“Eu quase não saio/ Eu quase não
tenho amigo/ Eu quase que não consigo/ Ficar na cidade sem viver
contrariado” – Lamento Sertanejo – Dominguinhos e Gilberto Gil.
Acho que não sou um bom amigo. Isso é
perturbador. Simplesmente não sou. E nem adianta dizer coisas parecidas com “Você
é um bom amigo, só não quero ser teu amigo”, não estou falando de pessoas que
não são nossas amigas, porque realmente ninguém é obrigado a ser nosso amigo, e
nem ando procurando por isso, mas quando alguém que já é ou era amigo (ou amiga)
diz esta frase, é porque o problema é mesmo você não ser um bom amigo, caso
contrário, continuariam com a amizade. Vamos analisar: Quando alguém diz “Você
é um bom amigo, mas não quero ser teu amigo”, a pessoa pode estar falando a
verdade, somos bons amigos, apesar de... sim, é este “apesar de...” que guarda
todo tipo de preconceito. Apesar de você ser ateu, apesar de você ser
pessimista, apesar de você ser depressivo, apesar de ser burro, inteligente,
tanto faz, e este “apesar de” é mesmo um grande preconceito, é o mesmo que “Nada
contra, mas...”. A não ser que seja “apesar de ter matado alguém”, mas é como
Cazuza diz, “Eu não posso causar mal nenhum, a não ser a mim mesmo”, e é bem
por aí.
Quando você lê um e-mail (Recebido no
natal... presentão) que uma amiga enviou falando “Nada contra você, você é uma
boa pessoa e um bom amigo, mas não quero ser mais tua amiga”, tudo bem que não
era minha melhor amiga, tenho dois amigos incríveis que se encaixam neste
requisito, mas era uma amizade com potencial, e gosto de dizer que segui a
cartilha inteira. É um preconceito ideológico, existe algo mais nesses dizeres,
e tento procurar lá no passado algum indício disso. E até imagino com bons
olhos a escolha de um natal ou ano novo para término de uma amizade, nestes
períodos, todas as pessoas que carregam crendices de “Ano Novo, Tudo Novo”, “Vou
me livrar de tudo que atrasa minha vida ou que não gosto”, ironicamente acham que
pessoas podem se incluir neste “Tudo que atrasa minha vida e coisas que
atrasam...”, só esquecem que pessoas não são pensamentos e nem objetos, pessoas
são seres com sentimentos.
Algo aconteceu entre nós, mas esta é história
longa que pedirá um capítulo inteiro, falarei outro dia. Fora isso, superado o
problema que não mencionei, a amizade seguiu crescendo, de forma incrível, eu
era atencioso, a melhor pessoa possível, mas não usarei o espaço para listar
coisas que fiz, não seria cortês, vamos aos detalhes que eu deveria ter sentido
algo ruim a caminho. Lembro que fiquei depressivo, estava terrível, e enquanto
muitos amigos e até conhecidos que me surpreenderam com suas atenções,
desejavam melhoras ou ajudavam literalmente com suas presenças, palavras e
ações, ela simplesmente mandou uma mensagem falando algo parecido com “Não
quero saber”, e mais outras coisas bem chatas que em outras palavras diziam “O
problema é teu... não me envolva em teus problemas”, tudo bem, ignorei, e
precisa ser muito amigo para ignorar o desprezo de outro... ou muito cego, sei
lá... Ignorei aquela insensibilidade, segui meu caminho como se nada tivesse
acontecido e continuei o mesmo amigo de sempre.
Mas existem problemas incompatíveis para
ela, digo para ela porque para mim as diferenças são enriquecedoras, gosto de
pessoas diferentes e com ideologias diferentes, até mesmo opostas e que
discordo, tenho alguns amigos que são meus opostos e são extremamente
agradáveis. Mas não, vinha sempre uma palavra de ordem para não contrariar. Ignoremos
isso também. Como pode uma pessoa que luta pelos animais, e não tanto quanto
eu, porque tenho um histórico de vegetarianismo que consegue vencer até dos
discursos a favor dos animais que não se transformam em ações, mas tranquilo,
com todo discurso, falando 24 horas por dia sobre como os animais são
importantes, como são incríveis, todo resto, como pode chutar alguém por
ideologia? É isso... Ideologia deve ser a palavra. Sendo uma cristã levemente
fanática (com levemente fanático falo de quem restringe todos os seus
pensamentos à lei da atração, Augusto Cury da vida, e etc...), tudo que nunca
liguei, para falar a verdade, quando surgia qualquer assunto sobre Paulo
Coelho, eu sabia até mais, cheguei até a falar sobre 4 livros que li dele,
incluindo o passado de Paulo que mostra com clareza que ele fazia parte (ainda
faz) de uma seita satânica (ou algum derivado, mas sem o lado pejorativo), ela
que tanto gostava não sabia nem da metade. Tudo bem, comecei a ficar metido,
mas é só pra mostrar que sei até mesmo sobre aquilo que não curto, porque para
não curtir é necessário conhecer, algo que nunca passou pela cabeça dela, já
que sou, infelizmente, um cara com tendências masoquistas, depressivas,
pessimista ao extremo, adorador de filosofia niilista... Mas no fundo de meu
niilismo existe espaço para humanismo, para colaboração e até um lado cortês
educado, um ser educado e fino, apesar de toda putaria que falo, mas sou
complexo, não sou linha reta, não coloco na cabeça obsessivamente que tudo ao
meu redor tem que ser positivo. Não faço ode exagerada ao pessimismo porque meu
pessimismo exagerado vem de mãos dadas com o bom humor. Mas sou ateu, e isso é
muito, e em muitos momentos senti que isso era empecilho, desde sempre, mesmo
que negue, porque talvez a frase completa seja “Você é uma boa pessoa, bom
amigo, apesar de ser ateu, pessimista, dar um de sabichão, ser educado comigo,
ser pau para toda obra em matéria de amigo”, porque sim, em diversos momentos
fui um ombro disposto a escutar, mesmo escutando em troca “Fique com teus problemas
e não me importune”. Será que eu criei esta amizade? Seria ilusão de minha
cabeça? Nunca existiu? Caras como eu entram em parafusos pela falta de
respostas, sei que mesmo que não seja o ateísmo, é minha personalidade, o jeito
que sou, algo que não se muda. Sou um homem polêmico, mesmo sem querer, eu só
não podia ser tão sentimental e me preocupar, porque ser polêmico e sentimental
nunca é uma boa combinação.
A única teoria que vem à cabeça é: Alguém
obsessivo pela lei da atração que fala constantemente sobre afastar pensamentos
negativos, viu que não era só isso, para afastar pensamentos positivos precisava
afastar pessoas negativas, e no mundo em que vivemos, a visão crítica também é
vista como “coisas negativas”, invés de afastar os próprios pensamentos, o
fanatismo é tal que não se contenta em afastar apenas pensamentos, decide
afastar pessoas, sem nenhuma consideração com os sentimentos, e ironicamente, a
pessoa que faz uma coisa dessas só pode personificar aquilo que teme, algo
ruim, a negatividade, porque negar o negativo ainda é negar, e torna-se o
fanático naquilo que ele tanto tenta afastar. Apenas filosofia? Quem disse que
filosofia não é real e não diz mais sobre nosso mundo e sobre nós do que
milhares de livros de autoajuda ou essas literaturas que, hoje vejo, tornam
seus adeptos em insensíveis e preconceituosas com toda diversidade ideológica.
Preciso voltar a ser vegetariano... Definitivamente,
o mundo dos defensores dos animais está tão mal representado.
Sei que não presto para ser um amigo “apesar
de... ser um bom amigo”! Faz sentido?
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