Una
manera de definir la creatividad es ver lo que nadie ve. – Ferran Adrià
Prometi a mim mesmo que faria um
capítulo para homenagear o cozinheiro Ferran Adrià, foi um momento incrível
quando assisti sua entrevista no “Roda Viva”, é o tipo de momento que realmente
muda a vida de um homem, algo tão difícil nos dias atuais, encontrar
inspirações que mudem nossas vidas, e há muita inspiração no mundo, mas estamos
fechados. Então o assunto será diferente, percebi que saí extasiado daquele
programa, um cozinheiro falando sobre seu ofício como quem fala de arte, e ele
é um artista, seus ensinamentos, sua técnica, tudo relacionado a ele, seus
objetivos, suas ideias e ambições, que nada tem a ver com ganhar dinheiro,
melhor ainda, já que a ode ao dinheiro está tão banalizada e parece ser foco de
tudo e de todos, mas o foco deste texto é mais profundo, quero falar de nossos
dias que estão eliminando nossas possibilidades de mudar e nos inspirar.
Assim que terminei de ver o programa
fiquei de boca aberta, o tipo de programa que não me atrai, sobre um cozinheiro;
para minha ignorância, nada podia sair dele que me interessasse, não que fosse
preconceito, mas não era minha área, no entanto, não consegui parar de
escutá-lo, e nem assistiria o programa, tinha assistido o programa anterior,
estava longe do controle remoto e não queria pegá-lo, preguiça, mas mexia na
Internet e jurava que desligaria a Tv assim que fizesse o que tinha que fazer
online, não consegui, deixei o canal ligado, saí da Internet e vi que aquilo
era o que eu precisava, que homem incrível. O problema é que eu escrevi sobre
outra coisa; durante o programa foi o paraíso, depois pesquisei sobre o homem,
então fui trabalhar no dia seguinte e outros milhões de assunto vieram à
cabeça, aí está o problema, a vida é bombardeada de informações inúteis,
pessoas inúteis, a velha mediocridade de sempre, e percebi uma coisa, o mundo
conspira para nos mediocrizar, é duro, mas é verdade, não existem inspirações e
todos estão em um barco decadente. Claro que generalizei, apesar de todos
estarmos em um barco furado, é necessário muito foco e disponibilidade para
fugir das distrações e não ser apenas um na multidão. Ser único... É isso que
todos devemos querer, mas estamos em um mundo de contagem, onde todos
representam um número, um mundo em série, de pessoas em série, de problemas em
série, nada é individual, e todo brilhantismo só surge quando o homem quebra a
barreira do coletivo para sua luz brilhar.
Essa inquietação surgiu quando percebi
que não pensava mais em Ferran Adrià, ora, e toda aquela inspiração? E tudo que
eu senti? Muitos homens brilhantes em algum momento da vida se depararam com
outro humano brilhante, e inspirado por essa luta, personalidade ou realização,
decidem que é a hora de deixar um legado, de mudar o jogo, de não ser nenhum
número, de ignorar tudo e todos, ou melhor, ignorar tudo e todos que lhe
atrasam o caminho, sabe, você sente, lá no fundo todo homem sente que está
preso numa vida que não lhe diz respeito, não lhe agrega nada, que está longe
de teus sonhos, realizações e desejos, e um corte profundo precisa ser feito, é
hora de mudar tudo para finalmente ser alguém de relevância no mundo... É assim
que funciona, a inspiração é a consciência atacada por um brilhantismo alheio, que
finalmente dá aquele baque e grita em nosso âmago “Ei, faça algo, você deve
tentar”, pode soar como autoajuda, mas o texto não é para ajudar ninguém,
apenas para criticar a falta deste instante brilhante de inspiração, as pessoas
se desligam facilmente de suas inspirações, afinal, não têm tempo para tais
besteiras, então elas sentem, como eu senti ao ver Adrià, que algo está
acontecendo, que algo precisa acontecer, é hora de mudar, mas então, você deixa
passar, deixa pra lá, vai dormir, acorda, não depura a informação, não depura o
instante de estalo, vai trabalhar, pega a condução, pensa numa vida tão
concreta de dificuldades e obrigações irrelevantes que se fazem de
obrigatórias, está tão embrenhado nesta vida, almoça, trabalha, volta para
casa, pensa nas dores de cabeça, e é tanta coletividade, tanta coisa que lhe
prende, bancos, conduções, família, amigos, absolutamente tudo, que subitamente
Ferran Adrià desaparece de sua essência, a inspiração virou transpiração (não
de ação, mas de cansaço e suor alienante) que para você tanto faz. Talvez este
texto sirva para trazer as palavras de Adrià novamente ao meu “espírito”, mas
principalmente para salvar as inspirações, os momentos de inspirações.
De nada adianta se deparar com aquela
vida magnífica, aquele mestre incrível, aquela inspiração que só acontece
raramente, como em um eclipse, se depois disso for apenas uma lembrança, apenas
a imagem de um cara que venceu ou que representa algo, ou pior, de um louco, de
um mundo estranho e irrelevante, porque não é, é relevante em sua máxima potência
porque mexe com nosso interior, mexe com quem somos.
Vi em algum lugar, talvez no filme “O
Espetacular Homem Aranha”, uma professora dizendo que só existe uma trama, e
esta trama é “Quem sou eu?” (não sei se é de outro lugar), tudo se resume a
isso. E você é aquele que se depara com um momento de mudar de vida, e tenta
mudar, mesmo que isso o destrua, ou você é aquele que se depara com o momento
de mudança interior e deixa pra lá, mas ao deixar pra lá como se fosse unicamente
um brilhantismo alheio que nunca estaria ao seu alcance, e aos poucos vai
sumindo, desaparecendo na multidão seriada, sendo mais um número, mais um
entregue às obrigações? Sim, no mundo de hoje a responsabilidade foi elevada ao
posto de escravidão, não, você não tem responsabilidade com seus filhos, com
sua família, seu trabalho e mediocridade, não há responsabilidade alguma, a
responsabilidade foi roubada por um mundo de máquinas, por um mundo sem
sentimentos, de pessoas que nascem sem pra quê, vivem sem pra quê e morrem sem terem
vivido; a verdadeira responsabilidade deveria ser aquela de você consigo mesmo
apenas... Quando critico a nova responsabilidade falo em ignorá-la, tomar tua
vida e teu legado, perceber-se único e com um papel realmente importante que
transcenda todos ao seu redor, ser unicamente quem você é, porque só existe uma
trama nesta vida, e esta trama é “Quem é você?”, e o mais importante, “Quem
você quer ser?”, e desculpe, mas se tua resposta for toda questão das condutas
de sempre, da vida, do trabalho, do pai ou mãe de família, então você não é
ninguém, você é mais um, e como mais um, nenhuma inspiração servirá para
tirá-lo deste patamar para um superior. Só me interessam os que transcendem,
Adrià é um cozinheiro brilhante, o homem fez um mousse de fumaça, deseja um
sorvete quente, um caramelo salgado ou até a bola quadrada, porque não é no
brilhantismo da cozinha, mas no brilhantismo de fazer o impensável, da
criatividade, da inteligência que não está ligada meramente aos testes de QI ou
aos concursos públicos, mas da criatividade do homem que é um Deus, do homem
que faz seu mundo, de um mundo que pode ser criado, manipulado, do tudo é
possível... aí está o brilhantismo.
Espero que a inspiração volte e que eu
não me perca em informações soltas no espaço, nas brigas cotidianas, na
mediocridade das relações humanas que tanto me fazem pensar, mas me impedem de
ser eu, do método que não transcende, da normalidade banal, quero inspirações
que mudem minha vida, que eu esteja aberto a elas, que elas sejam assimiladas,
porque vivemos em um mundo onde nada é assimilado, as coisas são debatidas por
mentes mui inteligentes, são discutidas ferozmente apenas como duelo de
informações ou de quem é o mais esclarecido, para depois sumir e dar lugar a outro
debate, mas nada criador, ninguém cria nada com aquilo que sabe, é vergonha
lamentável que a humanidade esteja gastando suas possibilidades de brilhantismo
jogando ideias ao vento e não transformando tais sabedorias em realizações... Tais
criações podem surgir de diversas maneiras, não apenas em debates no Youtube
para amanhã serem perdidos e esquecidos, ou textos fugazes em blogs, mas que
este blog tenha um conceito que transcenda o próprio blog para a imortalidade,
que o criador guarde seus textos, depure as palavras, tenha um cuidado, não
apenas foco no número de acessos de semana em semana, texto sem qualidade ou
preso às necessidades de usar palavras chaves que serão procuradas no Google
para trazer acessos, só acessos e nenhum olhar atento, e quando piscar, perder
seu valor porque é hora de outra coisa passageira, tem que ser como em “Cisne
Negro”, tem que ser perfeito, e digo mais, eterno... Tento trazer o eterno para
este projeto, tudo é construído almejando uma única obra, um conceito que depois
se desprenderá do meio e mostrará um retrato da realidade e da humanidade... A
eternidade se perdeu nos dias de hoje, infelizmente... Então vão seguindo,
parados, evaporando, e quando você menos percebe, aquela frase maravilhosa que
você leu em um livro, aquele quadro incrível que olhou por um minuto, mas que
representou todos os seus anseios, quando menos esperamos, a campainha toca, o
telefone treme, é hora de bater o catão de ponto, ou é hora de entrar na fila
do desemprego, e todas as preocupações banais destroem seus momentos diante da
inspiração, e a inspiração deixa de ser inspiração para ser o amargo suor do
cotidiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário