sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

31/01/2014 - Ode aos Primitivos Homens das Cavernas e Nosso Direito Natural de Assassinar

Compara-se muitas vezes a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas. – Fiodor Dostoievski

Sou pelos homens das cavernas, com isso sou pela não civilização e civilidade, claro, já que estamos em um sistema “civilizado” temos que seguir a cartilha para não sermos trancafiados. Criamos um sistema tão complexamente organizado que não existem chances de sermos o que somos, animais, apenas isso. Todos os estudos científicos, sociológicos ou filosóficos que existem, e não podemos fechar os olhos para as descobertas, há tantas coisas que fecham nossos olhos para o mundo cru onde vivemos, que não podemos negar essa verdade universal, independente de misticismos sobre alma ou essência, somos animais e tudo que existe só existe porque criamos, e como tudo que é criado, tem uma mãozinha tendenciosa de quem criou, seja pelas facilidades ou acomodações.
Quero falar que, como animais vivendo em um mundo concreto, que não se importa com o caminhar das coisas, não tem vida ou pensamento, em um universo ainda pesquisado, mas já sabendo nossa finitude, tudo some, morre, vira pó e não há acontecimento que possa nos eternizar (pelo menos ainda) ou onde nos agarrarmos. Imagine que tudo é inútil, que só nosso caminho pessoal e nosso aprendizado importa, é como despertar para possibilidades infinitas dentro da sacanagem de ser um piscar de vida dentro de uma eternidade do não existir, e é isso. Dentro deste contexto é um pega pra capar e sempre foi assim. Assista ou estude qualquer documentário sobre a formação da Terra, o caminho dos seres vivos para chegarem até aqui, ou até mesmo nossa tão trágica história, cheia de chacinas, massacres, e vamos além, lá no início do porrete e da caverna, pense em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, somos primitivos por natureza, até mesmo agora temos momentos onde a civilidade some e ficamos com vontade de atacar ou nos proteger a força, que é a mesma coisa, é o instinto sanguinolento em ação, é o desejo de ser o que somos, e não somos apenas porque criamos leis que nos impedem. Um acordo, muitas leis, você não me mata e eu não te mato, você não pega minha caverna e eu não pego a tua, mas foi mais um acordo de medrosos ou de fracos do que daqueles que realmente trazem a força para dominar o mundo, somos o fruto de um bando de covardes, foi assim, nossa origem humana e civilizada é a mais mesquinha e frágil possível, criamos um teto de vidro para nossas vidas quebráveis e ridículas.
Sempre penso no tempo das cavernas como um tempo mais simples e de homens que merecem mesmo viver. Pense bem, a vida é um milagre, não importa se você acredita em lendas místicas ou se é ateu, mas é um milagre pela possibilidade imensa de quase não termos existido, tudo conspirou contra, então, ao se sentir vivo e perceber-se vivo, nada mais justo que lutar por esta vida a todo custo, e seguindo a única lei que existe, a sua vontade, o seu mundo, cada ser particular precisa ser um egoísta por natureza, é você e o mundo, sempre será, você e a existência, nada mais. E vejo grande qualidade neste homem cruel das cavernas, não são fúteis, são práticos, fortes, eles matam, tomam a força e batalham, depois vão para seus abrigos e descansam, pronto, tudo simples. Conversei sobre isso com um amigo e ele disse que não sobreviveria porque é medroso ou fraco, morreria, depois falou que talvez sobrevivesse porque pagaria alguém para matar os inimigos por ele, aqui existe um problema, ser covarde e mandar matar é coisa de gente civilizada, o verdadeiro homem vai lá e mata. Sim, estou defendendo, mas defendo apenas o ser que vive em um contexto primitivo, em uma lei à parte, não qualquer doente ou criminoso, falo da morte consciente, do assassinato pelo homem forte, daquele que precisa comer, vai lá e mata, ou deseja aquela caverna, vai lá e toma, simples assim, não quero esses idiotas que arquitetam, sim, matar pelas leis é coisa de gente civilizada, não quero a civilidade para viver, quero a necessidade e o “Ter que fazer”, aí o homem comete o grande ato que homenageia sua existência, porque tirar a existência alheia desta maneira é lindo e até poético. Quero o mundo puro, sem tecnologia (sei que ela facilita, mas quem disse que precisamos de facilidade?), quero o mundo natural, onde a pessoa nasce, vive intensamente e morre (quem disse que viver muito é bom? Viver intensamente, e nem falo de qualidade, que é bom), quero o mundo simples, onde todos seguem o fluxo comum, onde a natureza é respeitada, e com ela o animal humano, que vai pra guerra, que luta e valoriza sua existência. Hoje em dia é tanta civilidade que só existem covardes, todos fracos, e pior, sem vida, ninguém vive, ocupam o tempo, só isso, trabalhando, comprando, e isso não tem fim. Antes um pôr-do-sol tinha qualidade, emocionava, assustava, hoje é só figuração ou objeto de fotografia para um telespectador apático.
É claro que vivendo nesta sociedade frágil e covarde, cheia de “Não me toques”, e afirmo que tudo é do mundo e tudo é de todos, nada é individual por direito, sendo individual apenas para quem se apodera, eu não sairia matando, roubando e fazendo crueldade, mas simpatizo muito, e gostaria de viver naquela época fazendo o que falei. Acho que esta maneira que tenho de não me relacionar bem com a sociedade é porque sou primitivo, sou aquela coisa ainda natural, poucos entenderão, estamos presos e engaiolados, não é algo natural, leis e convenções são o relativo ao aquário e a gaiola, apenas isso. Não vivemos de verdade, queria poder lutar por minha vida, chutar a barraca e viver apenas, sem tanta frescura e mãos atadas. A liberdade só pode ser uma, aquela de poder ser e fazer até o que não presta, qualquer coisa fora é domesticação.
Quando Dostoiévski diz que “Compara-se muitas vezes a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas”, desrespeito o contexto da frase e trago para nosso debate, afirmo também que comparar a crueldade moderna com a crueldade dos homens primitivos é injuriar estes últimos, porque a crueldade deles é pura e justificada; perdemos nossa pureza, sim, o assassinato é naturalmente permitido, é até parte da lei da sobrevivência, e nem podemos virar o rosto para esta verdade que funciona tão bem nos outros animais e fingimos que suas leis não nos dizem respeito, mas somos parte da natureza, e criamos o horror ao assassinato contrastando com o direito covarde e por lei de matar o assassino, onde se vendem até ingressos para assistir execuções ou aplausos surgem, porque no fundo todos aplaudem o ato que nos é tão natural. Então a solução (impossível, mas que acho necessária), seria livrar toda sociedade de toda civilidade e adentrar naquele crime possível dos animais, porque lá não há injúria.
Conversa imaginária:
- Eu quero e vou matar, oras.
- Mas você não pode, vivemos em uma civilização.

- Ok, mas as leis de uma civilização só deveriam servir para os civilizados, eu não sou um ser civilizado, sou um animal, todos somos, como a natureza pede, simples assim.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

30/01/2014 - Contra a Supervalorização da Valorização do Valor

A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo. – Napoleão Bonaparte

Não sei se vejo errado, geralmente as melhores pessoas são as piores. Não estou falando dos humanistas que apesar de serem chatos, tem lá suas exceções, falo dos extremamente puritanos, daqueles que se preocupam com as leis divinas como se fossem cartilhas morais, já que não conseguem se moralizar sem regras, pelo menos neste quesito os céticos, descrentes e ateus largam na frente, precisam ser bons por conta própria, sem ameaças de infernos ou promessas de recompensas paradisíacas.
Tudo bem... Quero olhar pelos miseráveis; pelas prostitutas, e não aquelas que estão ali por serem escravas, mas as corajosas que gostam da profissão e são putas mesmo por vocação, já sabemos que é uma das profissões mais antigas do mundo, e olha que não falei sobre as que dão sem cobrar, aquelas pelo menos ganham algo, se bem que as que fazem por prazer também trazem certo charme, são independentes sexualmente, são animadas, abertas nos dois sentidos, são bacanas. No meio de tudo resta a mulher direita que não faz por prazer e nem cobra por isso, geralmente são as puritanas de fachada, minhas colegas, vocês não nasceram do espírito santo, isso é lá com a Maria e com o chifrudo do José (muso máximo das modas sertanejas/dor de corno), essas mulheres acham que não existe putaria, que nasceram de um repolho, sei lá, todo mundo é fruto de um esporro, todo mundo, seja num vidro ou dentro do recipiente vivo.
Quero falar pelos bêbados, que embora chatos, pelo menos são verdadeiros em suas dores ou alegrias, eles estão ali se destruindo, melhor que destruir o mundo, se bem que o mundo não vale muita coisa... Alguns bêbados podem ser irresponsáveis e destruir a família com este vício maldito, só digo uma coisa, tente não depender de um bêbado, vá trabalhar e se a coisa apertar porque o parceiro ou parceira virou um alcoólatra, e você foi irresponsável para ter filhos com este elemento, sofra as consequências, antes ficasse sozinho (a) para aprender.
Quero humanizar os criminosos, muita gente torce o nariz, “Que absurdo, um criminoso não merece atenção”, mas quase sempre a crítica é de quem já foi afetado por algum crime, é triste? Sim, é lamentável, mas assim é o mundo e ele sempre foi violento, só não ajuda transformar tudo em um círculo vicioso, e se quiser, faça justiça com as próprias mãos, não acredito em leis, mesmo assim quero que paguem, que sejam trancados e ganhem condições para virar algo que preste, nada desse depósito de desgraçados que saem mais desgraçados ainda, tem muita gente inteligente lá (inteligência não ajuda em nada e não faz de ninguém uma boa pessoa, outro mito que temos que quebrar), quero apenas humaniza-los, eles são humanos, e pior, não é o monstro que nos assusta, mas a possibilidade de todos termos monstros dentro de nós, e se estivéssemos naquela situação, e se algo tivesse acontecido e num súbito de maldade perdêssemos a cabeça e matássemos, roubássemos, qualquer patifaria criminosa? Aí você ia querer direitos, ia querer respeito, pois é, não importa se o crime foi cometido conosco, crime é crime em qualquer lugar, o criminoso pode ser qualquer um, então vamos respeitá-los, humaniza-los.
Oh mundo cruel, temos que tolerar tanta desgraça? Não... Quem estiver incomodado que se mate, “os incomodados que se mudem”, sério, o mundo tem 7 bilhões de pessoas e ninguém faz diferença, ou melhor, pode até fazer diferença, mas apenas se fugir da mediocridade, a grande maioria está ferrada mesmo, nunca será nada mesmo representando algo nesse instante, tente transcender como puder, é uma corrida para sermos algo neste mundo que nos puxa para a irrelevância. Se você for alguém, se matar também é opção, no mundo de hoje é publicidade e teu legado talvez fique; se você for ninguém, então se mate, mesmo que ficasse vivo, quando morresse naturalmente muitos se esqueceriam, superariam, e depois de mais um tempo, estes morreriam e aí ninguém se importaria mesmo. O suicídio ou a morte são libertadores em qualquer situação, não tem erro.
Mas há o desafio da vida, para encarar o desafio da vida é necessário ser um pouco puto, prestar um pouco menos, desencanar um pouco mais, aceitar que o mundo é este caos miserável, cheio de crimes, mas com deliciosas “desvirtudes”, podemos nos prostituir, afinal, se todo mundo se prostitui com suas carteiras de trabalho ou empregos públicos, porque não com o corpo que pelo menos dá prazer? Todo mundo é prostituto, seja literal ou conceitual, ninguém é santo ou sai ileso. E quem puxa saco? É prostituto e ainda acha que não vale ser admirado, leva sua vida admirando alguém que talvez nem tenha motivos para isso, na verdade acho que pouquíssimas pessoas vivas valem nossa admiração.
Gosto de admirar os mortos, isso é uma crítica moderna, falam que só damos valor quando alguém morre e que devemos valorizar os vivos, olha, pode até ser verdade, mas há um problema, pessoas vivas fazem merda, fazem muita merda e até a pessoa santinha está merdando ao ser santinha, é igual um bando de fanático que sai idolatrando qualquer repórter que critique o carnaval e depois apedreja o mesmo quando este regurgita estupidez pró-religiosidade retrógrada, os seres vivos vão nos decepcionar, é mais seguro esperar que ele morra, analisarmos a vida dele, toda obra completa, se foi capaz de deixar alguma, e aí sim, admirar se for possível, pelo menos ele não está vivo para adicionar merda ao currículo e deixá-lo com cara de idiota por ser fã de um lixo.
Essa é parte da verdade, ou a verdade não existe ou está fragmentada e é tendenciosa, pra não falar das mentiras que ao longo do tempo se tornam verdades e são até engraçadas.
Sou pelos desregulados, descontrolados, insanos, loucos e criminosos, todo tipo de semideus me enoja, gente muito certinha, que segue a cartilha correta do bom mocismo, estes são os primeiros a julgarem e são os que mais sofrem de hipocrisia ou querem ditar como uns e outros precisam se comportar, isso quando não ficam quietos e são ridículos ostentando uma humildade engraçada que nunca convence. Falam que o bom samaritano não pode gabar-se de seus feitos, mas quer saber, isso é papinho de monopólio da bondade, ora, se um bandido quiser me ajudar, se ele quiser salvar minha vida, mesmo que por interesses cruéis, se uma prostituta quiser conversar comigo e com isso eu aprender algo, estarei aberto, porque estes, interesseiros ou não, estão fazendo algo de bom que merece ser reconhecido, e neste barco, o bom samaritano vale o mesmo que o criminoso, ou seja, nada, absolutamente nada. O que vale na hora que o bem é feito é o bem, não quem fez e nem o motivo... Como eu não valho nada e você não vale nada, porque temos que valer algo se não somos produtos? Quanto é teu salário? Este é teu valor?

A vida é curta e irrelevante, só isso. Vamos rolar um pouco na lama, dizem que faz bem para a pele.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

29/01/2014 - Um Pouco Mais Sobre o Mito do Amadurecimento

Por Que Tão Sério? - Coringa

... Como Clarice Lispector, a vida começa de súbito, os três pontinhos podem indicar todas as coisas que eu quis falar antes de começar.
Receber críticas e insultos serve para conhecermos a nós mesmos, não sobre o que somos, porque se não sabemos, dificilmente alguém saberá, mas descobrimos quem somos pela reação diante da crítica. Não sou maduro, não me faço de forte e não sou o macho alfa que o mundo sempre pediu dos homens, sou um medroso de marca maior, emotivo descontrolado, mas consigo ser razoavelmente inteligente dentro daquilo que me interessa. Então me chamaram de imaturo por conta de uma história que contarei em outro texto, mas aquilo mexeu com minha cabeça, na verdade tudo mexe comigo, tento saber como mudar, como melhorar, como não magoar, manter os laços e amizades, mas nem todos estão prontos para arrumar as coisas ou se permitir mudar, eu tento, surto, mas estou aberto às mudanças, só não sei lidar com o “Nunca mais” e “Nem pensar”, acho de maldade incrível deixar assuntos pela metade ou não deixarem as pessoas se redimirem ou deixarem pra lá, mas é como funciona o mundo moderno, os laços estão destruídos, ninguém consegue manter nada duradouro, somos vistos como números ou colegas em um Facebook off-line onde também podem ser eliminados e bloqueados, fora isso, fui chamado de imaturo, não que fizesse algum sentido, era só uma ironia do destino, algo que aconteceu, daqueles crimes sem culpados, a vida é boa pra fazer essas coisas, tudo bem, virei O Imaturo, claro que refleti sobre isso, refleti intensamente e cruelmente, sou daqueles que se pune, que se castiga quando algo dá errado, para que eu aprenda e não faça mais ou não permita que isso aconteça; imediatamente joguei toda minha coleção de ursinhos de pelúcia fora (tenho 31 anos), joguei brinquedos, doei roupas, parei de comprar algumas revistas em quadrinhos, na verdade deixei a vida mais chata. Isso é ser adulto? Se livrar dos brinquedos? Isso não é ser maduro e nem adulto, definitivamente não é, porque é impossível amadurecer, falei disso em outro texto.
Ray Bradbury, importante escritor de ficção científica, grande crítico da sociedade, homem peculiar, criativo, gênio em sua área, quando criança colecionava quadrinhos, talvez esta tenha sido sua maior inspiração, antes mesmo da literatura, e um dia zombaram dele por ler tais quadrinhos, ele se desfez das revistas, mas foi ficando depressivo, não via mais colorido em nenhum lugar, a maior lição que ele aprendeu foi a seguinte: Ninguém pode dizer o que lhe dá prazer, o que você tem que gostar ou o que é ser adulto.
Ele “adolesceu” e trilhou caminhos por sebos e gibiterias para recuperar todas as revistas, sabemos aonde ele chegou com aquela “infantilidade”, é simplesmente um dos maiores gênios da literatura. Ele mostrou um grande dedo do meio para a sociedade, mandou todo mundo para aquele lugar, parou de escutar tais abobrinhas.
Ray Bradbury é um homem que venceu a hipocrisia ou as maldades da sociedade ignorante. Sei hoje que pode até ter sido bom eu ter me livrado dos ursinhos, na verdade não representavam nada, principalmente porque parece que eu não me importava tanto, não sofri horrores, mas só porque mantive um único ursinho, o meu Blaublau, pode soar ridículo, mas ele me remete ao passado, passamos por tantas coisas, ele é apenas um objeto inanimado, um objeto que apesar de inanimado já me fez mais companhia e presenciou mais coisas que muita gente que nos abandona ou que não liga para nossos sentimentos, triste este mundo onde uma pedra e um urso de pelúcia são mais amistosos que os seres humanos que têm a capacidade de estender uma mão e não estendem. Claro que estou sofrendo por ter parado de comprar o meu Superman, mas meu herói predileto é o Homem Aranha e não pretendo abandoná-lo. Quando crescemos apenas vemos estes detalhes de outra maneira, eles não representam nossa imaturidade, mas nossa pureza, representam um mundo mais simples, certo tipo de fortaleza.
Ser ou não ser imaturo é tão irrelevante que não merece nossas preocupações. Podem dizer que existem imaturidades em comportamentos, suponhamos que me achem imaturo porque tento evitar alguém que me deprime, mas não vejo como imaturidade, vejo como um instinto tentando preservar minha sanidade, meu Eu em busca de paz. Você disse que gosta de falar com todos! Sim, gosto, mas quando estes não nos querem, simplesmente entro em uma bolha e tento me proteger de qualquer vestígio da existência alheia.

Viver é a coisa mais complexa do mundo, nossos relacionamentos ainda mais. Este texto não traz nada de inovador, é um alerta, mantenha sua criança interior, e outra, todas as coisas não são unicamente de gostos infantis, é realmente possível que um adulto goste de brincar, de super-heróis, de quadrinhos, de games, todos os gostos é para todas as idades. Isso serve para o comportamento, querer que alguém seja Adulto é tão vago e inútil, com o tempo até acredito que ser adulto é sinônimo de ser robô; responsabilidade até uma criança tem, são apenas responsabilidades diferentes, isso não é privilégio do adulto ou do amadurecimento. Então, por favor, não me venham com essa de amadurecimento. Certo dia um colega disse que quem amadurece demais acaba podre, e deve ser a mais pura verdade, depois de amadurecer, só nos resta o caminho do apodrecimento.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

28/01/2014 - Amadurecer é um Mito

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... – Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


Li em algum lugar que a maturidade é um mito, deve ter sido em algum blog, não lembro, mas concordo com o ditado. Ninguém amadurece de verdade, acho até que aquele que conseguir ficará realmente sem graça, não será digno de nota alguma. Crescer é pretensão, achar-se crescido é arrogância. Quando somos crianças existem responsabilidades, quando adultos também, o tipo de responsabilidade não pode ser visto como amadurecimento, apenas obrigação.
Até hoje não sei como lidar com as pessoas; quando criança era um martírio, sempre deslocado, quieto, sem compreender nada e ninguém, em meu mundo, com minhas revistas, meus filmes, músicas e gosto por minhas próprias histórias, criei muitas e aquilo me divertia, mas eu brincava sim, existiram momentos bacanas, eu só não era de brincar em grupos. Esperei pela promessa de amadurecimento, na faculdade, no trabalho e na “vida adulta”, sei hoje que isso é utopia, ninguém amadurece de verdade e geralmente os que taxam outros de imaturos são imaturos e hipócritas, porque em algum setor de suas vidas pretensiosas são ridiculamente imaturos e teimosos. Achei que “adultescer” resolvesse tudo, não resolve, apenas alcançamos outro nível no Jogo da Vida, como dizem os adolescentes facebookeanos: “A vida está tão difícil que chegamos no chefão”. Tudo isso traz algo bom, os velhos problemas parecem nos entediar, não sofremos mais pelo acontecimento, mas pelo conjunto da obra, pelo sofrer de novo e de novo, e de novo sofreremos; somos tolos, caímos nas velhas ciladas enquanto galgamos infelicidades maiores, mais complexas, desafiadoras e divertidas quando vistas no futuro.
Adoro ver adulto sofrer, não é maldade, é humanidade, se ainda sofre significa que está vivo, que não se rendeu, que tem sentimentos, ou seja, estamos diante de uma pessoa e não de um robô ou de outro boi neste admirável mundo velho. Mesmo entediado com tudo, não canso de me surpreender com as pessoas; mesmo nos lugares mais remotos existem pessoas que quebram, não são geniais e não são modelos para serem seguidas, por isso adoro estes seres quebrados, eles são a vida e a esperança pulsando.
Não sou o melhor tipo de anarquista, acho que meu lado anarquista está encubado, esperando o momento certo para sair do casulo, ele entrou há tempos, talvez tanto tempo que não sei se algum dia fui anarquista de verdade, é a ideia, a utopia de que posso ser livre, quando piscamos, estamos trabalhando, lidando com dinheiro, virando funcionários públicos e lutando contra a acomodação da mediocridade que nada tem para nos ensinar. Por todos os lados existem Super-Funcionários, pessoas que tentam provar que são competentes e que nasceram para realizar um trabalho eficiente e ser reconhecido por suas habilidades, isso sempre me preocupou, acredito que enquanto estiver quebrado, enquanto eu não for um bom funcionário (tudo bem que também não vou me esforçar para ser um lixo e atrapalhar), mas enquanto eu continuar medíocre neste quesito, então o anarquista sorrirá do fundo da goela, achará isso bom porque não há terra dentro da sepultura e ele pode escapar a qualquer momento, pode fazer a revolução, pode cantar com os Franceses e sair às ruas para uma vida miserável, porém poética. É disso que precisamos, de poesia e vida, não de adestramento. Palavras que soam clichês na boca de qualquer pseudo-revolucionário que está dentro do sistema. Estou dentro do sistema há tempos, isso perturba e muito.
Existe essa mulher, essa funcionária antiga em uma escola, durante anos trabalhou com a máquina de Xerox em uma sala estranha, abafada, cheia de papéis e nenhuma esperança, como qualquer escola moderna, não entre os alunos, talvez exista esperança entre eles, mas entre os funcionários infelizmente não há. Imagino o círculo vicioso: você estuda em uma escola por anos, então passa por alguns “perrengues” e finalmente consegue seu trabalho, pode ser que trabalhe em muita coisa, mas algo faz você voltar para a mesma escola ou o mesmo ambiente, agora é você que puxa as cordinhas, ou pior, fica nos bastidores vendo alguém puxar as cordinhas dos alunos, e isso não parece satisfatório, você estudou, não fez nada, correu atrás do rabo, e voltou para a mesma escola, agora tudo o que faz é a vida dos outros avançarem. Mesmo assim essa era uma mulher muito interessante e humana.
Gosto de ver pessoas quebradas e é só por isso que ela era interessante e divertida. O tempo passava e a escola não podia mais vender Xerox para alunos, tão pouco tinha recursos para dar Xerox, sei lá como uma escola pode não ter recursos, mas estamos no Brasil e isso é tristemente banal, tudo bem... Essa funcionária ficou sem função, perdeu seu chão, é até bom para se movimentar, ela se movimentou, finalmente foi à campo, trabalhar no pátio, a vida ficou alegre, ganhou amigos, trabalhou finalmente com a equipe, saiu dos bastidores dos bastidores da educação, virou parte do problema como todos somos, menos mal, melhor ser um problema do que não ser nada. Pode parecer cruel, mas ela era maravilhosa como ser humano.
As pessoas quebram, já falei disso, é importante valorizar o estado incapacitado do trabalhador. Agora ela interagia, foi neste momento que cheguei, não trabalhei muito com ela, fui à campo ser parte do problema, mas em todos os momentos de folga durante o trabalho, todos os momentos quando nos reuníamos em uma sala mutante que mudava de lugar, pode parecer estranho, mas inspetores são “sem teto”, não mandam em nada, não mandam no próprio destino, raramente tem onde guardar suas coisas, às vezes ganham uma sala, outras não, por sorte a escola era grande, sempre tinha uma sala para virar “a sala dos inspetores”, pode ser um cubículo ao lado de um banheiro fedido, um lugar cheio de papéis, algum depósito, quarto de limpeza (e não me perguntem sobre o povo da limpeza, porque estes são menos vistos que os inspetores), é uma guerra por espaço... Mas naquela época tínhamos nossa sala ao lado da secretaria, pequena, mas era lugar para confraternizar, já estava bom.
Certo dia falávamos nossas putarias, tudo comum, quando alguém sugere que esperma é bom para a pele, não pouparei palavras, tentarei ser técnico, não sei se isso procede, não sei se um dia quererei saber, mas tenho a mente aberta, então essa funcionária que se tornou boa colega, um misto de tímida com faladora de putaria, como eu me considero, disse que era verdade, que ela usava sempre o tal creme, claro, o fornecedor era o marido, tudo bem, sendo verdade ou não é indiferente, e isso foi um estopim.
Boa pessoa, brincava, ria, sabia tantas histórias daquela escola, conhecia muita coisa, principalmente os processos que levaram alunos a perderem sua Xerox; certo dia conversava com algumas alunas, preciso que me perdoem, mas as garotas zombavam dela, era pessoa ingênua e educada, perguntaram se ela transava com o marido, a resposta foi um entusiasmado “Sim. Muito. Todo dia”. Não consegui criar intensidade, imaginem uma senhora de certa idade, sem pudores, que consegue manter o respeito, mas que fala mais que a boca, mesmo sem querer. Se fosse entre seus amigos tudo bem, mas crianças são maldosas, são maldosas com crianças e com adultos, com professores, colegas, funcionários e todo resto. Essa coisa de “Não pode desrespeitar funcionário público” é bobeira, na prática não funciona e nem precisa funcionar, porque acho que não se pode desrespeitar ninguém, devia existir igualdade, um funcionário público não é especial, mas tudo bem... Esqueçamo-nos disso, também esqueçamos que as pessoas são frescas demais e se ofendem com tudo; esqueçamos que o desrespeito é relativo e exigiria um texto anexo para explicar. Aquilo também foi um estopim. Eram os últimos dias da funcionária, temporária, ela já sairia, triste, mas se você não for efetivo, o que também é triste, então é mais triste ainda porque está abaixo dos direitos dos outros.
No dia seguinte estava no Facebook, gravado, todo mundo comentando sobre “A Tia que gostava de dar para o marido, e gostava muito, e gostava sempre”. Por sorte isso não ganhou a mídia, acho que renderia uma demissão por sinceridade, como se as crianças de hoje fossem puras e tivessem que ficar alheias de tais temas. Todo mundo assistiu e riu, comentou, compartilhou, curtiu. Para adulto isso é uma banalidade, embora muitos sejam pudicos e gritem por isso também. Ela era casada, tinha todo direito, falar a verdade não devia ser motivo para chamarmo-la de ingênua e idiota, mas simplesmente de sincera, há algo para se admirar aí, isso eu chamo de ser um humano quebrado, o que é fantástico.
Aquela brincadeira sobre o creme de beleza foi longe demais, eu não imaginava, mas todo dia nos cumprimentávamos na saída e na chegada, com abraços e beijos, nenhuma novidade. Um dia estava com meu amigo no banheiro, conversando bobeiras, pois é, homens às vezes vão ao banheiro em duplas, sem piadinhas, mas esses ambientes públicos são tão deprimentes que nos agarramos aos amigos, eu pelo menos adoro amizades e levo mais a sério que o próprio trabalho. Então estávamos lá falando sobre qualquer coisa quando escutamos um choro vindo do banheiro feminino, era aquela senhora aos soluços, muito triste, constrangedor, nunca vi algo parecido. Visto de fora é lindo, um adulto chorando por motivos existenciais sempre será algo mais lindo e mais importante que qualquer dor física, sou um pseudo-filósofo radical assim. Depois ela confessou que uma de nossas amigas não a cumprimentava mais; mais de um mês se passara e a garota não a beijava no rosto, nada pessoal, apenas fortalecia a brincadeira sobre ela passar o tal creme no rosto, e ela começou a ficar magoada, sentiu que não gostávamos mais dela, um desespero digno de cena de novela das oito, muita gente apareceu, fomos acusados de zombar dela, de evitá-la, eu fiquei indignado, e eu não podia achar que a culpa era dela, os culpados éramos nós. Não há diferença entre adultos e crianças, o amadurecimento é um mito, somos cruéis como os pequenos. É natural que alguém sinta falta de carinho, de afeto, de seus amigos, e ela que antes só ficava entre papéis, agora sentia falta dos novos amigos que a tratavam de forma descortês.
Claro que tudo acabou bem, mas todos ficaram espantados, “Como uma mulher dessa idade pode chorar porque acha que os amigos não gostam dela?”. Eu sei como isso pode acontecer, já passei por isso antes deste acontecimento e depois do acontecimento, mas no momento esqueci; todos parecem tão fortes, acham que só porque crescem não podem ser bacanas, não podem ser amigos, que não é profissional chorar, ora, se não é profissional chorar, não é humano destratar alguém, e antes ser humano que profissional. O mais interessante é que a brincadeira das garotas da escola com a gravação da declaração não mexeu tanto com ela como a brincadeira adulta ridícula, tínhamos que entender isso, porque ela nos considerava. Em alguma parte do livro “O Pequeno Príncipe” alguém diz “Você se torna responsável por aquilo que cativa”, é verdade, não precisamos de amadurecimento, isso é impossível, precisamos ser mais responsáveis com nossos afetos.

Adultos choram e sentem como crianças, claro, se formos adultos quebrados e mais humanos, não estes robôs perfeitos de que fala Fernando Pessoa em alguns poemas em linha reta.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

27/01/2014 - O Arqui-inimigo de Cada Dia nos Dai Hoje.

“Se porta como louca/ Achata bem a boca/ Parece uma bruxa/ Um anjo mau/ Detesta todo mundo/ Não pára um segundo/ Fazer maldade é seu ideal" – Rossini Pinto “Erva Venenosa" ("Poison Ivy", de Leiber/ Stoller).
              
Se existe algo que odeio é ter atrito com qualquer um, tento ser aquele cara de boa, que conversa tranquilo com todos, ri, conta piadas e tem tiradas inteligentes; tudo bem que saio da linha em matéria de piadista, mas geralmente consigo fazer o ambiente ficar descontraído, isso é bom, porém, durante a vida encontramos pessoas que por diversos motivos acham que não somos boas pessoas, infelizmente não sei lidar com isso, e pior, ainda sou educado, se a pessoa não gosta, tento sair da vida dela, tudo bem, não é tanto por respeito a ela, mas porque fico constrangido, fico 24 horas pensando se fiz alguma coisa (sim, porque a maioria não diz porque estão estranhas ou de cara virada), e eu tenho essa qualidade de não me deixar ofender no sentido de ter que cortar relações, alguém vem e me insulta, faz uma piada maldosa, e estou pouco me importando, estou de boa, afinal, as pessoas erram, são grossas, é normal, vamos conversar, rir de nossa existência e lidar com isso. Acredito que esta seja uma de minhas grandes qualidades. Mas os últimos anos estão me fazendo entrar em parafusos, sempre fui antissocial e me tornei um misantropo.
O que eu quero dizer é que não me sinto bem na presença de quem não me quer, e faço realmente tudo para evitá-la, foram poucas as vezes que me deparei com pessoas tão difíceis, estas pessoas posso colocar na galeria de meus autointitulados arqui-inimigos, lembro que na faculdade surgiu um amigo pastor que, só porque eu não trabalhava, achava que eu era o escravo que devia fazer todos os trabalhos da faculdade, fora que me chamava de vagabundo em todos os lugares, de pecador, e todas essas coisas desconfortáveis, foi uma situação incômoda, eu sofria muito, não queria mais estudar e tive que aguentar durante um ano em cárcere privado, estávamos no mesmo grupo de TCC e imagine o inferno que foi. Sei que quando saímos da apresentação do TCC, não falei Adeus, virei a cara, fugi e nunca mais entrei em contato com ninguém, já tinha aquele maldito diploma e só queria minha liberdade.
Já que o texto caminhou para isso, vamos aos meus outros autointitulados arqui-inimigos, depois da faculdade existiu um período realmente complexo, desta pessoa não falarei, ganhou o status de Lex Luthor, mas depois disso, trocentos anos depois, entrei em meu primeiro emprego, foi um momento mesmo complexo, aconteceram tantas coisas que um tipo de cara ultra descolado, baladeiro, mas usuário de drogas (não que seja um defeito, mas em ambiente de trabalho e influenciando outros é estranho) surgiu, acabou que baixou o super-herói neste baixinho aqui e decidi que era hora de acabar aquela putaria e denunciei. Aquilo criou um efeito dominó, muita gente foi descoberta e milhões de cabeças rolaram, aí, é claro, meu inimigo passou a me perseguir, ameaçar, e percebi que minha vida estava em risco, ou seja, estava novamente preso numa situação complicada, fiquei depressivo, não queria ir ao trabalho, comecei a faltar, quase literalmente me matei, quase literalmente me mataram, a vida não fazia nenhum sentido, um grande amigo ficou contra mim, mas hoje já voltamos a ser amigos, é meu melhor amigo inclusive, e quando finalmente saí daquele emprego, foi um alívio imenso, quase um ano sem falar com ninguém, definhando em um canto, querendo liberdade, até que fui solto, podia viver em paz. Eu não suporto climas estranhos, não suporto ter atritos, apesar de fazer a coisa certa e lutar pela justiça, pois é, fui criado entre histórias em quadrinhos e sempre botei banca de Batman, é uma vida solitária, mas é pela justiça.
Então... Depois de tudo aquilo, achei que tinha encontrado a paz, entrei em um emprego público, e eis que depois de um ano maravilhoso, com amigos incríveis, entrou alguém difícil, acabei me apaixonando, pelo menos nisso varia, é minha primeira inimiga mulher, a Hera Venenosa, ficamos, foi bacana, mas o veneno veio em seguida, e já estou naquele estágio de não suportar mais, querer liberdade, partir para outro ambiente. Não consigo ter mais contato e atrito com inimigos, simplesmente aposentei a máscara e a capa, talvez eu volte numa versão heroica e aposentada, mas não tenho mais força para fazer justiça e nem para aguentar dor de cabeça, tão pouco para vê-la aos risos com meus amigos... Não consigo mais fazer faculdade por conta do Pastor Maluco... Nem trabalhar em pedágio com uma arma em minha cabeça... Tão pouco olhar ou passar ao lado de Hera Venenosa e vê-la destilar tanta falsidade e sorrisos para pessoas que ela tanto criticou pelas costas... Não suporto ser cordial com ela, porque eu não entraria no jogo dela de fingir educação e fortalecer a falsidade, não posso ser igual aquele que me oprime ou prejudicou, tento me anular para não ser grosseiro, evitá-la para não sofrer, não volto mais de ônibus, ando 40 minutos só para não correr o risco de ficar preso no mesmo espaço com ela (ponto de ônibus)... Eu abro caminho, descobri que fico tremendamente abatido, fico o dia todo sem vê-la, tranquilamente, mas se em um único momento cruzar com ela, se nossos olhos passarem ao lado um do outro, fico deprimido, penso que estou preso nesta situação, preciso sair, dar espaço, não quero lutar por nada, nem por justiça, nem pela reconquista, porque os vilões não valem à pena. Porque será que sou tão sentimental? Já brinquei falando que sou polêmico, mas que é uma péssima combinação ser polêmico e sentimental, e é mesmo, em determinado momento surgirá alguém que, apesar de toda demonstração de afeto que você dê, usará toda esta demonstração para te humilhar, rebaixar, oprimir, transformar tua vida em um verdadeiro pesadelo.
Entrei no momento que sei que é só um contar constante de tempo, cada minuto uma eternidade, aquela angústia aumentando, vontade de sair logo, penso em pedir demissão, mas só não faço porque pessoas que mandam em minha vida preferem me ver infeliz do que desempregado. É uma merda, talvez me mate, não sei... Tento ter a esperança de que o passado se repetirá, não que outro vilão apareça, mas que o final da angústia chegue, eu seja demitido, ou ela, ou ela arrume algo melhor. Existe uma prova que fiz no fim de semana, outro concurso público, talvez chame em Abril, é uma esperança, isso que está me fazendo esperar, empurrar com a barriga, todos fizemos a prova, pode ser que ela seja chamada, seria maravilhoso, espero muito pelo fim do contato, não dá pra esquecer algo se você precisa estar no mesmo lugar do problema todos os dias... Sobre a prova, eu podia passar, preciso, necessito, é o passe mágico para fora do cárcere privado, que bom, mas podia ser ela, ela merece ganhar mais e provar para a família que vale algo, já que parece existir um problema entre ela e o pai... Vai ver já sabem quem ela realmente é.
Só consigo me perguntar “Porque outro inimigo? Porque esta galeria de rivais excêntricos? Um Pastor Maluco, Um Lex Luthor que destruiu minha vida e me fez depressivo forever, Um Fumeta Assassino e Uma Adepta fanática da Lei da Atração”, todos completamente insensíveis.

sábado, 25 de janeiro de 2014

25/01/2014 - Em um Mundo Seriado não Há Inspirações, só Mediocridade

Una manera de definir la creatividad es ver lo que nadie ve. – Ferran Adrià

Prometi a mim mesmo que faria um capítulo para homenagear o cozinheiro Ferran Adrià, foi um momento incrível quando assisti sua entrevista no “Roda Viva”, é o tipo de momento que realmente muda a vida de um homem, algo tão difícil nos dias atuais, encontrar inspirações que mudem nossas vidas, e há muita inspiração no mundo, mas estamos fechados. Então o assunto será diferente, percebi que saí extasiado daquele programa, um cozinheiro falando sobre seu ofício como quem fala de arte, e ele é um artista, seus ensinamentos, sua técnica, tudo relacionado a ele, seus objetivos, suas ideias e ambições, que nada tem a ver com ganhar dinheiro, melhor ainda, já que a ode ao dinheiro está tão banalizada e parece ser foco de tudo e de todos, mas o foco deste texto é mais profundo, quero falar de nossos dias que estão eliminando nossas possibilidades de mudar e nos inspirar.
Assim que terminei de ver o programa fiquei de boca aberta, o tipo de programa que não me atrai, sobre um cozinheiro; para minha ignorância, nada podia sair dele que me interessasse, não que fosse preconceito, mas não era minha área, no entanto, não consegui parar de escutá-lo, e nem assistiria o programa, tinha assistido o programa anterior, estava longe do controle remoto e não queria pegá-lo, preguiça, mas mexia na Internet e jurava que desligaria a Tv assim que fizesse o que tinha que fazer online, não consegui, deixei o canal ligado, saí da Internet e vi que aquilo era o que eu precisava, que homem incrível. O problema é que eu escrevi sobre outra coisa; durante o programa foi o paraíso, depois pesquisei sobre o homem, então fui trabalhar no dia seguinte e outros milhões de assunto vieram à cabeça, aí está o problema, a vida é bombardeada de informações inúteis, pessoas inúteis, a velha mediocridade de sempre, e percebi uma coisa, o mundo conspira para nos mediocrizar, é duro, mas é verdade, não existem inspirações e todos estão em um barco decadente. Claro que generalizei, apesar de todos estarmos em um barco furado, é necessário muito foco e disponibilidade para fugir das distrações e não ser apenas um na multidão. Ser único... É isso que todos devemos querer, mas estamos em um mundo de contagem, onde todos representam um número, um mundo em série, de pessoas em série, de problemas em série, nada é individual, e todo brilhantismo só surge quando o homem quebra a barreira do coletivo para sua luz brilhar.
Essa inquietação surgiu quando percebi que não pensava mais em Ferran Adrià, ora, e toda aquela inspiração? E tudo que eu senti? Muitos homens brilhantes em algum momento da vida se depararam com outro humano brilhante, e inspirado por essa luta, personalidade ou realização, decidem que é a hora de deixar um legado, de mudar o jogo, de não ser nenhum número, de ignorar tudo e todos, ou melhor, ignorar tudo e todos que lhe atrasam o caminho, sabe, você sente, lá no fundo todo homem sente que está preso numa vida que não lhe diz respeito, não lhe agrega nada, que está longe de teus sonhos, realizações e desejos, e um corte profundo precisa ser feito, é hora de mudar tudo para finalmente ser alguém de relevância no mundo... É assim que funciona, a inspiração é a consciência atacada por um brilhantismo alheio, que finalmente dá aquele baque e grita em nosso âmago “Ei, faça algo, você deve tentar”, pode soar como autoajuda, mas o texto não é para ajudar ninguém, apenas para criticar a falta deste instante brilhante de inspiração, as pessoas se desligam facilmente de suas inspirações, afinal, não têm tempo para tais besteiras, então elas sentem, como eu senti ao ver Adrià, que algo está acontecendo, que algo precisa acontecer, é hora de mudar, mas então, você deixa passar, deixa pra lá, vai dormir, acorda, não depura a informação, não depura o instante de estalo, vai trabalhar, pega a condução, pensa numa vida tão concreta de dificuldades e obrigações irrelevantes que se fazem de obrigatórias, está tão embrenhado nesta vida, almoça, trabalha, volta para casa, pensa nas dores de cabeça, e é tanta coletividade, tanta coisa que lhe prende, bancos, conduções, família, amigos, absolutamente tudo, que subitamente Ferran Adrià desaparece de sua essência, a inspiração virou transpiração (não de ação, mas de cansaço e suor alienante) que para você tanto faz. Talvez este texto sirva para trazer as palavras de Adrià novamente ao meu “espírito”, mas principalmente para salvar as inspirações, os momentos de inspirações.
De nada adianta se deparar com aquela vida magnífica, aquele mestre incrível, aquela inspiração que só acontece raramente, como em um eclipse, se depois disso for apenas uma lembrança, apenas a imagem de um cara que venceu ou que representa algo, ou pior, de um louco, de um mundo estranho e irrelevante, porque não é, é relevante em sua máxima potência porque mexe com nosso interior, mexe com quem somos.
Vi em algum lugar, talvez no filme “O Espetacular Homem Aranha”, uma professora dizendo que só existe uma trama, e esta trama é “Quem sou eu?” (não sei se é de outro lugar), tudo se resume a isso. E você é aquele que se depara com um momento de mudar de vida, e tenta mudar, mesmo que isso o destrua, ou você é aquele que se depara com o momento de mudança interior e deixa pra lá, mas ao deixar pra lá como se fosse unicamente um brilhantismo alheio que nunca estaria ao seu alcance, e aos poucos vai sumindo, desaparecendo na multidão seriada, sendo mais um número, mais um entregue às obrigações? Sim, no mundo de hoje a responsabilidade foi elevada ao posto de escravidão, não, você não tem responsabilidade com seus filhos, com sua família, seu trabalho e mediocridade, não há responsabilidade alguma, a responsabilidade foi roubada por um mundo de máquinas, por um mundo sem sentimentos, de pessoas que nascem sem pra quê, vivem sem pra quê e morrem sem terem vivido; a verdadeira responsabilidade deveria ser aquela de você consigo mesmo apenas... Quando critico a nova responsabilidade falo em ignorá-la, tomar tua vida e teu legado, perceber-se único e com um papel realmente importante que transcenda todos ao seu redor, ser unicamente quem você é, porque só existe uma trama nesta vida, e esta trama é “Quem é você?”, e o mais importante, “Quem você quer ser?”, e desculpe, mas se tua resposta for toda questão das condutas de sempre, da vida, do trabalho, do pai ou mãe de família, então você não é ninguém, você é mais um, e como mais um, nenhuma inspiração servirá para tirá-lo deste patamar para um superior. Só me interessam os que transcendem, Adrià é um cozinheiro brilhante, o homem fez um mousse de fumaça, deseja um sorvete quente, um caramelo salgado ou até a bola quadrada, porque não é no brilhantismo da cozinha, mas no brilhantismo de fazer o impensável, da criatividade, da inteligência que não está ligada meramente aos testes de QI ou aos concursos públicos, mas da criatividade do homem que é um Deus, do homem que faz seu mundo, de um mundo que pode ser criado, manipulado, do tudo é possível... aí está o brilhantismo.
Espero que a inspiração volte e que eu não me perca em informações soltas no espaço, nas brigas cotidianas, na mediocridade das relações humanas que tanto me fazem pensar, mas me impedem de ser eu, do método que não transcende, da normalidade banal, quero inspirações que mudem minha vida, que eu esteja aberto a elas, que elas sejam assimiladas, porque vivemos em um mundo onde nada é assimilado, as coisas são debatidas por mentes mui inteligentes, são discutidas ferozmente apenas como duelo de informações ou de quem é o mais esclarecido, para depois sumir e dar lugar a outro debate, mas nada criador, ninguém cria nada com aquilo que sabe, é vergonha lamentável que a humanidade esteja gastando suas possibilidades de brilhantismo jogando ideias ao vento e não transformando tais sabedorias em realizações... Tais criações podem surgir de diversas maneiras, não apenas em debates no Youtube para amanhã serem perdidos e esquecidos, ou textos fugazes em blogs, mas que este blog tenha um conceito que transcenda o próprio blog para a imortalidade, que o criador guarde seus textos, depure as palavras, tenha um cuidado, não apenas foco no número de acessos de semana em semana, texto sem qualidade ou preso às necessidades de usar palavras chaves que serão procuradas no Google para trazer acessos, só acessos e nenhum olhar atento, e quando piscar, perder seu valor porque é hora de outra coisa passageira, tem que ser como em “Cisne Negro”, tem que ser perfeito, e digo mais, eterno... Tento trazer o eterno para este projeto, tudo é construído almejando uma única obra, um conceito que depois se desprenderá do meio e mostrará um retrato da realidade e da humanidade... A eternidade se perdeu nos dias de hoje, infelizmente... Então vão seguindo, parados, evaporando, e quando você menos percebe, aquela frase maravilhosa que você leu em um livro, aquele quadro incrível que olhou por um minuto, mas que representou todos os seus anseios, quando menos esperamos, a campainha toca, o telefone treme, é hora de bater o catão de ponto, ou é hora de entrar na fila do desemprego, e todas as preocupações banais destroem seus momentos diante da inspiração, e a inspiração deixa de ser inspiração para ser o amargo suor do cotidiano.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

24/01/2014 - O Inimigo de teu Inimigo é teu Amigo... E o Inimigo de teu Amigo?

Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade. - Confúcio

Nunca pensei que fosse uma questão importante, antigamente eu só tinha um lado da moeda, não compreendia o conjunto da obra. Felizmente (ou infelizmente) passo por todos os sentimentos e pensamentos do mundo; deixando o pessoal de lado, mesmo sabendo que tudo é pessoal, uso o pessoal para instigar um pensamento universal sobre fidelidade na amizade. Isso já foi dor de cabeça em minha vida, mas acredito que não existam regras. É tudo complexo, um campo minado.
Naquele meu antigo emprego, quando finalmente conheci um amigo para chamar de melhor amigo, um dia ele entrou em atrito com outro colega, mas havia uma escala de afinidade, ele era meu amigo enquanto o outro era um colega, infelizmente meu amigo ficou bem abatido, naquele caso não importava o que o outro representava, tão pouco se estava certo ou errado. A questão fundamental da amizade era: Comprar ou não comprar a briga? Qualquer lógica pede que sejamos justos, ora, se ciclano não fez nada conosco, porque considerarmos ele como nosso inimigo? Inimigo é uma palavra forte, mas uso apenas para organizar nossos termos e ideias. O problema era mais complexo, afinal, ciclano e eu conversávamos o suficiente, tínhamos bom relacionamento, isso é importante, e pior, eu não tinha vi o que aconteceu entre os dois, só tinha a palavra de meu melhor amigo, e sabemos que cada um puxa sardinha para o próprio lado, logo, tanto meu amigo quanto meu colega tinham razões. Como um homem, um amigo deve se comportar neste momento? Até hoje não tenho a resposta, mas sei o que EU faço, e o que EU faço pode não ser igual o que todos fazem. Sou humanamente justo, mas sou logicamente injusto. O correto seria averiguar quem tem a razão e tomar este partido, claro, se percebermos que uma escolha precisa ser feita; existe uma terceira escolha que é aquela onde não tomamos partido e deixamos o circo pegar fogo, “Eles que se entendam”, mas não estou falando de amizades fugazes, falo de amizades verdadeiras, falo do teu amigo sofrendo, porque para ele, ele é injustiçado, e você precisa colocar em tua cabeça que seu caminho pessoal, sua jornada humana, está ao lado dele, é como uma família, não interessa, sei que é humanamente errado puxarmos farinha para nosso lado, mas não conhecemos os estranhos, e passaremos muito tempo com os mais queridos, ou deveríamos passar; então eu o escolhi cegamente, e detalhe, teu amigo tem razão, tendo ou não, você fez a escolha certa, imagine que todos sairão de nossas vidas, trabalhar ou estudar no mesmo lugar não é certeza de permanecer juntos, mas se forem amigos, então há o desejo de estenderem isso para além mar, não importa onde estejam, estarão em contato e vão se querer bem. É o “Poderoso Chefão”, existe toda aquela honra, reciprocidade, é família, sim, é máfia, vivemos em pequenos grupos de mafiosos que se protegem, isso é natural na natureza, bandos existem, grupos de afinidades surgem, é biologicamente ou naturalmente (não sei a expressão) normal, é nossa preservação da espécie, uma mão lava a outra; porque ficar ao lado de alguém que está prejudicando alguém que lhe ajuda, alguém que é de teu bando e você quer bem? Não podemos fazer isso, por mais injusto que seja nossa escolha... foi um verdadeiro dilema, não foi fácil cortar relações com alguém que não tinha feito nada para mim. Mas foi um caso especial e extremo. Meu amigo, e é um ótimo amigo; afinal, amizades são feitas de escolhas, desde o momento que um escolhe o outro até nas pequenas escolhas cotidianas; ele sofria realmente, em seu mundo (falo seu mundo apenas porque não podemos julgar sem estarmos presentes) ele sofria uma terrível injustiça, e demonstrava certo receio ou tristeza quando eu me aproximava do rival, percebi isso e nestes momentos a única questão que passava por minha cabeça não era um CSI, mas “Uma pessoa querida está sofrendo”, e não usando a lógica da justiça, mas usando a lógica do bando, quando nossos caminhos se separassem, se eu tivesse escolhido o colega, mesmo que fosse a escolha certa, eu não teria ninguém hoje, não teria construído laço algum, não teria contato com ele, nem queria e nem quero, mas aquela escolha me trouxe um grande amigo que está ao lado até hoje, é maravilhoso. Isso importa? A justiça não feita (supondo que tenha existido) contribuiu para um elo incrível, para um fortalecimento do bando, para que eu ganhasse literalmente um irmão. Isso é o que conta. Essa é uma lição quase de Poderoso Chefão, é fidelidade, integridade, que vai além de qualquer lei e tribunal, é proteção, é como você demonstra ao seu amigo ou aos seus queridos que se importam contigo, e que você se importa, que estarão juntos, que podem contar uns com os outros. A situação poderia ser mais grave se um amigo nosso matasse outro, mas não tenho respostas para isso, ou melhor, tenho, mas não quero dizer, vou pelo humano, não pela bondade, e existe um abismo entre humano e bondade.
Particularmente, nem pensei na possibilidade de meu amigo estar errado, o que eu queria, já que não estava envolvido no dilema, era aliviar a dor de um amigo, mostrar que eu estava ao lado. É assim que se formam as famosas panelinhas? Pode até ser, mas também é assim que se formam os elos que talvez você levará para a vida. É complexo, machuca, enche o saco, mas se não for assim não construímos nenhum porto seguro, viver e ter amigos é muitas vezes jogar no escuro, investir às cegas em uma relação duradoura. Não há nada mais delicioso que uma amizade que sobreviveu, uma amizade que amadureceu por tantos anos, fica fortalecida.
A questão só ressurgiu em minha vida porque recentemente me vejo na mesma situação que ele, sou o rapaz que foi atacado, sou o animal ferido, e sei que é complexo porque tenho cabeça para admitir que cada cabeça é um mundo, e é absolutamente possível que duas pessoas boas se estranhem e se tornem rivais sem que nenhuma tenha feito nada para a outra, neste campo de batalha que se chama ironia da vida, existem os soldados que são nossos amigos, que nos querem bem, não gostam de nos ver sofrer, e não sabem como agir. O mesmo medo que meu amigo teve agora faz parte de mim, tremo só de pensar que amigos ao meu lado, e pior, um ótimo amigo, comece a ser mais amigo dela do que meu. Existe aquele ditado que diz que o inimigo do seu inimigo é seu amigo, mas e o inimigo de seu amigo? O que o inimigo de seu amigo é para você? Tenho cabeça suficiente para não fazer amigos escolherem a mim, mas compreendo aquele problema do passado, compreendo que era difícil me ver ao lado do “rival”, aqui é a mesma situação, não consigo me livrar do sentimento de medo, porque talvez, ser amigo de alguém que não suporta nosso amigo é não suportarmos nosso amigo por tabela. Pode parecer ridículo, talvez nem seja por maldade, mas é a imagem que o teu amigo tem de você quando vê amigo e rival de mãos dadas e correndo pelos prados.
E vou além, filosoficamente falando, nossos amigos ou aqueles que escolhemos para estarem ao nosso lado, são extensões do nosso “eu”, são nossas maiores identificações, partes de nós, e drasticamente, anexos de nosso caráter. Não falo que estamos certos, estando certos ou errados, eles compactuam de nossa visão, mesmo que tenham ideologias opostas ainda há o denominador comum, ou pelo menos o interesse de que tudo dê certo. O rival, aquele que nos prejudica, significa o anti-eu, e no momento que outra parte de nós junta-se ao anti-eu, eles são anti-nós. Bem complicado, por isso fiz aquela escolha no passado, e é só olhado para o passado que entendemos o presente.
Hoje sou maduro para entender que um amigo não pode ordenar que outro fique ao seu lado ou faça escolhas às cegas, mas sou humano para saber que se um amigo se juntar ao anti-eu, ele será ao mesmo tempo nosso amigo e um simpatizante da filosofia oposta que tentou nos derrubar, mesmo que seja por ingenuidade e sem intenção.
Lembrando que sempre falo sobre melhores amigos, ou grandes amigos, não falo de conhecidos ou colegas, esses podem falar com nossos rivais que não significa que nos odeiam, apenas não fazem parte das obrigações ou dos laços conseguidos, não são parte do bando, são simplesmente outras histórias acontecendo sem ligação com o enredo de nossa vida. Figurantes trafegam por todos os lados, saem e entram em nossas vidas sem nos incomodarmos com isso, mas amigos são do elenco fixo, e sempre que alguém do fixo parte é um grande choque para o enredo.
Quero deixar mais complicado. Fernanda brigou com Augusto; José é amigo de Augusto; Maria é amiga de Fernanda; todos decidem ser fiéis aos amigos; Fernanda e Maria evitam Augusto, Fernanda porque não o suporta, Maria para acompanhar a amiga; José e Augusto fazem o mesmo com Fernanda e pelos mesmos motivos; mas e José e Maria? Porque o melhor amigo de um não falaria com a melhor amiga da outra? Não existem motivos, no entanto, agora Maria representa uma extensão ideológica de Fernanda, enquanto José representa o mesmo para Augusto. Posição bem desconfortável para os dois amigos.
Ainda existe uma questão de certa forma irônica. Vamos supor que teu rival não exigiu fidelidade do amigo dele, você está livre para conversar com o amigo de seu oposto, até aí tudo bem, embora o amigo represente uma ligação bem íntima com parte do outro rejeitado por você, mas este amigo do outro continua falando contigo; aqui há um problema, você está por tabela ainda em contato com teu rival, mas este amigo do rival não deve valer muito, se valesse, teria comprado a briga do amigo dele, este amigo do rival é talvez pior, porque sabemos que faz parte das ideias opostas e ainda não faz jus a amizade do outro, e a amizade, todas as suas demonstrações dignificam os seres humanos, sendo você ou o seu rival. E outra, conversar com o amigo do rival, sendo ele bom ou não, é um risco de guerra, é entregar informações ao rival, e informação, na maioria das vezes é mais importante e mortal que um tiro, porque é a informação que dispara o tiro.

Parece que a vida pega duas pessoas inocentes, transforma em rivais, e de quebra arrasta pessoas que não estão envolvidas com o problema. Envolver-se com a vida alheia neste sentido é fazer parte da vida do outro, e fazer parte é construir laços. Tudo é complexo. Acredito que a atitude mais sábia, pensando que somos emotivos, precisamos de amigos e não podemos ser injustos, é, quando estivermos na posição de atacado, não exigir que nossos amigos comprem a briga, mas ironicamente, e contraditoriamente, se estivermos na posição de amigo do atacado, comprarmos a briga cegamente. Pelo menos é assim que tento agir, posso afirmar que toda dor de cabeça por conta destes assuntos é extremamente deprimente, somos seres ridículos, mas com necessidades de afeto.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

23/01/2014 - O Dia do Fico - Quando Recusei um Emprego Público

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"( A. S. Exupéry)

A vida é um grande efeito borboleta, literalmente, cada escolha abre possibilidades diferentes em nossas vidas, se não fosse por aquele emprego, não teria conhecido tais pessoas, se não tivesse passado na prova do concurso público estaria em outro lugar, ou se tivesse passado.
Quero falar do dia que não fui. O dia do fico. Sempre falei do tema Amizade, que é o mais emblemático possível, complexo, não sabemos bem como lidar com os amigos, o que é ser amigo? O que é não ser? Como agir? Quais nossas obrigações? E ainda há o ditado inquietante do criador de “O Pequeno Príncipe” que abre este capítulo.
Tudo aconteceu em 2008; oscilo entre me arrepender e não me arrepender, mas não me arrepender é mais fácil já que não existe máquina do tempo, se existisse eu me arrependia e voltava, talvez não, não sei. Eu estava desempregado, enfrentando um desemprego gigantesco que vinha desde meus 18 anos, embora tivesse um passado de “quase empregos”, mas emprego que é bom nada, ou emprego que é ruim, sei lá, nada, nadinha, isso não era o pior, o que me inquietava era e sempre foi a questão “Ter um amigo”, eu nem esperava por aquilo, nem procurava. Subitamente consegui meu primeiro emprego, eu era o segundo mais velho e mais inexperiente do trabalho, só garotões e eu ali com 26 anos. Até aí tudo bem, mas em meu período de desemprego prestei vários concursos públicos, respostas que demoravam a chegar. Então caí no emprego, uma loucura... Em pouco tempo, pouquíssimo tempo, percebi que nunca tivera amigos porque eu não tinha um círculo social, aquele detalhe ultrapassou qualquer profissionalismo, eu gostava do emprego porque lá tinha amigos, e de quebra tinha até um melhor amigo, isso foi algo realmente importante em minha formação, um melhor amigo que me considerava melhor amigo, e eu tinha que fazer tudo certo ou corria o perigo de perdê-lo, pode soar algo de novela, mas era quase... Foi quando a bomba veio por correio, chegou uma convocação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do concurso que fiz para Auxiliar de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica. Detalhe: Apenas duas vagas. Outro detalhe: Fiquei em segundo lugar. Terceiro detalhe: Salário de 2.040,00 Quarto Detalhe: Eu ganhava 500 e pouco.
Qualquer um em meu lugar falaria “Foda-se” ao atual emprego e correria para um lugar melhor... eu não... e tem o motivo que nunca escondi. Este motivo foi unicamente uma pessoa, meu melhor amigo, aquela coisa rara que nunca tive. A amizade estava no início, e tudo que passou por minha cabeça foi que eu não teria mais um amigo, e mesmo que falem que amigos encontramos em todos os lugares, o que é verdade, todo amigo é insubstituível, o meu também era. Conversamos, ele me incentivou a ir, claro, queria o meu melhor, mas meu medo era o de não melhorar a amizade, perdê-lo, esquecermos um do outro aos poucos, é uma verdade da vida, nenhum amigo restara do colégio ou faculdade, nunca fiz laços com ninguém, mas ali eu consegui, não sei como, mas eu tinha um amigo. E depois de pensar eu desisti de ir à escolha do cargo, falei que não o abandonaria e não fui. Recusei o cargo. Este sou eu, idiota, trouxa, que valoriza mais as amizades que os empregos ou o dinheiro. Não quero me gabar, e nem culpo ninguém por isso, sei que a escolha foi minha... Se me arrependo porque minha passagem naquele emprego acabou quase em morte, não me arrependo porque ele e eu somos amigos até hoje, trabalhamos em lugares diferentes, mas foi aquele tempo que tivemos, uns 2 anos ou menos, que fortaleceu nossa amizade, rimos, choramos, saímos, construímos algo e viramos irmãos, sei que é algo especial... Tudo que consegui como ser humano valeu à pena; sou grato por ele existir e estar em minha vida. Claro que hoje nos vemos pouco, cada um em um emprego, mas sempre marcamos alguma coisa, conversamos e é algo que dinheiro algum paga. Não posso falar que me arrependo porque, apesar daquela escolha ter quase literalmente me matado (conto em outra oportunidade), com todas as tempestades, hoje estamos aqui, fortes, posso chamá-lo de meu melhor amigo.
É um sentimento tão complexo de carregar. Eu poderia estar em outro lugar, não teria passado por tanta coisa ruim no outro emprego e neste, uma coisa leva à outra, a desgraça no outro emprego me deu um amigo, deixou-me desempregado, então passei por períodos difíceis, trabalhei em supermercado como escravo, até que caí no lugar que estou hoje, um emprego público, desmistifiquei a glória do funcionalismo público, mas encontrei pessoas maravilhosas, tenho até um segundo amigo, que é um cara muito bacana, uma pessoa maravilhosa. Estas coisas, esses laços realmente contam em nossa vida. Se eu eliminasse tudo isso, se eu tivesse escolhido ganhar mais e estar “tranquilo” em um emprego público lá em 2008, não teria meu melhor amigo, nem teria conhecido outro amigo, talvez estivesse tranquilo financeiramente, não estaria depressivo como estou, não estaria querendo me matar, não sei, realmente não sei... É tudo um efeito borboleta, tudo que consegui de ruim e de bom sumiriam, outras experiências surgiriam, realmente não sei. É bom ter amigos. Sinto-me humano enquanto valorizar mais as amizades que a parte financeira. Mesmo sabendo que, talvez, se fossem eles no meu lugar, teriam escolhido ir para o emprego melhor... E eu sobraria.
O irônico é que em qualquer trabalho há grandes movimentos em busca de empregos melhores, oportunidades novas, cargos diferentes, mudanças de setores, mas quase nunca focam na família construída, nos laços, todo mundo está sempre de olho em outro lugar ou posição, enquanto fico unicamente de olho nas pessoas, quero estar com elas, e é isso que basta... Quando saio de casa não saio pensando que preciso de um emprego novo para ganhar mais e ter estabilidade financeira, casa, carro... Penso unicamente “Que bom, verei fulano, ciclano e colocaremos a conversa em dia (Mesmo que estes momentos sejam raros, na hora de lanchar e em momentos rápidos)”, e quando tudo está ruim, ou quando percebo o enfraquecer de laços ou qualquer clima estranho que não tenha nada a ver com o trabalho, meramente de relacionamentos, fico abatido e penso “Que saco, deu tudo errado, preciso mudar de ares e tentar a sorte em outro canto”, consigo aturar qualquer porcaria, sempre abaixo a orelha para superiores, faço o que pedem e não reclamo, porque para mim tanto faz, pra eles é bom, pra mim whatever... Mas se as relações estão quebradas eu não sei mais ser um bom funcionário, começo a chorar em silêncio no banheiro, perco a linha em público, recuso serviços, mando patrão ir se foder, e pronto, estou tentando pular fora, porque não penso que é um emprego que preciso, mas que preciso de laços em minha vida; não sou um bom funcionário, sou um bom ser humano, quando pareço bom funcionário é porque tudo está certo em minhas relações, quando sou um péssimo funcionário é porque aquele lugar tanto faz, estou lá pelas pessoas. Não sei se sou errado, é só diferente. E não existe esta porcaria de “Tem que saber separar trabalho de vida pessoal”, porque é você que está lá trabalhando pessoalmente, tudo é pessoal, absolutamente tudo é pessoal, tão pessoal que facilmente vemos amizades surgirem e funcionários terem mais regalias ou privilégios que outros, mas não quero polemizar, em todo emprego é assim, e se é pessoal para quem manda, é pessoal para quem obedece. Podemos ser vários, mas a vida é uma, e a mesma vida que você usa pra transar no motel, beijar uma garota, tomar um sorvete, é a vida que você usa para trabalhar seja naquilo que for. Tudo é pessoal. Só não é pessoal para os robôs ou para os que não têm sentimentos.
Mas amizades pedem tempo, boas amizades pedem tempo, acho que essa rotatividade humana em nossas vidas elimina qualquer construção de um laço mais forte. De qualquer forma acho que estou me cansando do jogo, tudo passa e nós passamos, só lutarei sempre para que em qualquer lugar eu mantenha contato com as pessoas queridas, e contato não significa uma curtida no Facebook ou uma conversa via celular, contato requer “encontros”, sentir que a pessoa existe. O mundo precisa de encontros, não de histórias de quando a amizade existia, precisa de novas histórias acontecendo, e não de lembranças dos velhos tempos.

A vida é um grande saco de ironias, infelizmente não temos uma máquina de “E se...” como no desenho Futurama para ver o que teria acontecido se tivéssemos recusado ou aceitado um emprego. Algo me diz que estou no fim, mas não sei, isso tudo é estressante, sofremos mais por aquilo que poderíamos ser do que por aquilo que somos, os fantasmas da mente nos atormentam mais que os fantasmas espirituais, porque os da mente nós sabemos que existem, e quase sempre existem por nossa causa, os espirituais são assuntos para pessoas especializadas e que não me interessam.
Obs.: Relevem meu esgotamento, é físico e mental. Estou com uma cicatriz ardendo porque ralei meu dedo numa mesa que carreguei na escola... E eu achando que trabalhava numa escola, não em um campo de obras.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

22/01/2014 - Você é uma Pessoa Incrível "Apesar de...", "Nada Contra, mas..."...

“Eu quase não saio/ Eu quase não tenho amigo/ Eu quase que não consigo/ Ficar na cidade sem viver contrariado” – Lamento Sertanejo – Dominguinhos e Gilberto Gil.
                     
Acho que não sou um bom amigo. Isso é perturbador. Simplesmente não sou. E nem adianta dizer coisas parecidas com “Você é um bom amigo, só não quero ser teu amigo”, não estou falando de pessoas que não são nossas amigas, porque realmente ninguém é obrigado a ser nosso amigo, e nem ando procurando por isso, mas quando alguém que já é ou era amigo (ou amiga) diz esta frase, é porque o problema é mesmo você não ser um bom amigo, caso contrário, continuariam com a amizade. Vamos analisar: Quando alguém diz “Você é um bom amigo, mas não quero ser teu amigo”, a pessoa pode estar falando a verdade, somos bons amigos, apesar de... sim, é este “apesar de...” que guarda todo tipo de preconceito. Apesar de você ser ateu, apesar de você ser pessimista, apesar de você ser depressivo, apesar de ser burro, inteligente, tanto faz, e este “apesar de” é mesmo um grande preconceito, é o mesmo que “Nada contra, mas...”. A não ser que seja “apesar de ter matado alguém”, mas é como Cazuza diz, “Eu não posso causar mal nenhum, a não ser a mim mesmo”, e é bem por aí.
Quando você lê um e-mail (Recebido no natal... presentão) que uma amiga enviou falando “Nada contra você, você é uma boa pessoa e um bom amigo, mas não quero ser mais tua amiga”, tudo bem que não era minha melhor amiga, tenho dois amigos incríveis que se encaixam neste requisito, mas era uma amizade com potencial, e gosto de dizer que segui a cartilha inteira. É um preconceito ideológico, existe algo mais nesses dizeres, e tento procurar lá no passado algum indício disso. E até imagino com bons olhos a escolha de um natal ou ano novo para término de uma amizade, nestes períodos, todas as pessoas que carregam crendices de “Ano Novo, Tudo Novo”, “Vou me livrar de tudo que atrasa minha vida ou que não gosto”, ironicamente acham que pessoas podem se incluir neste “Tudo que atrasa minha vida e coisas que atrasam...”, só esquecem que pessoas não são pensamentos e nem objetos, pessoas são seres com sentimentos.
Algo aconteceu entre nós, mas esta é história longa que pedirá um capítulo inteiro, falarei outro dia. Fora isso, superado o problema que não mencionei, a amizade seguiu crescendo, de forma incrível, eu era atencioso, a melhor pessoa possível, mas não usarei o espaço para listar coisas que fiz, não seria cortês, vamos aos detalhes que eu deveria ter sentido algo ruim a caminho. Lembro que fiquei depressivo, estava terrível, e enquanto muitos amigos e até conhecidos que me surpreenderam com suas atenções, desejavam melhoras ou ajudavam literalmente com suas presenças, palavras e ações, ela simplesmente mandou uma mensagem falando algo parecido com “Não quero saber”, e mais outras coisas bem chatas que em outras palavras diziam “O problema é teu... não me envolva em teus problemas”, tudo bem, ignorei, e precisa ser muito amigo para ignorar o desprezo de outro... ou muito cego, sei lá... Ignorei aquela insensibilidade, segui meu caminho como se nada tivesse acontecido e continuei o mesmo amigo de sempre.
Mas existem problemas incompatíveis para ela, digo para ela porque para mim as diferenças são enriquecedoras, gosto de pessoas diferentes e com ideologias diferentes, até mesmo opostas e que discordo, tenho alguns amigos que são meus opostos e são extremamente agradáveis. Mas não, vinha sempre uma palavra de ordem para não contrariar. Ignoremos isso também. Como pode uma pessoa que luta pelos animais, e não tanto quanto eu, porque tenho um histórico de vegetarianismo que consegue vencer até dos discursos a favor dos animais que não se transformam em ações, mas tranquilo, com todo discurso, falando 24 horas por dia sobre como os animais são importantes, como são incríveis, todo resto, como pode chutar alguém por ideologia? É isso... Ideologia deve ser a palavra. Sendo uma cristã levemente fanática (com levemente fanático falo de quem restringe todos os seus pensamentos à lei da atração, Augusto Cury da vida, e etc...), tudo que nunca liguei, para falar a verdade, quando surgia qualquer assunto sobre Paulo Coelho, eu sabia até mais, cheguei até a falar sobre 4 livros que li dele, incluindo o passado de Paulo que mostra com clareza que ele fazia parte (ainda faz) de uma seita satânica (ou algum derivado, mas sem o lado pejorativo), ela que tanto gostava não sabia nem da metade. Tudo bem, comecei a ficar metido, mas é só pra mostrar que sei até mesmo sobre aquilo que não curto, porque para não curtir é necessário conhecer, algo que nunca passou pela cabeça dela, já que sou, infelizmente, um cara com tendências masoquistas, depressivas, pessimista ao extremo, adorador de filosofia niilista... Mas no fundo de meu niilismo existe espaço para humanismo, para colaboração e até um lado cortês educado, um ser educado e fino, apesar de toda putaria que falo, mas sou complexo, não sou linha reta, não coloco na cabeça obsessivamente que tudo ao meu redor tem que ser positivo. Não faço ode exagerada ao pessimismo porque meu pessimismo exagerado vem de mãos dadas com o bom humor. Mas sou ateu, e isso é muito, e em muitos momentos senti que isso era empecilho, desde sempre, mesmo que negue, porque talvez a frase completa seja “Você é uma boa pessoa, bom amigo, apesar de ser ateu, pessimista, dar um de sabichão, ser educado comigo, ser pau para toda obra em matéria de amigo”, porque sim, em diversos momentos fui um ombro disposto a escutar, mesmo escutando em troca “Fique com teus problemas e não me importune”. Será que eu criei esta amizade? Seria ilusão de minha cabeça? Nunca existiu? Caras como eu entram em parafusos pela falta de respostas, sei que mesmo que não seja o ateísmo, é minha personalidade, o jeito que sou, algo que não se muda. Sou um homem polêmico, mesmo sem querer, eu só não podia ser tão sentimental e me preocupar, porque ser polêmico e sentimental nunca é uma boa combinação.
A única teoria que vem à cabeça é: Alguém obsessivo pela lei da atração que fala constantemente sobre afastar pensamentos negativos, viu que não era só isso, para afastar pensamentos positivos precisava afastar pessoas negativas, e no mundo em que vivemos, a visão crítica também é vista como “coisas negativas”, invés de afastar os próprios pensamentos, o fanatismo é tal que não se contenta em afastar apenas pensamentos, decide afastar pessoas, sem nenhuma consideração com os sentimentos, e ironicamente, a pessoa que faz uma coisa dessas só pode personificar aquilo que teme, algo ruim, a negatividade, porque negar o negativo ainda é negar, e torna-se o fanático naquilo que ele tanto tenta afastar. Apenas filosofia? Quem disse que filosofia não é real e não diz mais sobre nosso mundo e sobre nós do que milhares de livros de autoajuda ou essas literaturas que, hoje vejo, tornam seus adeptos em insensíveis e preconceituosas com toda diversidade ideológica.
Preciso voltar a ser vegetariano... Definitivamente, o mundo dos defensores dos animais está tão mal representado.

Sei que não presto para ser um amigo “apesar de... ser um bom amigo”! Faz sentido?

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

21/01/2014 - Divagações e Sobre uns Putos Otimistas

“Qualquer homem que, aos 40 anos, não é misantropo, nunca gosto dos homens”. - Chamfort.

Quanto mais velho ficamos mais temos motivos para não nos abrirmos com todas as pessoas, a não ser que seja de maneira pornográfica, porque aí temos é motivos para escancararmos tudo, mas voltando ao foco deste texto sem sentido, não sei como acontece com os outros, mas comigo é assim: fico chato, sem paciência, extremamente emotivo, descontrolado e de saco cheio de absolutamente tudo. Antigamente ainda tinha saco para sofrer por amor, estas coisas, ou melhor, saco para investir, porque sofrer nós sofremos mesmo sem saco para isso, mas os critérios aumentam, eu pelo menos me torno mais utópico e é difícil encontrar uma pessoa que consiga me entender, não sei como funciona o mundo, não quero generalizar, mas generalizando, a grande maioria trilha o caminho da padronização, desistem de seus sonhos e vão se moldando no “trono de um apartamento esperando a morte chegar”, mas “eu é que não me sento no trono do apartamento...”, vocês entenderam, a grande maioria senta, e senta no trono errado, e se dermos descarga elas descem e se fundem àquilo que se tornaram nos esgotos mais profundos. Então aos poucos todos vão encontrando uma religião, um Deus ou qualquer coisa que tire de seus corações tudo que lhes perturba, eu não desejo mais isso, aprendi a amar a perturbação como algo realmente lindo, poético e até sexy, a perturbação é o inquietamento pelo social, pelas políticas e pelo destino do mundo, quem escapa disso e encontra a paz em livros que nos inspiram em suas “autoajudas” ou nas espiritualidades da vida, até mesmo no excesso de Best-Sellers vagos, e falo excesso porque não ligo para tais leituras quando são para aliviar ou divertir, mas o problema é quando elas viram a única coisa que o homem pode querer escutar ou ver... Voltando, tudo isso, todas as trevas são cruéis, não é fácil lidar com elas, mas vejo beleza, e sei por experiência que não vou me curar, isso traz efeitos colaterais, pessoas nos largam ou nos evitam porque somos afiados e até pesados, queria poder transformar o mundo literário de Haroldo de Campos em um mundo sentimental, e é assim que acontece dentro de mim, cheio de sentimentos experimentais, ousados, distorcidos e realmente vale tudo, mas dentro de nós é um liquidificador torturante, tudo bem, nunca me falaram que o fim seria de paz, então não vejo fim e não tem paz.

De qualquer maneira me torno mais criterioso, mesmo assim continuo me apaixonando por pessoas burras, por verdadeiros estúpidos, meus amigos não, eu não os considero estúpidos, talvez no quesito de terem me escolhido como amigo, mas no geral são tudo gente boa; o problema é o amor, a paixão, estas baboseiras que nem sequer acredito, quando paro pra pensar em tudo que já estudei e li, então descreio mesmo de tais sentimentos, o problema é que qualquer sentimento atropela o pensar e aí fode tudo. Desculpe o linguajar, mas Rubem Fonseca está me estragando neste momento. De qualquer modo sempre fui um puto, embora puritano na prática, mas vejo mais honra em uma prostituta do que em muita garotinha mimada adepta de suas seitas e de suas discriminações otimistas, discriminações otimistas é quando você acha que só merece coisas boas, e até merece mesmo, mas quando ao achar isso você elimina os pessimistas, não o pessimismo, mas os pessimistas de seu convívio, então você é uma pessoa estúpida, intolerante e não personifica nem um milésimo do otimismo que prega; otimismo deveria trazer a obrigação de achar que há coisa boa até em coisas ruins, aprendemos com tudo, isso é otimismo, e não evitar a crise, porque como diria um Presidente Brasileiro, “Com Crise se Cresce”, tudo bem, ignoremos isso, e eu, pessimista do jeito que sou, acabo mais humanista que muito otimista, acho que os otimistas não são humanistas, são egoístas consigo mesmos, vivem com vendas, é mais fácil um pessimista ser um humanista do que um otimista cego. Como diria o crítico em crise Chamfort, “Qualquer homem que, aos 40 anos, não é misantropo, nunca gosto dos homens”.