“Se a mulher que você QUIS
não te quer mais, e você só percebeu isso tarde demais, tudo bem, pois não faz
a menor diferença no fim: eu tenho amigos que gostam de mim, que não vão se
importar se eu ficar com a garrafa de gim só pra mim” – Matanza.
Não sou o melhor humano que passou pela terra, mas tento ser, sinceramente, tento ser uma pessoa boa e não julgar quaisquer pessoas que sejam por seus estilos de vida. Acho realmente que tudo é válido, e até esta visão pode irritar, já que consigo compreender que por trás de todo ato terrível existe um motivo ou uma afetação da personalidade que infelizmente não podemos evitar. Claro que existem pessoas que são complicadas, fazer o quê, o mundo é complexo e não é querendo que os outros sejam bons que eu serei bom.
Infelizmente (ou felizmente) tenho uma
personalidade forte, não serei modesto, acredito em Schopenhauer quando diz que
a modéstia é a melhor maneira de ignorar as próprias qualidades ou se desculpar
por ter as qualidades que outros não têm, e não sendo modesto, sei que sou
engraçado (quando quero), gente boa, tenho certa ingenuidade, embora seja
esperto, minha ingenuidade está em achar que todos poderiam se relacionar
suavemente, que todo mundo tem uma qualidade ou até mesmo podemos ignorar os
defeitos para manter um relacionamento com pessoas difíceis. Ser como sou tem
um efeito colateral, afinal, tudo que é bom (momento modéstia) tem algo ruim, e
meu aspecto ruim está em minha extrema dependência emocional, talvez eu seja um
cara à moda antiga, que gosta de conversas e manter contato, posso ficar
obsessivo com minhas amizades. Tudo isso tem um fundo psicológico que não
consigo me livrar, quando era criança eu era tímido e não me relacionava com
absolutamente ninguém, muito complicado, e sempre que algo ruim acontecia, uma
briga, lá estava minha irmã para gritar “É por isso que não tem amigos, por
isso que está sozinho”, e não pense que isso foi algo que eu escutei uma ou
duas vezes na vida e guarde para jogar na cara, isso acontecia com frequência gritante,
mesmo hoje quando a desinformada quer ofender, apela para a falta de amizades,
mesmo sem saber que já tenho meus amigos.
Quando passamos dos 30 anos é como o
comediante Jerry Seinfeld diz, “Todos os amigos já estão aí, não temos mais paciência
para começar novas amizades, não frequentamos outros lugares para conhecermos
possíveis amigos, somos ocupados demais para pensar nisso”, e confesso que é grande
verdade, mas numa vida incessante de escutar tais verdades sobre minha timidez
que virava “castigo” pessoal, criou um problema em minha mente. Juntando timidez
crônica ao jeito de nunca estar inserido em grupos, acabo me aproximando de
colegas de trabalho, e comecei a trabalhar tarde, com 28 anos, adulto e sem experiência
neste ramo, e para piorar, adultos não trazem o hábito de criar novas amizades,
todas estão feitas, seria ridículo fazer amizades com o povo que está na fase
de criar amizades, os adolescentes, é complicado. De qualquer maneira dei sorte
nesta jornada pelas amizades adultas, acabei encontrando pessoas que estão
dispostas a isso ou que no mínimo foram cativadas por minha devoção pela
amizade. Só preciso compreender que adultos não são iguais adolescentes que
trocam mensagens a todo o momento, que marcam programas, que querem sair, eles
estão ocupados com relacionamentos, famílias e tudo que envolve o mundo adulto,
que é realmente chato. Não acho que a amizade seja coisa só para crianças, é
para todas as idades, e lendo Bauman fico ainda mais certo que não sou eu o
errado, mas deveria ser algo natural; infelizmente neste mundo líquido moderno,
as pessoas ou pelo menos a maioria, não conseguem mais se ligar emocionalmente,
tratam os outros como amigos virtuais que podem ser ligados, desligados e
bloqueados a qualquer momento. Vejo isso acontecer.
Este exercício de Diário é para me
purificar de certas coisas. Fui alvo deste mundo líquido e todos os meus
conceitos estão embaralhados. Ano passado fiquei com uma pessoa, estava
apaixonado, depois tentei me tornar amigo, eu entrava em contato, tentava ser
um cara bacana, mas eu não sou apenas isso, não sou apenas um cara bacana, sou
depressivo e pessimista, mas minhas diferenças serviram para cansar esta pessoa
bem querida que no dia de Natal mandou um e-mail dizendo que não queria mais ser
minha amiga; com isso deduzo que terei que mudar todos os meus caminhos para
dar o devido espaço a pessoa, para que ela não se sinta atacada por minha
presença, sei que não sou um cara ruim, e sei por análises comportamentais que
isso tudo é devido ao estranhamento por termos ficado, ela não consegue lidar
com isso e sendo devota quase radical do “Pensamento Positivo” à la “Augusto
Cury”, “o Segredo” e toda esta cultura espiritualista, eu, sendo ateu pessimista
e depressivo personifico a imagem daquele que não deve estar ao lado, daquele
que atrai coisas negativas, daquele que não serve nem para amigo. Infelizmente o
mundo dos ex-amigos é complexo, não existem ex-amigos, ou você é colega, ou
galga o posto de amizade, mas quando sai do posto de amigo não pode mais ser um
colega, o que um sabe do outro é demasiado constrangedor para encararem-se
pelas vielas do mundo.
Deixo este primeiro capítulo com desejos
de prosseguir com este diário, não sei quanto tempo conseguirei ficar centrado,
não sofrer pela recusa de uma amizade, pelo sentimento de que sou alguém ruim,
mas pelo menos escrever torna tudo menos dramático e mais lógico, as palavras
ajudam a suportar o mundo. Como diria Woody Allen, “A Vida seria um saco se não
pudéssemos reclamar”. Brincadeiras à parte, não estou reclamando, estou
analisando, e ao analisar eu entendo, entendendo eu não surto, não surtando eu
mantenho minha sanidade, embora minha literatura morra, porque é de surtos que o
meu Eu Lírico vive.
Só uma saideira: Falei de uma amizade
específica que nasceu, viveu e morreu, tenho amigos e estes considero e tento
manter, sou muito grato por ser um adulto com bons amigos, tenho também um
melhor amigo, então acho que está tudo bem. Gosto de brincar dizendo que no
caminho para ser bom, acabamos virando péssimas pessoas, mas não é de boas
intenções que o inferno está cheio? Acho que os demônios merecem um voto de consideração,
não que os santos sejam vistos como demônios. É melhor parar por aqui porque
parecerei àquele cara que acha vantagem em ser invisível.
Ode
ao Males Modernos
Alguns
seres não sentem, sofrem, choram...
ainda
mais no mundo em que vivemos
onde
modernidade esprememos
tão
líquida, sutil, nad’aprimora.
E
nesta cultura avassaladora
do
pensamento sempre positivo,
o
pessimista vira adjetivo
bem
degradante... e limpam com vassoura.
Qualquer
pensamento mais “modernoso”,
qualquer
visão mais crítica, afiada...
acaba
bomba e míssil perigoso.
É
tanta maldade e mar furioso
de
quem acha que sabe, e sabe nada;
rude
por fora e dentro está leproso.
Fabricio Martines Alves
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