Para conhecermos os amigos é necessário
passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a
qualidade. - Confúcio
Nunca pensei que fosse uma questão
importante, antigamente eu só tinha um lado da moeda, não compreendia o
conjunto da obra. Felizmente (ou infelizmente) passo por todos os sentimentos e
pensamentos do mundo; deixando o pessoal de lado, mesmo sabendo que tudo é
pessoal, uso o pessoal para instigar um pensamento universal sobre fidelidade na
amizade. Isso já foi dor de cabeça em minha vida, mas acredito que não existam
regras. É tudo complexo, um campo minado.
Naquele meu antigo emprego, quando
finalmente conheci um amigo para chamar de melhor amigo, um dia ele entrou em
atrito com outro colega, mas havia uma escala de afinidade, ele era meu amigo enquanto
o outro era um colega, infelizmente meu amigo ficou bem abatido, naquele caso
não importava o que o outro representava, tão pouco se estava certo ou errado. A
questão fundamental da amizade era: Comprar ou não comprar a briga? Qualquer lógica
pede que sejamos justos, ora, se ciclano não fez nada conosco, porque considerarmos
ele como nosso inimigo? Inimigo é uma palavra forte, mas uso apenas para
organizar nossos termos e ideias. O problema era mais complexo, afinal, ciclano
e eu conversávamos o suficiente, tínhamos bom relacionamento, isso é
importante, e pior, eu não tinha vi o que aconteceu entre os dois, só tinha a
palavra de meu melhor amigo, e sabemos que cada um puxa sardinha para o próprio
lado, logo, tanto meu amigo quanto meu colega tinham razões. Como um homem, um
amigo deve se comportar neste momento? Até hoje não tenho a resposta, mas sei o
que EU faço, e o que EU faço pode não ser igual o que todos fazem. Sou
humanamente justo, mas sou logicamente injusto. O correto seria averiguar quem
tem a razão e tomar este partido, claro, se percebermos que uma escolha precisa
ser feita; existe uma terceira escolha que é aquela onde não tomamos partido e
deixamos o circo pegar fogo, “Eles que se entendam”, mas não estou falando de
amizades fugazes, falo de amizades verdadeiras, falo do teu amigo sofrendo,
porque para ele, ele é injustiçado, e você precisa colocar em tua cabeça que
seu caminho pessoal, sua jornada humana, está ao lado dele, é como uma família,
não interessa, sei que é humanamente errado puxarmos farinha para nosso lado,
mas não conhecemos os estranhos, e passaremos muito tempo com os mais queridos,
ou deveríamos passar; então eu o escolhi cegamente, e detalhe, teu amigo tem
razão, tendo ou não, você fez a escolha certa, imagine que todos sairão de
nossas vidas, trabalhar ou estudar no mesmo lugar não é certeza de permanecer
juntos, mas se forem amigos, então há o desejo de estenderem isso para além
mar, não importa onde estejam, estarão em contato e vão se querer bem. É o “Poderoso
Chefão”, existe toda aquela honra, reciprocidade, é família, sim, é máfia,
vivemos em pequenos grupos de mafiosos que se protegem, isso é natural na
natureza, bandos existem, grupos de afinidades surgem, é biologicamente ou
naturalmente (não sei a expressão) normal, é nossa preservação da espécie, uma
mão lava a outra; porque ficar ao lado de alguém que está prejudicando alguém
que lhe ajuda, alguém que é de teu bando e você quer bem? Não podemos fazer
isso, por mais injusto que seja nossa escolha... foi um verdadeiro dilema, não
foi fácil cortar relações com alguém que não tinha feito nada para mim. Mas foi
um caso especial e extremo. Meu amigo, e é um ótimo amigo; afinal, amizades são
feitas de escolhas, desde o momento que um escolhe o outro até nas pequenas
escolhas cotidianas; ele sofria realmente, em seu mundo (falo seu mundo apenas
porque não podemos julgar sem estarmos presentes) ele sofria uma terrível
injustiça, e demonstrava certo receio ou tristeza quando eu me aproximava do rival,
percebi isso e nestes momentos a única questão que passava por minha cabeça não
era um CSI, mas “Uma pessoa querida está sofrendo”, e não usando a lógica da
justiça, mas usando a lógica do bando, quando nossos caminhos se separassem, se
eu tivesse escolhido o colega, mesmo que fosse a escolha certa, eu não teria
ninguém hoje, não teria construído laço algum, não teria contato com ele, nem
queria e nem quero, mas aquela escolha me trouxe um grande amigo que está ao lado
até hoje, é maravilhoso. Isso importa? A justiça não feita (supondo que tenha
existido) contribuiu para um elo incrível, para um fortalecimento do bando,
para que eu ganhasse literalmente um irmão. Isso é o que conta. Essa é uma
lição quase de Poderoso Chefão, é fidelidade, integridade, que vai além de
qualquer lei e tribunal, é proteção, é como você demonstra ao seu amigo ou aos
seus queridos que se importam contigo, e que você se importa, que estarão
juntos, que podem contar uns com os outros. A situação poderia ser mais grave
se um amigo nosso matasse outro, mas não tenho respostas para isso, ou melhor,
tenho, mas não quero dizer, vou pelo humano, não pela bondade, e existe um
abismo entre humano e bondade.
Particularmente, nem pensei na
possibilidade de meu amigo estar errado, o que eu queria, já que não estava
envolvido no dilema, era aliviar a dor de um amigo, mostrar que eu estava ao
lado. É assim que se formam as famosas panelinhas? Pode até ser, mas também é
assim que se formam os elos que talvez você levará para a vida. É complexo,
machuca, enche o saco, mas se não for assim não construímos nenhum porto
seguro, viver e ter amigos é muitas vezes jogar no escuro, investir às cegas em
uma relação duradoura. Não há nada mais delicioso que uma amizade que
sobreviveu, uma amizade que amadureceu por tantos anos, fica fortalecida.
A questão só ressurgiu em minha vida
porque recentemente me vejo na mesma situação que ele, sou o rapaz que foi
atacado, sou o animal ferido, e sei que é complexo porque tenho cabeça para
admitir que cada cabeça é um mundo, e é absolutamente possível que duas pessoas
boas se estranhem e se tornem rivais sem que nenhuma tenha feito nada para a
outra, neste campo de batalha que se chama ironia da vida, existem os soldados
que são nossos amigos, que nos querem bem, não gostam de nos ver sofrer, e não
sabem como agir. O mesmo medo que meu amigo teve agora faz parte de mim, tremo
só de pensar que amigos ao meu lado, e pior, um ótimo amigo, comece a ser mais
amigo dela do que meu. Existe aquele ditado que diz que o inimigo do seu
inimigo é seu amigo, mas e o inimigo de seu amigo? O que o inimigo de seu amigo
é para você? Tenho cabeça suficiente para não fazer amigos escolherem a mim,
mas compreendo aquele problema do passado, compreendo que era difícil me ver ao
lado do “rival”, aqui é a mesma situação, não consigo me livrar do sentimento
de medo, porque talvez, ser amigo de alguém que não suporta nosso amigo é não
suportarmos nosso amigo por tabela. Pode parecer ridículo, talvez nem seja por
maldade, mas é a imagem que o teu amigo tem de você quando vê amigo e rival de
mãos dadas e correndo pelos prados.
E vou além, filosoficamente falando,
nossos amigos ou aqueles que escolhemos para estarem ao nosso lado, são
extensões do nosso “eu”, são nossas maiores identificações, partes de nós, e
drasticamente, anexos de nosso caráter. Não falo que estamos certos, estando certos
ou errados, eles compactuam de nossa visão, mesmo que tenham ideologias opostas
ainda há o denominador comum, ou pelo menos o interesse de que tudo dê certo. O
rival, aquele que nos prejudica, significa o anti-eu, e no momento que outra
parte de nós junta-se ao anti-eu, eles são anti-nós. Bem complicado, por isso
fiz aquela escolha no passado, e é só olhado para o passado que entendemos o
presente.
Hoje sou maduro para entender que um
amigo não pode ordenar que outro fique ao seu lado ou faça escolhas às cegas,
mas sou humano para saber que se um amigo se juntar ao anti-eu, ele será ao
mesmo tempo nosso amigo e um simpatizante da filosofia oposta que tentou nos
derrubar, mesmo que seja por ingenuidade e sem intenção.
Lembrando que sempre falo sobre melhores
amigos, ou grandes amigos, não falo de conhecidos ou colegas, esses podem falar
com nossos rivais que não significa que nos odeiam, apenas não fazem parte das
obrigações ou dos laços conseguidos, não são parte do bando, são simplesmente
outras histórias acontecendo sem ligação com o enredo de nossa vida. Figurantes
trafegam por todos os lados, saem e entram em nossas vidas sem nos incomodarmos
com isso, mas amigos são do elenco fixo, e sempre que alguém do fixo parte é um
grande choque para o enredo.
Quero deixar mais complicado. Fernanda
brigou com Augusto; José é amigo de Augusto; Maria é amiga de Fernanda; todos
decidem ser fiéis aos amigos; Fernanda e Maria evitam Augusto, Fernanda porque
não o suporta, Maria para acompanhar a amiga; José e Augusto fazem o mesmo com
Fernanda e pelos mesmos motivos; mas e José e Maria? Porque o melhor amigo de
um não falaria com a melhor amiga da outra? Não existem motivos, no entanto,
agora Maria representa uma extensão ideológica de Fernanda, enquanto José
representa o mesmo para Augusto. Posição bem desconfortável para os dois
amigos.
Ainda existe uma questão de certa forma irônica.
Vamos supor que teu rival não exigiu fidelidade do amigo dele, você está livre
para conversar com o amigo de seu oposto, até aí tudo bem, embora o amigo
represente uma ligação bem íntima com parte do outro rejeitado por você, mas
este amigo do outro continua falando contigo; aqui há um problema, você está
por tabela ainda em contato com teu rival, mas este amigo do rival não deve
valer muito, se valesse, teria comprado a briga do amigo dele, este amigo do
rival é talvez pior, porque sabemos que faz parte das ideias opostas e ainda
não faz jus a amizade do outro, e a amizade, todas as suas demonstrações
dignificam os seres humanos, sendo você ou o seu rival. E outra, conversar com
o amigo do rival, sendo ele bom ou não, é um risco de guerra, é entregar informações
ao rival, e informação, na maioria das vezes é mais importante e mortal que um
tiro, porque é a informação que dispara o tiro.
Parece que a vida pega duas pessoas
inocentes, transforma em rivais, e de quebra arrasta pessoas que não estão
envolvidas com o problema. Envolver-se com a vida alheia neste sentido é fazer
parte da vida do outro, e fazer parte é construir laços. Tudo é complexo. Acredito
que a atitude mais sábia, pensando que somos emotivos, precisamos de amigos e
não podemos ser injustos, é, quando estivermos na posição de atacado, não
exigir que nossos amigos comprem a briga, mas ironicamente, e contraditoriamente,
se estivermos na posição de amigo do atacado, comprarmos a briga cegamente. Pelo
menos é assim que tento agir, posso afirmar que toda dor de cabeça por conta
destes assuntos é extremamente deprimente, somos seres ridículos, mas com
necessidades de afeto.
Realmente nunca havia pensando nos amigos serem extensões do que eu sou. Mas a bem da verdade, é uma regra não só da afinidade como de sobrevivência também.
ResponderExcluirBlog explosivo. Mucho bom! Tô acompanhado direto agora. E tô também pra começar a fazer alguns vídeos muito despretensiosamente, e no primeiro acho que vou falar sobre alguns contos marcantes do C.A.O.S. Faz tempo que ando querendo fazer isso mas não consigo colocar em palavras escritas, então será no improviso.