sexta-feira, 21 de março de 2014

21/03/2014 - Um Desiludido no Amor - Sobre Paz, Chagas e Desejos

Realmente espero que as pessoas entendam minha grande desilusão, é uma desilusão generalizada, englobando todos os setores da vida. Tudo tem um contexto e uma história de como acabamos chegando ali. Primeiro pensemos sobre a palavra desilusão, não é tão ruim quanto dizem; pensemos na palavra ilusão, a ilusão é o irreal, é o acreditar (e não falo de fé), viver de ilusão é não sentir a vida acontecendo, pode até ser ter esperança e até boa esperança, mas está longe do real, a palavra ilusão significa tecnicamente algo que não está acontecendo, viver de olhos vendados, a desilusão é perder a ilusão, ou seja, quando se perde as vendas, quando você perde o irreal você se restringe ao real, ao pé no chão, assim, ser alguém desiludido é simplesmente ser alguém que percebeu a realidade, alguém que não está iludido.


Agora que esclarecemos o significado das palavras, falo de minha grande desilusão, sou sinceramente um homem desiludido. Quando somos uma pessoa desiludida caímos no real, temos por hábito tentar entender este real, vamos destruindo cada um dos conceitos que achávamos que conhecíamos quando iludidos. Após mais de 30 anos acreditando no amor, que isso era algo viável, que era preciso quebrar minha grande timidez para conseguir vivenciá-lo, eis que venci os grandes muros de minha personalidade, fui até o limite de minhas possibilidades, venci aquilo que era intransponível em minha timidez, para depois perceber que isso não bastava, que não era necessariamente minha timidez que me impedia de viver qualquer coisa, era um problema mais complexo, em uma primeira vez foram pessoas bem queridas que me impediram de viver um amor, aquela coisa bem Romeu e Julieta modernizado, em segundo estágio foi a própria pessoa que percebeu, depois de termos conseguido ficar, que eu era bom para amizade, não para algo mais, problema bem comum para pessoas desprovidas de um padrão de beleza imposto pela sociedade, e para piorar, futuramente, sendo um ser desiludido, percebeu que este ser desiludido era a personificação de um pessimismo que só poderia atrair mais pessimismo, logo, não podia mais ser nem ao menos amiga. Falei de dois casos específicos para ilustrar, na verdade é um leque vasto, sempre fui apaixonado, essa é minha essência animalesca, meu instinto é de me apaixonar, aquela coisa de bando, de biologia e o escambau, mas então, após mais de 30 anos, todo ano uma pessoa parecia ser atraente, muitas vezes mais de uma pessoa, e muitas vezes uma pessoa se mostrou atraente por mais de um ano, e sempre, anotando em um caderno imaginário, fui tentando todas as possibilidades, absolutamente todas, afinal, “O Não eu já tinha”, e realmente eu tinha o não, porque não tentar o sim? Esta foi minha próxima desilusão, o sim era uma das tantas ilusões do homem esperançoso, tentei declarações cinematográficas, conselhos de mil pessoas, ser educado, atirado, engraçado, rude, carinhoso, atencioso, pretencioso, egoísta, absolutamente todos os tipos de artimanhas para descobrir, pela amostragem de um catálogo realmente gigantesco de “Comportamentos X Resultados” que a vida amorosa não era para mim, não sei se isso existe, mas realmente não era, nasci inevitavelmente e miseravelmente para ser amigo; aqui acontece outra desilusão, a primeira é de querer entender o significado do amor, a segunda é que a amizade começou a perder um pouco seu valor, porque, se todos que eu amava com olhos pecaminosos só me viam como amigo, então, quem tem muito amigo não tem ninguém, e tive que conviver constantemente com aquele fracasso amoroso por não poder cortar a pessoa de minha vida, porque afinal, ela era minha amiga, e os amigos que tive sem interesse amoroso, amigos em geral, algo comum, faziam parte deste negócio chamado amizade que eu já estava destinado a ter verdadeira ojeriza. A experiência destruiu o conceito de amor, o amor destruiu o conceito de amizade.

Assim começam os estudos, vamos destruindo um por um, entendendo que o amor é algo biológico, é aquela velha mania de querer propagar genes, que a amizade é o simples sentimento de bando e parceria, mero egoísmo para não sucumbirmos numa natureza selvagem... E quando menos imaginamos a vida nos fez desiludidos, agora não vivemos na ilusão, conhecemos tudo, e não queremos mais ser feitos de bobos, uma vida dura de pedra, infelizmente quem não está neste barco nunca conseguirá compreender quem tirou as deliciosas vendas da paixão.

Amar é bom? Sim, libera algumas coisas químicas no corpo e dão uma sensação de sentimento agradável... Mas a dor de cabeça não vale a pena. Podem dizer que vale sofrer e ter amado do que não sofrer e não ter amado, mas só em um primeiro momento, quando se viveu eternamente sofrendo por amar, o que mais queremos é descansar, o merecido descanso que só pode ser conquistado não mais amando, isolando-se no silêncio, na paz eterna e no mar calmo do não querer; porque quando não se quer não se sofre por não ter.

Criei um tipo de escudo contra amores, agora só vejo sujeira e dor de cabeça, vejo que é algo que não vale o esforço, ao olhar para alguma pessoa que toque meu coração, penso sim em como seria, como eu seria alguém bacana, como faria realmente a pessoa feliz, mas estes pensamentos que podem durar um bom período, acabam dando lugar aos efeitos colaterais, a todo esforço que sempre fiz por nada, as ilusões que viraram desilusões, e para não ter que passar pelo momento de mudança de ilusão para desilusão, vou logo para a desilusão, porque assim evito a transição que é sempre dolorosa, quando vejo alguém que amo, invés de pensar “Nossa, seria muito bom se estivéssemos juntos, não há ninguém como ela...”, eu penso “Já conheci tantas que fizeram meu coração pulsar, já conheci tantas que despertaram o mesmo sentimento, então isso que acontece não é nada mágico, é normal, não vale o esforço, não vale ter mais uma desilusão em meu catálogo” e a pessoa deixa aos poucos de ser desejada, o que evita muita coisa desnecessária; invés de chegar à ilusão e depois me desiludir, nem ao menos me iludo, afinal, a melhor maneira de não ser mais desiludido é não se iludindo.

Isso é triste? Depende de como analisamos. Pra que tanto esforço se no final morremos sozinhos, nascemos e morremos sozinhos, evitar tais esforços são o aumento de tempo livre que podemos gastar com coisas mais agradáveis, como dormir, olhar pro teto e esperar a morte chegar. Particularmente o amor perdeu seu significado positivo para mim, não consigo ligá-lo a qualquer bom exemplo de vida, o amor neste estágio em que me encontro é verdadeiro causador de angústias, apenas escrevendo sobre ele já tenho vontade de morrer, de não experimentá-lo nunca mais, o amor se tornou mais uma doença que precisa ser erradicada rapidamente se eu quiser sobreviver nesta terra, o amor é minha chaga, ele me destrói e me torna depressivo, o amor é minha ruína, é aquilo que me deixa insano, que me faz chorar; e os conceitos estão todos invertidos, sou uma pessoa estragada, ele me estragou, ironicamente, só consigo sobreviver e voltar a ser feliz quando me torno frio, quando analiso metodicamente, quando posso até me agarrar ao ódio, a raiva, então, não é fácil ser este baixinho que tanto sentiu, amou e agora deseja paz, é um mundo onde a raiva é a sobrevivência, onde o tédio é a paz almejada, onde o amor é a terrível doença contraída, que tanto tira nosso sono, causando suores, febres e debilidade que faz o suicídio parecer melhor que passar por tudo isso, o amor é o câncer em seu estado terminal, morrer se torna desejo tão profundo que seria desumano deixar o paciente vivo.

Posso dizer que nunca fui o objeto desejado, sempre fui o infeliz que desejou, e quando não somos o objeto, mas o agente “desejador”, é como Schopenhauer diz, o desejo e a vontade são fontes de toda infelicidade.

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