sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

31/01/2014 - Ode aos Primitivos Homens das Cavernas e Nosso Direito Natural de Assassinar

Compara-se muitas vezes a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas. – Fiodor Dostoievski

Sou pelos homens das cavernas, com isso sou pela não civilização e civilidade, claro, já que estamos em um sistema “civilizado” temos que seguir a cartilha para não sermos trancafiados. Criamos um sistema tão complexamente organizado que não existem chances de sermos o que somos, animais, apenas isso. Todos os estudos científicos, sociológicos ou filosóficos que existem, e não podemos fechar os olhos para as descobertas, há tantas coisas que fecham nossos olhos para o mundo cru onde vivemos, que não podemos negar essa verdade universal, independente de misticismos sobre alma ou essência, somos animais e tudo que existe só existe porque criamos, e como tudo que é criado, tem uma mãozinha tendenciosa de quem criou, seja pelas facilidades ou acomodações.
Quero falar que, como animais vivendo em um mundo concreto, que não se importa com o caminhar das coisas, não tem vida ou pensamento, em um universo ainda pesquisado, mas já sabendo nossa finitude, tudo some, morre, vira pó e não há acontecimento que possa nos eternizar (pelo menos ainda) ou onde nos agarrarmos. Imagine que tudo é inútil, que só nosso caminho pessoal e nosso aprendizado importa, é como despertar para possibilidades infinitas dentro da sacanagem de ser um piscar de vida dentro de uma eternidade do não existir, e é isso. Dentro deste contexto é um pega pra capar e sempre foi assim. Assista ou estude qualquer documentário sobre a formação da Terra, o caminho dos seres vivos para chegarem até aqui, ou até mesmo nossa tão trágica história, cheia de chacinas, massacres, e vamos além, lá no início do porrete e da caverna, pense em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, somos primitivos por natureza, até mesmo agora temos momentos onde a civilidade some e ficamos com vontade de atacar ou nos proteger a força, que é a mesma coisa, é o instinto sanguinolento em ação, é o desejo de ser o que somos, e não somos apenas porque criamos leis que nos impedem. Um acordo, muitas leis, você não me mata e eu não te mato, você não pega minha caverna e eu não pego a tua, mas foi mais um acordo de medrosos ou de fracos do que daqueles que realmente trazem a força para dominar o mundo, somos o fruto de um bando de covardes, foi assim, nossa origem humana e civilizada é a mais mesquinha e frágil possível, criamos um teto de vidro para nossas vidas quebráveis e ridículas.
Sempre penso no tempo das cavernas como um tempo mais simples e de homens que merecem mesmo viver. Pense bem, a vida é um milagre, não importa se você acredita em lendas místicas ou se é ateu, mas é um milagre pela possibilidade imensa de quase não termos existido, tudo conspirou contra, então, ao se sentir vivo e perceber-se vivo, nada mais justo que lutar por esta vida a todo custo, e seguindo a única lei que existe, a sua vontade, o seu mundo, cada ser particular precisa ser um egoísta por natureza, é você e o mundo, sempre será, você e a existência, nada mais. E vejo grande qualidade neste homem cruel das cavernas, não são fúteis, são práticos, fortes, eles matam, tomam a força e batalham, depois vão para seus abrigos e descansam, pronto, tudo simples. Conversei sobre isso com um amigo e ele disse que não sobreviveria porque é medroso ou fraco, morreria, depois falou que talvez sobrevivesse porque pagaria alguém para matar os inimigos por ele, aqui existe um problema, ser covarde e mandar matar é coisa de gente civilizada, o verdadeiro homem vai lá e mata. Sim, estou defendendo, mas defendo apenas o ser que vive em um contexto primitivo, em uma lei à parte, não qualquer doente ou criminoso, falo da morte consciente, do assassinato pelo homem forte, daquele que precisa comer, vai lá e mata, ou deseja aquela caverna, vai lá e toma, simples assim, não quero esses idiotas que arquitetam, sim, matar pelas leis é coisa de gente civilizada, não quero a civilidade para viver, quero a necessidade e o “Ter que fazer”, aí o homem comete o grande ato que homenageia sua existência, porque tirar a existência alheia desta maneira é lindo e até poético. Quero o mundo puro, sem tecnologia (sei que ela facilita, mas quem disse que precisamos de facilidade?), quero o mundo natural, onde a pessoa nasce, vive intensamente e morre (quem disse que viver muito é bom? Viver intensamente, e nem falo de qualidade, que é bom), quero o mundo simples, onde todos seguem o fluxo comum, onde a natureza é respeitada, e com ela o animal humano, que vai pra guerra, que luta e valoriza sua existência. Hoje em dia é tanta civilidade que só existem covardes, todos fracos, e pior, sem vida, ninguém vive, ocupam o tempo, só isso, trabalhando, comprando, e isso não tem fim. Antes um pôr-do-sol tinha qualidade, emocionava, assustava, hoje é só figuração ou objeto de fotografia para um telespectador apático.
É claro que vivendo nesta sociedade frágil e covarde, cheia de “Não me toques”, e afirmo que tudo é do mundo e tudo é de todos, nada é individual por direito, sendo individual apenas para quem se apodera, eu não sairia matando, roubando e fazendo crueldade, mas simpatizo muito, e gostaria de viver naquela época fazendo o que falei. Acho que esta maneira que tenho de não me relacionar bem com a sociedade é porque sou primitivo, sou aquela coisa ainda natural, poucos entenderão, estamos presos e engaiolados, não é algo natural, leis e convenções são o relativo ao aquário e a gaiola, apenas isso. Não vivemos de verdade, queria poder lutar por minha vida, chutar a barraca e viver apenas, sem tanta frescura e mãos atadas. A liberdade só pode ser uma, aquela de poder ser e fazer até o que não presta, qualquer coisa fora é domesticação.
Quando Dostoiévski diz que “Compara-se muitas vezes a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas”, desrespeito o contexto da frase e trago para nosso debate, afirmo também que comparar a crueldade moderna com a crueldade dos homens primitivos é injuriar estes últimos, porque a crueldade deles é pura e justificada; perdemos nossa pureza, sim, o assassinato é naturalmente permitido, é até parte da lei da sobrevivência, e nem podemos virar o rosto para esta verdade que funciona tão bem nos outros animais e fingimos que suas leis não nos dizem respeito, mas somos parte da natureza, e criamos o horror ao assassinato contrastando com o direito covarde e por lei de matar o assassino, onde se vendem até ingressos para assistir execuções ou aplausos surgem, porque no fundo todos aplaudem o ato que nos é tão natural. Então a solução (impossível, mas que acho necessária), seria livrar toda sociedade de toda civilidade e adentrar naquele crime possível dos animais, porque lá não há injúria.
Conversa imaginária:
- Eu quero e vou matar, oras.
- Mas você não pode, vivemos em uma civilização.

- Ok, mas as leis de uma civilização só deveriam servir para os civilizados, eu não sou um ser civilizado, sou um animal, todos somos, como a natureza pede, simples assim.

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