Por Que Tão Sério? - Coringa
... Como Clarice Lispector, a vida
começa de súbito, os três pontinhos podem indicar todas as coisas que eu quis
falar antes de começar.
Receber críticas e insultos serve para conhecermos
a nós mesmos, não sobre o que somos, porque se não sabemos, dificilmente alguém
saberá, mas descobrimos quem somos pela reação diante da crítica. Não sou
maduro, não me faço de forte e não sou o macho alfa que o mundo sempre pediu
dos homens, sou um medroso de marca maior, emotivo descontrolado, mas consigo
ser razoavelmente inteligente dentro daquilo que me interessa. Então me
chamaram de imaturo por conta de uma história que contarei em outro texto, mas
aquilo mexeu com minha cabeça, na verdade tudo mexe comigo, tento saber como
mudar, como melhorar, como não magoar, manter os laços e amizades, mas nem
todos estão prontos para arrumar as coisas ou se permitir mudar, eu tento,
surto, mas estou aberto às mudanças, só não sei lidar com o “Nunca mais” e “Nem
pensar”, acho de maldade incrível deixar assuntos pela metade ou não deixarem
as pessoas se redimirem ou deixarem pra lá, mas é como funciona o mundo
moderno, os laços estão destruídos, ninguém consegue manter nada duradouro,
somos vistos como números ou colegas em um Facebook off-line onde também podem
ser eliminados e bloqueados, fora isso, fui chamado de imaturo, não que fizesse
algum sentido, era só uma ironia do destino, algo que aconteceu, daqueles crimes
sem culpados, a vida é boa pra fazer essas coisas, tudo bem, virei O Imaturo, claro
que refleti sobre isso, refleti intensamente e cruelmente, sou daqueles que se
pune, que se castiga quando algo dá errado, para que eu aprenda e não faça mais
ou não permita que isso aconteça; imediatamente joguei toda minha coleção de
ursinhos de pelúcia fora (tenho 31 anos), joguei brinquedos, doei roupas, parei
de comprar algumas revistas em quadrinhos, na verdade deixei a vida mais chata.
Isso é ser adulto? Se livrar dos brinquedos? Isso não é ser maduro e nem
adulto, definitivamente não é, porque é impossível amadurecer, falei disso em
outro texto.
Ray Bradbury, importante escritor de
ficção científica, grande crítico da sociedade, homem peculiar, criativo, gênio
em sua área, quando criança colecionava quadrinhos, talvez esta tenha sido sua
maior inspiração, antes mesmo da literatura, e um dia zombaram dele por ler
tais quadrinhos, ele se desfez das revistas, mas foi ficando depressivo, não
via mais colorido em nenhum lugar, a maior lição que ele aprendeu foi a
seguinte: Ninguém pode dizer o que lhe dá prazer, o que você tem que gostar ou o
que é ser adulto.
Ele “adolesceu” e trilhou caminhos por
sebos e gibiterias para recuperar todas as revistas, sabemos aonde ele chegou
com aquela “infantilidade”, é simplesmente um dos maiores gênios da literatura.
Ele mostrou um grande dedo do meio para a sociedade, mandou todo mundo para
aquele lugar, parou de escutar tais abobrinhas.
Ray Bradbury é um homem que venceu a
hipocrisia ou as maldades da sociedade ignorante. Sei hoje que pode até ter
sido bom eu ter me livrado dos ursinhos, na verdade não representavam nada,
principalmente porque parece que eu não me importava tanto, não sofri horrores,
mas só porque mantive um único ursinho, o meu Blaublau, pode soar ridículo, mas
ele me remete ao passado, passamos por tantas coisas, ele é apenas um objeto
inanimado, um objeto que apesar de inanimado já me fez mais companhia e
presenciou mais coisas que muita gente que nos abandona ou que não liga para
nossos sentimentos, triste este mundo onde uma pedra e um urso de pelúcia são
mais amistosos que os seres humanos que têm a capacidade de estender uma mão e
não estendem. Claro que estou sofrendo por ter parado de comprar o meu
Superman, mas meu herói predileto é o Homem Aranha e não pretendo abandoná-lo. Quando
crescemos apenas vemos estes detalhes de outra maneira, eles não representam
nossa imaturidade, mas nossa pureza, representam um mundo mais simples, certo
tipo de fortaleza.
Ser ou não ser imaturo é tão irrelevante
que não merece nossas preocupações. Podem dizer que existem imaturidades em
comportamentos, suponhamos que me achem imaturo porque tento evitar alguém que
me deprime, mas não vejo como imaturidade, vejo como um instinto tentando
preservar minha sanidade, meu Eu em busca de paz. Você disse que gosta de falar
com todos! Sim, gosto, mas quando estes não nos querem, simplesmente entro em
uma bolha e tento me proteger de qualquer vestígio da existência alheia.
Viver é a coisa mais complexa do mundo,
nossos relacionamentos ainda mais. Este texto não traz nada de inovador, é um
alerta, mantenha sua criança interior, e outra, todas as coisas não são
unicamente de gostos infantis, é realmente possível que um adulto goste de
brincar, de super-heróis, de quadrinhos, de games, todos os gostos é para todas
as idades. Isso serve para o comportamento, querer que alguém seja Adulto é tão
vago e inútil, com o tempo até acredito que ser adulto é sinônimo de ser robô; responsabilidade
até uma criança tem, são apenas responsabilidades diferentes, isso não é
privilégio do adulto ou do amadurecimento. Então, por favor, não me venham com
essa de amadurecimento. Certo dia um colega disse que quem
amadurece demais acaba podre, e deve ser a mais pura verdade, depois de amadurecer,
só nos resta o caminho do apodrecimento.
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