quinta-feira, 6 de março de 2014

06/03/2014 - Uma Crítica ao Livro "A Cidade do Sol" de Tommaso Campanella (Utopia Passada e Distopia Presente)

“A Cidade do Sol” é a utopia corajosa de sua época, porém, distopia se colocada em prática hoje, ler a obra de Tommaso Campenalla foi caso de amor e ódio, primeiro que o homem teve coragem de descrever a sociedade perfeita, na falta da possibilidade de organizar o mundo, imaginou uma cidade trancada, feliz e de homens virtuosos e justos, justos até onde podemos imaginar sua época. Aí está o grande problema, Campanella tinha boa intenção, mas era boa intenção baseada em suas crenças cristãs e desconfortos; Campanella foi perseguido, preso e perturbado por seu avançado em tempos cruéis. Todo passado parece cruel, não conheciam os avanços do humanismo moderno e nem os direitos naturais que hoje encontramos.


Acredito que se para a época ele era um homem esclarecido, para nossa época seria visto como mais um dos tantos políticos que criam leis maldosas baseadas em sua crença. Seu diálogo poético fala para uma sociedade de pecadores e homens incultos, trazia a novidade de abrirem os olhos para os benefícios da natureza, Deus não é mais aquele que faz tudo em um passe de mágica, mas alguém que criou tudo e precisa ser venerado, porque os conhecimentos de Campanella abordam as leis naturais, o céu, o mar, a terra, as plantações e todo conhecimento que hoje são básicos, o único problema é que ele não baseava tais conhecimentos em pesquisas e dados científicos, baseava na posição dos planetas, ascendentes e toda cultura esotérica, mesmo assim não falha completamente, embora existam vestígios de ignorância, temos que compreender que para sua época avanço descartar Deus e aceitar os fenômenos naturais. Acredito que mesmo sendo defensor da moral e bons costumes, tentando preservar certo humanismo tendencioso, Campanella conseguiria se virar muito bem nos dias atuais, acompanharia os avanços da ciência e tecnológicos com entusiasmo, talvez até substituísse sua crença nos “horóscopos da vida” em algo mais palpável, seu esoterismo era apenas uma versão rústica para nossa ciência. Não encontrei vestígios de preconceito de cor, porém, em dado momento fica claro que os amarelos, japoneses, são criaturas para serem evitadas, também temos o sexismo da época, de forma mais branda, mulheres fazem parte de um lugar especial, participam do mundo, mas tomam seu lugar separado, almoçam separadas e, embora possam participar de guerras, parece que seu papel é bem específico como parideiras, crianças são colocadas no mesmo posto limitado das mulheres.

Não pude deixar de rir com as tentativas de falar sobre o sexo, Campanella parece ter uma sociedade destituída de amor livre, é tudo arquitetado, homens e mulheres não podem ficar com quem quiser, somente líderes trazem o direito de desfrutar de pessoas belas; há o da consenso de pureza, homens são “prometidos” para certas mulheres, ninguém pode transar desvairadamente, o sexo é quase ritual, com direito a rezas aos céus e tudo mais, achei engraçado como ele coloca os sábios como líderes do povo, uma sociedade “democrática”, mas os sábios não trazem o instinto sexual, tanto que para eles, quanto mais inteligente, menos excitação se tem, por isso que as pessoas mais fogosas são destinadas aos homens sábios, esses não conseguem uma prole com energia, só uma pessoa muito fogosas para despertar neles esse vigor para gerarem descendentes excepcionais. Existe a lei da pureza porque tanto homens quanto mulheres não podem transar até certa idade, os homens, numa visão machista, trazem certas regalias, podem procurar mulheres estéreis ou grávidas, enquanto para mulheres não é recomendado se largar na devassidão. A sociedade sexual de Campanella foi o que mais me atraiu, tudo bem organizado, cheio de rituais de excitamento, regras sobre como e para quem dar, e claro, os gays não são bem vindos, se o homem quiser transar e não achar mulheres grávidas ou estéreis, não podem se largar na luxúria do próprio sexo, caso contrário andarão com sapatos no pescoço, para mostrarem que colocaram os pés pelas mãos.

Há regras de guerra, mas a Cidade do Sol é um povo tão “evoluído” que eles treinam diariamente só para proteção; existem penas estranhas, pessoas precisam se sacrificar em determinado momento, mas o sacrifício não acarreta morte, apenas humilhação e jejum, saindo o sacrificado como mártir e em status maior. Parece que na maioria dos casos a dignidade é respeitada, mas tem aquela barreira da crença, do machismo, e é claro, os homens no poder são religiosos, tudo gira em torno da adoração a Deus e à liberdade. O líder não é eleito pelo povo, é o mais sábio do povo, a inteligência é admirada e incentivada, todos são criados para serem sábios, se surgir outro homem sábio o líder deixará seu posto por vontade e dará seu lugar ao sucessor. Não sei se vivemos em um mundo terrível, mas nada do que li parece viável em nosso dia, ele cria suas regras de acordo com uma sociedade de homens nobres e humildes, onde ninguém precisa de nada, todos têm o que precisam e são gratos por ajudarem uns aos outros, isso seria lindo, mas não vejo possibilidade de uma sociedade de homens tão nobres e sem interesses de grandeza. A humildade dele logicamente vem de Deus, mas isso exclui qualquer outra crença, portanto, um herege seria terrivelmente humilhado em sua terra, que não pareceria mais tão justa. Concordo que o povo não tem capacidade para escolher seu líder, mas não acho que um líder deixaria o poder se encontrasse alguém melhor... Em sua Cidade do Sol seria possível, já que desde criança todos são educados a serem gentis, corteses, educados, sábios e inteligentes, com tantas virtudes é claro que o futuro líder pensaria no bem de todos e não em seu poder... Inviável... Simplesmente inviável... E eu não gostaria de viver nesta cidade.

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