sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

17/01/2014 - Um Adulto com Amigos

“Se a mulher que você QUIS não te quer mais, e você só percebeu isso tarde demais, tudo bem, pois não faz a menor diferença no fim: eu tenho amigos que gostam de mim, que não vão se importar se eu ficar com a garrafa de gim só pra mim” – Matanza.

Não sou o melhor humano que passou pela terra, mas tento ser, sinceramente, tento ser uma pessoa boa e não julgar quaisquer pessoas que sejam por seus estilos de vida. Acho realmente que tudo é válido, e até esta visão pode irritar, já que consigo compreender que por trás de todo ato terrível existe um motivo ou uma afetação da personalidade que infelizmente não podemos evitar. Claro que existem pessoas que são complicadas, fazer o quê, o mundo é complexo e não é querendo que os outros sejam bons que eu serei bom.
Infelizmente (ou felizmente) tenho uma personalidade forte, não serei modesto, acredito em Schopenhauer quando diz que a modéstia é a melhor maneira de ignorar as próprias qualidades ou se desculpar por ter as qualidades que outros não têm, e não sendo modesto, sei que sou engraçado (quando quero), gente boa, tenho certa ingenuidade, embora seja esperto, minha ingenuidade está em achar que todos poderiam se relacionar suavemente, que todo mundo tem uma qualidade ou até mesmo podemos ignorar os defeitos para manter um relacionamento com pessoas difíceis. Ser como sou tem um efeito colateral, afinal, tudo que é bom (momento modéstia) tem algo ruim, e meu aspecto ruim está em minha extrema dependência emocional, talvez eu seja um cara à moda antiga, que gosta de conversas e manter contato, posso ficar obsessivo com minhas amizades. Tudo isso tem um fundo psicológico que não consigo me livrar, quando era criança eu era tímido e não me relacionava com absolutamente ninguém, muito complicado, e sempre que algo ruim acontecia, uma briga, lá estava minha irmã para gritar “É por isso que não tem amigos, por isso que está sozinho”, e não pense que isso foi algo que eu escutei uma ou duas vezes na vida e guarde para jogar na cara, isso acontecia com frequência gritante, mesmo hoje quando a desinformada quer ofender, apela para a falta de amizades, mesmo sem saber que já tenho meus amigos.
Quando passamos dos 30 anos é como o comediante Jerry Seinfeld diz, “Todos os amigos já estão aí, não temos mais paciência para começar novas amizades, não frequentamos outros lugares para conhecermos possíveis amigos, somos ocupados demais para pensar nisso”, e confesso que é grande verdade, mas numa vida incessante de escutar tais verdades sobre minha timidez que virava “castigo” pessoal, criou um problema em minha mente. Juntando timidez crônica ao jeito de nunca estar inserido em grupos, acabo me aproximando de colegas de trabalho, e comecei a trabalhar tarde, com 28 anos, adulto e sem experiência neste ramo, e para piorar, adultos não trazem o hábito de criar novas amizades, todas estão feitas, seria ridículo fazer amizades com o povo que está na fase de criar amizades, os adolescentes, é complicado. De qualquer maneira dei sorte nesta jornada pelas amizades adultas, acabei encontrando pessoas que estão dispostas a isso ou que no mínimo foram cativadas por minha devoção pela amizade. Só preciso compreender que adultos não são iguais adolescentes que trocam mensagens a todo o momento, que marcam programas, que querem sair, eles estão ocupados com relacionamentos, famílias e tudo que envolve o mundo adulto, que é realmente chato. Não acho que a amizade seja coisa só para crianças, é para todas as idades, e lendo Bauman fico ainda mais certo que não sou eu o errado, mas deveria ser algo natural; infelizmente neste mundo líquido moderno, as pessoas ou pelo menos a maioria, não conseguem mais se ligar emocionalmente, tratam os outros como amigos virtuais que podem ser ligados, desligados e bloqueados a qualquer momento. Vejo isso acontecer.
Este exercício de Diário é para me purificar de certas coisas. Fui alvo deste mundo líquido e todos os meus conceitos estão embaralhados. Ano passado fiquei com uma pessoa, estava apaixonado, depois tentei me tornar amigo, eu entrava em contato, tentava ser um cara bacana, mas eu não sou apenas isso, não sou apenas um cara bacana, sou depressivo e pessimista, mas minhas diferenças serviram para cansar esta pessoa bem querida que no dia de Natal mandou um e-mail dizendo que não queria mais ser minha amiga; com isso deduzo que terei que mudar todos os meus caminhos para dar o devido espaço a pessoa, para que ela não se sinta atacada por minha presença, sei que não sou um cara ruim, e sei por análises comportamentais que isso tudo é devido ao estranhamento por termos ficado, ela não consegue lidar com isso e sendo devota quase radical do “Pensamento Positivo” à la “Augusto Cury”, “o Segredo” e toda esta cultura espiritualista, eu, sendo ateu pessimista e depressivo personifico a imagem daquele que não deve estar ao lado, daquele que atrai coisas negativas, daquele que não serve nem para amigo. Infelizmente o mundo dos ex-amigos é complexo, não existem ex-amigos, ou você é colega, ou galga o posto de amizade, mas quando sai do posto de amigo não pode mais ser um colega, o que um sabe do outro é demasiado constrangedor para encararem-se pelas vielas do mundo.
Deixo este primeiro capítulo com desejos de prosseguir com este diário, não sei quanto tempo conseguirei ficar centrado, não sofrer pela recusa de uma amizade, pelo sentimento de que sou alguém ruim, mas pelo menos escrever torna tudo menos dramático e mais lógico, as palavras ajudam a suportar o mundo. Como diria Woody Allen, “A Vida seria um saco se não pudéssemos reclamar”. Brincadeiras à parte, não estou reclamando, estou analisando, e ao analisar eu entendo, entendendo eu não surto, não surtando eu mantenho minha sanidade, embora minha literatura morra, porque é de surtos que o meu Eu Lírico vive.

Só uma saideira: Falei de uma amizade específica que nasceu, viveu e morreu, tenho amigos e estes considero e tento manter, sou muito grato por ser um adulto com bons amigos, tenho também um melhor amigo, então acho que está tudo bem. Gosto de brincar dizendo que no caminho para ser bom, acabamos virando péssimas pessoas, mas não é de boas intenções que o inferno está cheio? Acho que os demônios merecem um voto de consideração, não que os santos sejam vistos como demônios. É melhor parar por aqui porque parecerei àquele cara que acha vantagem em ser invisível.


Ode ao Males Modernos

Alguns seres não sentem, sofrem, choram...
ainda mais no mundo em que vivemos
onde modernidade esprememos
tão líquida, sutil, nad’aprimora.

E nesta cultura avassaladora
do pensamento sempre positivo,
o pessimista vira adjetivo
bem degradante... e limpam com vassoura.

Qualquer pensamento mais “modernoso”,
qualquer visão mais crítica, afiada...
acaba bomba e míssil perigoso.

É tanta maldade e mar furioso
de quem acha que sabe, e sabe nada;

rude por fora e dentro está leproso.

Fabricio Martines Alves

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