesses momentos, existe uma eternidade para raciocinarmos sobre voltar ou avançar, estava exatamente no meio, fiz o que tinha que fazer, prossegui, voltar era mais perigoso, eu estava errado, mas eu era o Flash, tinha força para correr, e corri...

O carro veio com tudo, virei de costa e voei, não era mais o Flash, era um Super-Homem idiota voando pelo asfalto de bunda, por sorte a bolsa amenizou a queda e a batida, fiquei zonzo e o carro freou; eu caído, minha calça rasgada, o joelho ralado, tudo em ordem, cabeça zonza, não façam isso, ou façam, tanto faz, cada um é responsável por sua vida e tem o direito de morrer quando quiser, já diria o velho Crowley, mas tudo bem, lá estava eu... A única coisa que pude pensar foi que chegaria tarde à Comix para comprar minha revista, agora era questão de honra, tinha acordado cedo, no sábado, ido trabalhar, sido atropelado... O dia tinha que ser feliz.

O típico dia que tudo dá errado. Levantei para seguir meu destino. Mas não, a motorista saiu desesperada, toda prestativa, infelizmente pessoas prestativas podem ser um pé no saco em determinados momentos e quando estamos com pressa, eu estava com pressa, não podia perder tempo naquele sábado, queria fazer tudo corrido, voltar para casa e viver, mesmo dormindo viveria para não lembrar que gastei um dia à toa. Isso veio de meu inconsciente, assim que saí de um emprego escravizante, de escalas, trabalhando de sábados, domingos e feriados, jurei que nunca mais pisaria em um emprego nestes dias. A motorista não queria me deixar sair, balancei a cabeça, estava zonzo, tonto pelo acidente, seguindo direto para a estação de trem, ela me agarrava, pedia desculpas, dizia que não queria ter feito aquilo, eu todo educado admitindo meu erro de ter atravessado com o farol aberto para ela, foi chato, fiquei com pena da mulher, um idiota como eu estragaria o dia dela, eu só queria comprar minha revista, não fui tão rápido quanto o Flash. Ela venceu, disse que me daria carona até a estação, na verdade conversou comigo durante a carona para saber se eu estava em minhas faculdades mentais, é difícil saber quando estou ou não, até quando não sou atropelado, mas tudo bem, pedi desculpas, ela pediu desculpas, eu ralado, ela com medo, disse que eu tinha que ir ao hospital ou à delegacia, mas falei que não precisava, na verdade insisti para ela me deixar na estação que ficaria tudo bem. Trocamos telefone e jurei que ligaria para falar que estava tudo bem no fim do dia.

A continuação do dia foi bizarra, eu todo ralado, suado, sujo, dentro de um trem, atravessei a cidade, fui parar na Paulista, comprei minha revista, ainda de saco cheio, cansado e ofegante, via tudo torto, enquanto eu caminhava algumas pessoas olhavam e riam; antes de voltar para casa passei no shopping da Lapa, queria comer, assim que cheguei ali, encontrei duas amigas de trabalho que nem ao menos perceberam algo, falei que tinha sido atropelado, elas não deram bola, conversavam e riam, sei que não foi ilusão, tempos depois uma delas me pediu desculpas por não ter me acudido, mas sou um cara doido e engraçado, certamente acharam que era piada, tudo bem, elas almoçaram em uma mesa, eu em outra, comemos separados e nem me convidaram, acho que eu estava mesmo com aparência de mendigo.

O dia não podia acabar mais estranho, coloquei minhas revistas junto com as outras, sorri, li na mesma hora, a história fantástica, Flash é mesmo um bom herói, tomei banho, fiquei com bunda dolorida durante semanas, até perceber, minha calça estava mesmo furada, havia um furo em minha bunda, os risos deviam ter sido por aquilo, ninguém me avisou, para piorar minha chave não estava no bolso, sei lá onde perdi, foram dias chatos para tirar cópia de chaves, tanto que não voltei a usar meu armário no trabalho, não podia abri-lo, usei outro e recomecei a vida.

Antes de dormir a motorista ligou, falei que estava tudo bem, expliquei para meus pais o que tinha acontecido, virou uma informação banal, como se fosse uma coisa banal ser atropelado. “Tudo bem, fora o atropelamento, aconteceu mais algo?”, “Acho que o atropelamento já é algo”.

Aqui vai um detalhe: Para entrar em casa sem chave, apertei a campainha de meu tio (vizinho) e pulei pelo muro dele até meu quintal, entrei pela janela do quarto de minha irmã, sentei no sofá, ofegante, agarrei a revista do Flash e rezei para ele ser tudo aquilo que eu pensava.

Detalhe Dois: Vivemos no mundo da multitarefa, meu cérebro estava trividido em alguns assuntos, ter sido atropelado, querer minha revista, e... Paralelamente, enquanto ofegava dentro do trem, troquei mensagens com uma garota que eu gostava, ela tentava me acalmar, embora eu não estivesse nervoso, só com pressa, e para variar, levei um toco dela, achei que podia usar meu atropelamento para sensibiliza-la, mas não... Nem sempre dá certo. As pessoas não ficam comigo nem por pena. Voltemos ao enredo.

O fim da história aconteceu quase um ano depois, certo dia, vendo que não tinha mais lugar no quarto para guardar revistas, peguei todas as do Flash e doei para um aluno na escola, esse aluno que era um santo, no dia seguinte virou um capeta achando que era meu amigo, mas não era, era um chato, faço coisas boas para pessoas chatas, não ligo. Só depois que doei a revista, cheguei em casa, deitei, pensei naquele dia terrível e em tudo que tinha acontecido: Acordar cedo, ir trabalhar, ser atropelado, levar um toco, andar de bunda de fora, perder as chaves, comprar as revistas... Para um ano depois dá-las como se nada tivesse acontecido, fiquei puto, muito puto comigo, por sorte as histórias estão em minha memória, o Flash é mesmo um bom herói. Acho que se eu tivesse lembrado tudo no dia da faxina, nunca teria me livrado daquelas revistas, tanto esforço, tanta desgraça, tanta doideira, para nada. É a vida.